No ano de 2022, segundo os dados mais recentes sobre o tema divulgados até o momento, a construção civil gerou cerca de 120 milhões de toneladas de entulho no Brasil. Se você achou esse número alarmante, saiba que não para por aí.

A informação é da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) e traz uma informação ainda mais impactante: grande parte destes resíduos (alguns bons milhões) são descartados de forma clandestina em rios, mares, lagoas, terrenos baldios e até mesmo na rua. 

Para conversar sobre como é possível fazer o descarte de entulho das obras corretamente, conversamos com Levi Torres, Coordenador da Abrecon. Continue lendo e entenda como fazer o descarte desses materiais de forma adequada!

A importância do descarte correto dos materiais de construção

O descarte incorreto de qualquer tipo de lixo gera danos irreversíveis ao meio ambiente. No caso da construção civil, onde grande parte dos entulhos pode ser reciclada ou reutilizada, o descaso em abandonar os materiais é ainda maior.

“Os descartes clandestinos e ilegais de lixo e entulho desvalorizam bairros e cidades, além de onerar o poder público e o cidadão”, inicia o Coordenador da Abrecon, Levi Torres.

O especialista destaca que para cada metro cúbico descartado de forma irregular, a prefeitura gasta aproximadamente R$150 para remover e destinar o material. “É dinheiro do contribuinte sendo jogado fora”, aponta.

Ainda conforme Levi, no Brasil, o setor da construção civil gera mais de 100 milhões de toneladas de entulhos e apenas pouco mais de 20% deste montante recebe um destino correto.

“O restante dos resíduos, que são gerados em construções, demolições, reformas e reparos, são destinados a aterros clandestinos, pontos viciados e locais desconhecidos”, informa o entrevistado.

Como fazer o descarte correto de resíduos da obra

1. Reciclagem

A reciclagem é uma excelente forma de destinar os resíduos da construção civil. De acordo com Levi Torres, a Abrecon classifica os resíduos recicláveis em dois grupos:

“No primeiro grupo estão os materiais compostos de cimento, cal, areia e brita: concretos, argamassa, blocos de concreto. Já no segundo grupo estão materiais cerâmicos, como telhas de concreto, manilhas, tijolos, azulejos, etc.”, exemplifica.

No terceiro grupo elencado pela Abrecon estão os resíduos não-recicláveis: solo, gesso, metal, madeira, papel, plástico, matéria orgânica, vidro e isopor.

2. Reutilização

A reutilização também é uma maneira eficaz de destinação dos entulhos da construção civil. Alguns trabalhadores utilizam equipamentos portáteis que trituram o resíduo para, posteriormente, ser reutilizado em concretos não-estruturais.

3. Doação

Tintas, solventes e vernizes são resíduos considerados perigosos e altamente poluidores.

Nestes casos, a doação é uma alternativa para evitar o descarte indevido. Outras pessoas podem estar precisando destes materiais e podem reutilizá-los em suas próprias obras.

Além destes, outros materiais das obras podem ser doados para serem utilizados em outras construções. 

4. Empresas especializadas

Atualmente existem muitas empresas especializadas que trabalham com o descarte de entulhos da construção civil. 

“O ideal é que o engenheiro ou engenheira faça a gestão dos resíduos no próprio canteiro de obra, seja planejando as fases de geração dos resíduos ou construindo locais específicos para a colocação de cada tipo de resíduo, tais como recicláveis, rejeitos e perigosos”, aconselha o Coordenador da Abrecon. 

Levi completa: “Alguns resíduos podem ser aproveitados na própria obra, outros, se separados, podem ser mais baratos para destinar. O importante é entender quanto a construção vai gastar com a destinação dos resíduos e, na obra, organizar o canteiro de forma a não gerar em excesso”, aponta.

5. Caçambas e ecopontos

Em obras de pequeno porte é possível contratar o serviço de transporte, como as caçambas, ou então procurar o serviço de Ecoponto que em muitos municípios é ofertado de forma gratuita. 

São Paulo, Curitiba e Belo Horizonte: exemplos a serem seguidos

Algumas cidades brasileiras já se destacam como referência quando o assunto é a gestão e o descarte correto do entulho de obras.

São Paulo, por exemplo, possui o Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil, que inclui pontos de entrega voluntária espalhados pela cidade e políticas que incentivam o reaproveitamento de materiais.

Essa iniciativa não apenas facilita o descarte adequado para a população e empresas, como também reduz a quantidade de resíduos enviados a aterros, estimulando a economia circular no setor da construção civil.

Outro exemplo positivo vem de Curitiba, conhecida por suas práticas de sustentabilidade urbana.

