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Mulheres na engenharia: Íria Doniak

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A presidente da ABCIC encerra nossa série de entrevistas especiais com importantes mulheres que fazem a diferença na engenharia brasileira. Leia a conversa completa!

Na quarta e última entrevista de nossa série especial sobre mulheres na engenharia, tivemos a honra de conversar com Íria Doniak, presidente executiva da ABCIC – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto.

Íria está à frente de uma das mais importantes entidades da construção civil brasileira e fecha nossas comemorações do Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, que foi celebrado no último dia 23 de junho.

Continue lendo para conhecer mais da trajetória e carreira desta importante mulher da engenharia de nosso país!

Quem é Íria Doniak?

“Uma pessoa simples, com muita fé em Deus, e apesar de muitas vezes distante por questões profissionais, dedicada à família. Meu porto seguro. Casada há 34 anos com meu parceiro de vida, também engenheiro (nos conhecemos na universidade), mãe de dois filhos, uma filha Engenheira Civil, projetista de estruturas e professora, e um filho Engenheiro Agrônomo formado recentemente e concluindo também Medicina Veterinária. 

Gosto muito de viajar, conhecer novas culturas, arte, cinema e literatura. Tenho prazer em trabalhar tanto na ABCIC quanto no campo, sempre que posso nos finais de semana, a natureza e seus ensinamentos simples me fascinam. Uma escapada até Guaratuba, no litoral do Paraná, apreciar a linda baía, relaxar também é muito bom.”

Como é seu dia como presidente da ABCIC?

“Intenso! Numa associação, além de termos muitas áreas de atuações distintas, desde temas técnicos de normalização e desenvolvimento até de relações institucionais e governamentais, divulgação, comunicação e a própria gestão da organização. 

Diferentemente de uma companhia, uma entidade é formada por empresas e profissionais de constituição e origem distintas, que precisam estar integrados e motivados a permanecer neste ambiente, a colaborar com as causas propostas tanto financeiramente quanto com sua participação. 

Criar condições favoráveis exige muita criatividade e trabalho que realizo através das diretrizes e apoio do Conselho Estratégico (eleito), contando com diretorias voluntárias e com uma equipe operacional, além de terceiros, como jurídico, contabilidade, assessoria de imprensa e comunicação. 

Relacionamento, eu diria que é a palavra-chave, aliada a visão sistêmica que permite enxergar o todo e atuar em todos os contextos. O maior desafio é manter tudo funcionando e inovar ao mesmo tempo.”

Trajetória: O que te levou ao mundo da industrialização da construção?

“Formei-me em engenharia civil na PUC-PR há mais de 30 anos. Fiz estágios na Bianco Tecnologia de Concreto, pioneira no Sul nesta atividade, e na Usimix, empresa de concreto usinado, com usinas no Sul do país e São Paulo. Fui responsável pelo laboratório central, onde saía todo o controle de qualidade das 16 usinas. Aprendi muito sobre centrais, equipamentos, logística, controle do concreto. 

Dois anos após, fui convidada a trabalhar na Votorantim. Meu trabalho estava voltado principalmente ao desenvolvimento de novas tecnologias como a indústria do pré-fabricado de concreto, a alvenaria estrutural, barragens em CCR e o pavimento rígido. Também de novos materiais em P&D posteriormente, argamassas industrializadas e cimentos especiais como os resistentes a sulfatos. 

Foi uma época também de aprender algo além da técnica e passar a ter uma visão de gestão.  Nesta época também integrava a equipe de facilitadores e auditores internos da ISO 9001 da empresa, o que posteriormente permitiu me qualificar como auditora líder junto ao BVQI (Bureau Veritas Quallity International). 

Em 1997, em função de algumas oportunidades, acabei iniciando um trabalho de consultoria com algumas empresas, entre elas a Cassol Pré-Fabricados e também atuando junto ao BVQI, cuja época era de muitas auditorias do SIAC/PBQP-h e ISO no mercado imobiliário e em grandes obras. 

Em 2001, incubada pela ABCP, foi fundada a ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) e em 2003 começou a ser estruturado o Selo de Excelência Abcic, de cujo “petit comité" passei a integrar, representando a Cassol. 

