As usinas eólicas representam atualmente mais de 11% do total da energia produzida no Brasil, segundo informações do Ministério de Minas e Energia.
Sustentável, o modelo vem ganhando cada vez mais espaço, e recentemente recebeu mais um incentivo com a promulgação do decreto nº 10.946/2022, que oficializa a possibilidade de parques eólicos offshore, na costa ou no mar.
Com a decisão, crescem as possibilidades para a construção de pátios eólicos offshore. Mas como tais projetos são realizados?
Para sabermos mais, conversamos com Elbia Gannoum, presidente-executiva da ABEEólica - Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias.
Confira abaixo nossa entrevista com a especialista!
Como funciona a construção de pátios eólicos offshore e quais são os equipamentos necessários para estes projetos?
Elbia Gannoum: “A construção de um projeto de eólica offshore possui fases fundamentais para sua viabilização. A literatura existente apresenta diferentes abordagens para estas fases, mas que são comumente conhecidas por (1) Pré-Desenvolvimento; (2) Desenvolvimento e Operação; e (3) Pós-Operação.
Na fase de (1) Pré-desenvolvimento, algumas etapas associadas à definição e prospecção de área, bem como obtenção de licenças e a realização de estudos são consideradas para execução desta etapa que envolve também um projeto de engenharia.
Já a fase de (2) Desenvolvimento e Operação, etapas de aquisição dos componentes, instalação, comissionamento e operação e manutenção são cruciais para esta fase, envolvendo a aquisição de equipamentos e componentes até a realização de medições e a estruturação de fundações e subestações para as eólicas.
Por fim, a fase de (3) Pós-Operação, envolve o descomissionamento e repotenciação dos projetos, abarcando a desmontagem dos componentes, manutenção para repotenciar um projeto e a gestão e limpeza de resíduos do local dos projetos.
A imagem abaixo resume as etapas mencionadas:
Além disso, ressalta-se que os principais componentes de um aerogerador de energia eólica offshore são: rotor, torre, conversor de energia, fundações e nacele. Estes componentes abarcam uma série de outros subcomponentes. Dentre esses subcomponentes alguns exemplos são: pá, estrutura de torre, parafusos, gerador, transformados, rolamentos, anemômetros etc.”
Quais as oportunidades para a construção de parques eólicos na próxima década?
Elbia Gannoum: “É importante ressaltar que ainda não estamos nessa etapa de construção e só devemos ter os primeiros parques offshore no fim da década. No momento, nossos esforços estão em discutir com governo, investidores, empresas e sociedade sobre a regulamentação para energia eólica offshore.
A ABEEólica está trabalhando em seu estudo da Cadeia de Valor de Energia Eólica Offshore com o objetivo de fornecer proposições e caminhos às agências reguladoras e órgãos competentes para o cálculo do valor devido à União pelo uso do bem público, baseando suas premissas nos principais modelos internacionais. O estudo ainda está em fase de produção, mas brevemente trará direcionamentos para a estruturação de futuro normativo.
Adicionalmente, destaca-se que as capacidades e competências das empresas de petróleo e gás podem colaborar com a transferência de conhecimentos não só regulatório, mas também visando o desenvolvimento de projetos no mar.
Ressalta-se que empresas como Petrobras, Equinor, Total Energies e Shell têm participado ativamente das discussões para compartilhar caminhos regulatórios que colaborarão com a criação destes normativos complementares para o setor de energia eólica offshore, aliando conhecimentos de dois tipos de indústrias. Estas empresas estão sendo consideradas e consultadas na edificação do estudo da ABEEólica e diretrizes discutidas no Grupo de Trabalho de Eólicas Offshore da associação.
Como mencionado, em dez anos possivelmente já teremos eólicas operando no mar. Importante, no entanto, considerar que este é um cenário que envolve muitas variáveis. Estamos atualmente em fase de regulamentação, teremos ainda a fase de detalhamento dos estudos ambientais já entregues ao IBAMA, mapeamento das áreas, leilões de cessão e depois teremos leilões de energia.
Neste processo, há ainda a necessidade de se desenvolver infraestrutura de transmissão, as linhas de financiamento e a cadeia produtiva. Será, portanto, uma década de muito trabalho para todo o setor.”
Quais são os principais desafios da construção de um pátio eólico offshore?
Elbia Gannoum: “Um dos principais desafios está associado à infraestrutura de grande porte, produção de equipamentos muito grandes e que precisam do apoio para a produção em portos para facilitar a instalação no mar.
Outro fator adicional é que são necessários uma série de estudos, considerar também potencial eólico da região, estudos de prospecção de área, impactos na biodiversidade e ecossistema marítimos como, por exemplo, impactos para rota migratória dos animais e se haverá emissão de sons prejudiciais para a comunicação dos animais.
Também é preciso analisar impactos para outras atividades, como a pesca, atividades de turismo e rotas marítimas já estabelecidas.”
Como se dá o uso de concreto nas torres eólicas offshore?
Elbia Gannoum: “O concreto pode ser utilizado na instalação de torres eólicas offshore na fundação ou estrutura de suporte para uma torre eólica marítima.
Em seu projeto são levadas em consideração as condições específicas da área na qual será montada a turbina eólica, assim como as vantagens e, ainda, as desvantagens de cada fundação (RIBEIRO, 2015). Segundo Silva (2014), a fundação é a construção que vai fazer a conexão entre o aerogerador e o solo.
Deste modo, irá sustentar não somente as cargas estáticas (como o peso do aerogerador), como também as dinâmicas (como as rajadas e os sismos). De acordo com o autor, as fundações dos aerogeradores deverão sustentar principalmente forças horizontais aplicadas pelo vento, enquanto que grande parte das infraestruturas em Engenharia Civil é planejada para sustentar cargas verticais.
Por esse motivo, é possível definir a fundação como não somente a estrutura de suporte de um aerogerador, mas também a metodologia de fixação empregada.”
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