A cidade implementou sistemas de coleta e triagem que permitem a destinação correta dos resíduos de obras, com incentivo à reciclagem e ao reaproveitamento. 

Já Belo Horizonte, capital mineira, também adota políticas eficazes, com regulamentações que obrigam a apresentação de planos de gerenciamento de RCC em novas construções e reformas, promovendo maior responsabilidade por parte das construtoras e profissionais.

Esses modelos mostram como políticas bem estruturadas podem transformar um problema ambiental em oportunidade de desenvolvimento sustentável.

A legislação de descarte de resíduos da construção civil

A legislação responsável por regulamentar o descarte de resíduos da construção civil é a Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº 307, de 05 de julho de 2002

Esse marco normativo estabeleceu diretrizes para a gestão dos resíduos da construção civil (RCC), classificando-os em diferentes categorias e determinando critérios para a separação, transporte e destinação final.

Com o passar dos anos, a resolução passou por alterações importantes para se adequar à realidade do setor.

A Resolução CONAMA n.º 348/2004 incluiu resíduos de gesso na classificação; a Resolução n.º 431/2011 redefiniu algumas categorias de resíduos para facilitar a destinação; e a Resolução n.º 448/2012 aprimorou a responsabilidade dos geradores.

Além disso, é importante destacar que o tema se conecta diretamente com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela lei n.º 12.305/2010.

A norma trouxe os princípios fundamentais como a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, a logística reversa e a prioridade para não geração, redução, reutilização e reciclagem dos resíduos.

Mais recentemente, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), lançado em 2022, reforçou a necessidade de integração entre municípios, estados e União para garantir a destinação ambientalmente adequada dos resíduos, incluindo os da construção civil.

“Ainda que seja óbvio, muita gente acha que a responsabilidade sobre os resíduos acaba no momento em que a caçamba sai da obra”, explica o convidado.“De acordo com a Resolução CONAMA n.º 307, o gerador é responsável pelo resíduo até a sua destinação, ou seja, caso se descarte de forma clandestina ou irregular, o cliente gerador estará sujeito às penalidades previstas na lei”, completa.

Checklist para descarte correto de entulho em pequenas obras

Quer saber como destinar corretamente os resíduos acumulados em obras de novas construções ou reformas? Veja o passo a passo:

  • Contratar empresa licenciada para coleta e transporte de resíduos, garantindo conformidade com a legislação ambiental.
  • Separar os resíduos na obra, distinguindo materiais recicláveis (como madeira, metais e plásticos) dos não recicláveis.
  • Utilizar caçambas credenciadas pela prefeitura ou órgão ambiental competente.
  • Evitar mistura com lixo doméstico, que deve seguir outro fluxo de coleta.
  • Registrar o transporte dos resíduos, mantendo comprovantes fornecidos pela empresa coletora.
  • Priorizar a reciclagem e reutilização de materiais quando possível.
  • Destinar corretamente resíduos perigosos (como tintas, solventes e amianto), seguindo as normas específicas.
  • Verificar os pontos de entrega voluntária (PEVs) disponibilizados em algumas cidades.
  • Cumprir as exigências do Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC), quando aplicável.
  • Manter a obra organizada, reduzindo riscos de descarte irregular e melhorando a eficiência no manejo dos entulhos.

Conheça as últimas inovações sobre o tema

A tecnologia vem revolucionando a forma como os resíduos da construção civil são gerenciados.

Hoje já existem aplicativos que permitem o rastreamento em tempo real das caçambas utilizadas nas obras, além de facilitar a emissão do Manifesto de Transporte de Resíduos (MTR), documento essencial para garantir a conformidade legal no descarte.

Essas soluções digitais aumentam a transparência e a segurança do processo, reduzindo práticas irregulares e oferecendo maior controle tanto para as empresas quanto para os órgãos fiscalizadores.

Outro avanço são as plataformas digitais de logística reversa e marketplaces de resíduos, que conectam geradores a empresas de reciclagem e reutilização, criando uma rede mais eficiente e sustentável.

Além da tecnologia, a economia circular tem ganhado espaço na construção civil como forma de transformar o problema dos resíduos em oportunidade.

Cada vez mais, resíduos como entulho e sobras de concreto estão sendo reaproveitados como matéria-prima para novos produtos, como blocos de concreto reciclado, brita ecológica e pisos drenantes que melhoram a permeabilidade urbana. 

Esse movimento diminui a pressão sobre aterros sanitários e reduz a extração de recursos naturais, estimulando um ciclo produtivo mais sustentável. Trata-se de uma tendência que une inovação, responsabilidade ambiental e viabilidade econômica para o setor da construção.

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