A associação estava crescendo e com uma proposição importante de aprimoramento técnico do setor e passei também a atuar como consultora da entidade, até que recebi a proposta de ficar integralmente para profissionalizar a entidade e a condução do setor. 

Pensei a respeito e vislumbrei a oportunidade de mais do que um trabalho, assumir uma missão na qual o poderia aplicar todos os conhecimentos oriundos da formação eclética que havia tido a oportunidade de estruturar ao longo da minha vida profissional. 

Especialmente dar minha contribuição para o país num tema que acredito que é o aumento da eficiência e produtividade da construção civil brasileira através da industrialização unindo o concreto que é uma paixão foi uma grande motivação.”

Como você enfrentou e enfrenta os desafios da sua carreira?

“Fugindo do imediatismo, aproveitando cada oportunidade como se fosse única e sendo grata a todas elas. Nem tudo é o que parece ser muitas vezes, prudência e discernimento são essenciais, embora praticar seja um grande exercício. 

Não dar margem por muito tempo a frustração quando algo não acontece como gostaria ou foi planejado, lidar com ela por vezes não é fácil, crescer com ela e utilizar como aprendizado e não como sentença é vital. Tenho um grande amigo que costuma dizer ‘o que não nos mata nos faz forte’”.   

Quais qualidades te levaram ao sucesso?

“Prefiro a palavra êxito ao sucesso. O sucesso é momentâneo, o êxito tem base em princípios e é sustentável.  No campo existe um princípio simples que presenciamos a cada colheita: o resultado da semeadura. Colhemos o que plantamos e cuidamos. Tudo o que sabia era que com esforço e dedicação os resultados seriam obtidos a despeito das adversidades. 

Assim como nunca vi crise como impedimento para realizar meus sonhos, talvez por ter passado parte da minha infância no meio rural, aprendi a respeitar as pessoas em todos os níveis e a interagir com todos, num meio em que também era essencialmente masculino. 

Acredito que isto também fez com que não me preocupasse muito com a questão das mulheres no mercado de trabalho, embora me sensibilize com a causa e batalhe por ela. Não tive dificuldades para encontrar estágio e posteriormente trabalho. Por princípio, não por competição, sempre tive um espírito voltado a fazer o que era preciso e a entregar mais do que era solicitado, com foco no resultado e não no tempo. 

Tinha o desejo de ser conhecida por mim mesma e não apoiada no que havia sido a conquista da minha família. Ouvir e aprender com todas as pessoas, aprendi muito com os motoristas dos caminhões das usinas de concreto, com os mecânicos nas oficinas, com os operários das indústrias, com grandes executivos ou consultores técnicos de elevada graduação, todos de alguma forma me ensinaram algo e foram importantes na jornada. 

Determinação e vontade de aprender creio são outros dois aspectos importantes, não sabemos tudo e não fazemos nada sozinhos, estudar muito sempre e construir um “networking” sólido e desenvolver parcerias é pauta constante na agenda. 

Além do lado técnico de minha formação e histórico profissional, a dedicação no campo institucional, onde integro conselhos de entidades brasileiras como IBRACON, SINAPROCIM e FIESP e no âmbito internacional a fib (International Federation for Structural Concrete)  onde recentemente fui eleita vice-presidente, fizeram com que recentemente eu buscasse maior qualificação em outro campo o de Relações Institucionais e Governamentais (RIG), e por esta razão em 2022 conclui o  MBA da Fundação Getúlio Vargas em Economia com ênfase nesta área. 

Atualmente, como estudante da Universidade de Bordeaux – França, me dedico a um doutorado em administração cuja tese está voltada para organizações sem fins lucrativos. É uma nova maneira de devolver ao meio o que dele tenho recebido é importante pensar num legado que possa contribuir com a sociedade, com um país, com o planeta.  

Gostaria aqui, ao encerrar, de lembrar dos meus amigos e dos meus mentores presentes nesta jornada, com uma frase de Isaac Newton: ‘Se cheguei até aqui (ou se enxerguei mais longe, segundo algumas versões), é porque me apoiei no ombro de gigantes’”.

Siga conosco! Leia agora a entrevista anterior de nossa série, com Ana Laura M. Cruz, COO da Oncrets.

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