Se você adentrar uma sala do curso de engenharia de qualquer instituição de ensino do País, a possibilidade de que a proporção de alunos homens seja consideravelmente maior do que de alunas mulheres é alta.
Como exemplo, um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (Confea) apontou que, na época, o número de mulheres engenheiras no Brasil era de 14,5% do total.
Emily Warren Roebling foi a primeira mulher que entrou para a história da Engenharia Civil. Apesar de não ter curso superior, ela assumiu a responsabilidade de construir a ponte do Brooklyn, em Nova York, após a morte do marido, em 1872.
Para falar mais sobre esse assunto tão importante, conversamos com a Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho, Mainara Dall’Agno. Atualmente, ela trabalha na área de Qualidade e Segurança do Trabalho na empresa Sular Móveis Corporativos.
Vamos entender como funciona, na prática, a entrada das mulheres no campo da engenharia. Continue conosco e boa leitura!
Presença de mulheres nos cursos de engenharia
Lembra daquela sala de aula com efetiva disparidade entre a presença de homens e mulheres que comentamos no início deste artigo? Foi neste cenário que Mainara se viu inserida no início de sua graduação.
Ela lembra que o medo da reação dos homens neste meio de desigualdade a acompanhou logo nos primeiros dias do curso.
“Estava um pouco aflita justamente por medo dos julgamentos machistas, mas tive muitas surpresas positivas. Na faculdade tive poucas colegas mulheres, porém a maioria se destacava pela sabedoria e inteligência”, recorda.
A capacidade de desempenhar mais de uma tarefa ao mesmo tempo, característica feminina, foi algo que chamou a atenção dos colegas de Mainara no decorrer do curso.
“Eu fazia até oito cadeiras por semestre e meus colegas homens não entendiam como eu dava conta de trabalhar e estudar. Acho que essa capacidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo é uma grande qualidade da mulher e, na engenharia, onde aprendemos a criação e o desenvolvimento em prol da Tecnologia, as mulheres ganham a frente”, opina.
Desafios das mulheres no mercado de trabalho
Sair dos bancos da universidade e enfrentar o mercado de trabalho, às vezes com pouca experiência, é uma tarefa difícil para a grande maioria dos recém-formados. Para Mainara, o ponto crítico de sua carreira foi precisamente a entrada no mercado de trabalho.
“Por ser um trabalho muitas vezes mais ‘pesado’, o mercado prefere homens. No meu caso que é a construção civil, para lidar com o pessoal da obra tem que ter muito jogo de cintura e, muitas vezes, as mulheres se tornam vulneráveis a isso”, relata.
Por causa desta discriminação existente entre os profissionais homens e mulheres, muitas delas acabam voltando seus esforços para a área de gestão.
“É por conta disso que hoje grande parte das engenheiras formadas migram para a área da gestão, onde não são tão vistas quanto quem está na linha de frente”, aponta Mainara.
Importância da diversidade no canteiro de obras
Quanto à importância da diversidade no canteiro de obras, a especialista aponta um quesito importante: a ergonomia no trabalho.
“No canteiro de obras ainda há uma desproporcionalidade entre homens e mulheres. Por se tratar de um trabalho pesado, existem exigências normativas a serem seguidas e, de fato, é comprovado que homens e mulheres têm portes diferentes e, portanto, não possuem a mesma capacidade física para erguer peso, puxar, empurrar”, exemplifica Mainara.
Ela reforça que, mesmo muitas mulheres não estando efetivamente nas obras realizando o trabalho braçal, elas podem estar nos bastidores desempenhando uma atividade tão importante quanto.
“Esse não é um motivo para descartar a presença da mulher no canteiro de obra, mas sim gerar oportunidades diferentes como gestora de obras, calculista, profissional da Segurança do Trabalho, no qual as mulheres são profissionais chaves para o rendimento”, sugere.
Como estimular mulheres a assumirem cargos de liderança na engenharia?
Apesar da disparidade ainda existente, a dica da especialista para as mulheres que querem entrar no ramo da engenharia, é focar em três fatores: esforço, sabedoria e conhecimento.
Por ser uma área de muitas responsabilidades, o aprimoramento, mesmo depois da conclusão do curso, é fundamental.
“Precisamos aprender mais diariamente, assim nos tornamos profissionais, caso contrário seremos apenas mais uma no mercado. A minha dica como mulher na engenharia é: mostre o seu poder, a sua capacidade, evolua diariamente e acredite que você pode chegar ao topo e, além de tudo, calçando saltos altos!”, finaliza nossa convidada.
Quer saber mais deste tema tão importante? Aproveite e leia também nosso artigo sobre diversidade, equidade e inclusão na construção civil.