A quarta entrevista da série Mulheres na Construção traz a história e trajetória inspiradoras de Cenira de Moura Nunes, engenheira química e atual gerente geral de Meio Ambiente na Gerdau.
Com 20 anos de atuação na mesma empresa, Cenira conta o que a levou a cursar Engenharia Química e como é o dia a dia na liderança de um setor da maior empresa recicladora de aço da América Latina. Veja a seguir!
Quem é Cenira Nunes?
“Nasci em uma família simples do subúrbio do Rio de Janeiro que me ensinou que olhar para o mundo com empatia, respeito e curiosidade nos leva a lugares que sequer sabíamos que existiam.
A educação, encarada como um caminho de evolução, fez-me acreditar que os títulos são mais do que quadros na parede; representam oportunidades para conhecer visões diferentes.
Ao formar meu núcleo familiar, encontrei um companheiro que me incentivou a ser e fazer o que me proporciona crescimento profissional e pessoal.
Nossa filha, o grande amor de nossas vidas, tem demonstrado ser alguém sensível e extremamente observadora do mundo ao seu redor, e demonstra interesse em ser um instrumento de transformação da sociedade.
Acredito que somos definidos pelas relações que temos com os outros. Por isso, diria que a Cenira é uma pessoa guiada pela paixão pelas pessoas e pelo planeta, pelo desejo de fazer parte de algo maior e pela crença na evolução da sociedade através da educação e da sustentabilidade.
É assim que promovo minha atuação como gerente geral de Meio Ambiente na Gerdau, maior empresa brasileira produtora de aço”.
Como é um dia de gerente geral de Meio Ambiente na Gerdau?
“Cada vez as discussões são aprofundadas no tema com a sociedade reconhecendo que a questão ambiental é essencial para moldar um futuro sustentável.
Neste contexto, minha função exige uma constante atualização dos estudos, tendências e regras que surgem, além da implementação de uma tradução para a estratégia de longo prazo da Gerdau e seu desdobramento em ações práticas para a operação.
A Gerdau é a maior recicladora de aço da América Latina, transformando 11 milhões de toneladas de sucata em diversos produtos de aço por ano. A companhia também é a maior produtora de carvão vegetal do mundo, com mais de 250 mil hectares de base florestal no estado de Minas Gerais.
Como resultado de sua matriz produtiva sustentável, a Gerdau possui, atualmente, uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa (CO₂e), de 0,86 t de CO₂e por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor, de 1,91 t de CO₂e por tonelada de aço (worldsteel).
E sabemos que não podemos parar de evoluir. A Gerdau pretende, em 10 anos, ser uma das empresas da cadeia de aço mais rentáveis e admiradas no mundo, além de uma das mais relevantes das Américas. Além de termos como meta para 2031 diminuir as emissões de carbono para 0,82 t de CO₂e por tonelada de aço.
Para contribuir com essa aspiração, minha principal função é buscar constantemente a melhoria de nossas práticas de sustentabilidade, atendendo aos questionamentos mais frequentes e abundantes de nossas partes interessadas.
O objetivo é que a Gerdau forneça este produto essencial para a evolução da sociedade que é o aço, minimizando os impactos sociais e ambientais de seu ciclo de vida, gerando valor sustentável ao longo de sua cadeia”.
Trajetória: o que te levou ao setor de Engenharia Química e Sustentabilidade?
“A velha máxima de que eu não escolhi a Engenharia e a sustentabilidade, mas fui escolhida, é válida na minha trajetória.
Pensando em um futuro melhor para nossa família, fui incentivada pelos meus pais a cursar a graduação técnica em Química, que me proporcionaria um estudo em escola pública de qualidade e me habilitaria a entrar no mercado de trabalho mais cedo.
Iniciei minha vida profissional aos 17 anos em uma indústria de alumínio na área de análises e gestão de controles ambientais e fui me apaixonando pela área.
Tive oportunidades de evolução neste primeiro emprego, fazendo a transição de uma função mais operacional para gerencial, atuando em licenciamentos ambientais, liderando equipes e implementando normas ISO.
Após 8 anos nessa experiência e já formada como engenheira química, entrei como trainee na Gerdau. Já com 20 anos de casa, diria que nunca parei de evoluir e expandir meus conhecimentos na carreira.
Tive a oportunidade de participar da transição da visão ambiental voltada ao atendimento legal e regras para um direcionamento de negócios e visão de longo prazo das organizações que buscam se tornar cada vez mais sustentáveis para suas partes interessadas”.
Como você enfrentou e enfrenta os desafios da sua carreira?
“Com muito bom humor e baseando-me em uma cadeia de ajuda, acredito que carreiras bem-sucedidas não são construídas sozinhas.
Contar com profissionais na equipe e em outros times que possam contribuir para as metas da empresa de forma colaborativa e competente é essencial para alcançar resultados superiores, e isso é perceptível em uma empresa como a Gerdau, que conta com mais de 30 mil colaboradores em suas operações.
Tratar os problemas com transparência e respeitar o conhecimento dos colegas gera soluções mais rápidas e efetivas.
Este conceito também se aplica à vida pessoal, que é a base da profissional. Sempre tive o apoio e o incentivo da minha família para manter a dedicação ao trabalho sem perder o convívio saudável com meu marido, filha e amigos. Aliás, é daí que vem a fonte do bom humor para enfrentar os desafios da vida”.
Quais qualidades te levaram ao sucesso?
“Acredito que o interesse genuíno pelo outro e a vontade de ouvir de forma verdadeira as experiências de todos são essenciais. Busco construir um ambiente seguro para que todos possam contribuir e somar.
É incrível como sempre há uma oportunidade que não vislumbramos ou uma solução que não passou pelo nosso raciocínio. Para captá-las, basta incentivar e valorizar a opinião das equipes”.
Liderança: que dicas você daria para novas engenheiras que querem seguir a carreira de sustentabilidade?
“Trabalhar na área de sustentabilidade demanda uma visão sensível e abrangente dos desafios enfrentados pela humanidade.
As novas engenheiras que pretendem seguir esse caminho devem desenvolver uma visão estratégica da sustentabilidade, visando gerar valor para a construção de um futuro saudável para as pessoas, empresas e o planeta.
Para trilhar esse caminho profissional, é essencial estudar profundamente as tendências não apenas nas áreas sociais, ambientais e de governança, mas também compreender como os negócios serão moldados a médio e longo prazo.
Por questões pessoais e devido à estrutura da sociedade em que cresci, em muitos momentos duvidei do meu potencial como profissional, mulher, mãe e companheira. Por isso, afirmo que: acima de tudo, as novas engenheiras devem empoderar-se de suas habilidades e construir seus caminhos com segurança e competência.
Vejo a Gerdau como um ponto fora da curva no setor industrial, promovendo iniciativas e programas de desenvolvimento, capacitação e acolhimento para a formação de mulheres, aprofundando também no posicionamento de mulheres na liderança”.
Continue acompanhando a série comemorativa ao Dia Internacional das Mulheres. Leia a entrevista anterior Mulheres na Construção: Ana Paula Andrade!