Se existe um caminho para que o mundo ainda consiga se salvar do iminente colapso ambiental, é através da diminuição do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. E a conscientização e mudanças no setor da construção podem ser o maior diferencial do planeta pode ter essa segunda chance.

Isso porque, segundo a Engª Michelle Nespoli, gerente ESG da região LATAM da Sika, o setor de construção é responsável por 40% das emissões globais de CO2 na atmosfera. A profissional apresentou o painel “Sustentabilidade e Net Zero” em agosto na 14ª edição do Concrete Show, durante o 15º Seminário de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho da ANAPRE.

“Sustentabilidade é uma questão de viver em equilíbrio: conseguir utilizar os recursos que temos para movimentar a economia, mas não de maneira descontrolada”, definiu Michelle. A definição mais utilizada de sustentabilidade, entretanto, é “atender as necessidades das gerações atuais sem comprometer as necessidades das gerações futuras”.

Mas vale destacar que a sustentabilidade em empresas não se faz sozinha, visto que ela é um dos pontos dentro da ESG, sigla em inglês para “sustentabilidade ambiental, social e governança corporativa”, uma ferramenta para definir os fatores que impulsionam o desempenho da própria sustentabilidade. Isso significa que se uma companhia deseja ser mais verde, ela deve trabalhar igualmente esses três conceitos. 

Meta Net Zero do setor de construção

A meta deve ser o Net Zero (Net Zero Carbon Emissions), que objetiva zerar as emissões líquidas de emissão de dióxido de carbono na atmosfera. Segundo o Acordo de Paris (2015), também é necessário limitar o aumento das temperaturas médias globais em no máximo 2ºC acima dos níveis pré-industriais até o final desse século, com esforços para atingir o teto de 1,5ºC. No momento, o planeta Terra está 1,15ºC mais quente do que na era antes da industrialização e é possível enxergar os problemas provenientes desse aquecimento, mas ultrapassar os 2ºC seria uma espécie de caminho sem volta.

O Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas (IPCC) alertou em 2018 que, para atingir 1,5ºC, as emissões precisam ser reduzidas entre 40% e 60% até 2030, se comparadas com as emissões dos níveis de 2010. Nesse ritmo, seria possível atingir o Net Zero ainda em 2050.

Aliás, apesar de 0,5ºC parecer pouco, aqui vão algumas diferença na prática: enquanto atingir 1,5ºC resultaria no mar subindo 48cm e atingindo diretamente 46 milhões de pessoas, além da seca prejudicar outras 350 milhões de pessoas, em um aumento de 2ºC o mar subiria 56cm, atingiria quase 50 milhões de pessoas e a seca superaria as 400 milhões de vítimas.

O Net Zero é dividido em metas. Em um primeiro momento, seria o Escopo 1: diminuição da emissão de gases durante a produção e transporte de produtos. No Escopo 2, também é a diminuição da emissão de gases provenientes da geração de energia elétrica, enquanto o Escopo 3 é todo o resto que não se encaixa nos dois anteriores, como a diminuição de gases durante a produção das matérias-primas e nas exportações dos produtos. Com isso, percebe-se que é um efeito cascata onde todas as empresas de uma cadeia produtiva devem realizar a sua parte.

Entretanto, precisamos falar também da neutralidade de carbono, que equilibra as emissões de dióxido de carbono com sua remoção da atmosfera. “É uma diferença prática: no Net Zero vai zerar a emissão, enquanto na neutralidade vai compensar, visto que as emissões continuam acontecendo”, explicou Michelle.

O que as empresas podem fazer para diminuir a emissão de CO2? 

“É uma enorme oportunidade, com imenso potencial de progresso”, disse Michelle, antes de entrar em detalhes sobre as possibilidades.

As construções verdes ganharam espaços nos últimos anos. À medida que a indústria da construção se concentrou em reduzir sua pegada de carbono e adotar abordagens mais verdes, as certificações de construção e produtos tornaram-se cada vez mais importantes. O principal exemplo de construção verde são as certificações LEED, que avaliam o desempenho de sustentabilidade dos edifícios, como sua eficiência energética, a qualidade do ar interior, sistema hidráulico e por aí vai.

Os certificados LEED são obtidos durante a construção – através das instalações, recursos utilizados e benefícios ambientais, etc – e são medidos em créditos: se a obra afeta as mudanças climáticas (35%), impactos diretos na saúde humana (20%), impactos nos recursos hídricos (15%), afetam a biodiversidade (10%), economia verde (10%) e impactos na comunidade e os recursos naturais (5%). 

Para ser certificado, o imóvel precisa alcançar de 40 a 49 pontos, sendo possível acessar a categoria Silver (50-59 pontos), Gold (60-79 pontos) e Platinum (+ de 80 pontos).

Exemplos práticos de como uma construção pode ser verde: 

  • uso de menos água, concreto e cimento (aditivos permitem redução de até 40% do conteúdo de água no concreto); 
  • proteção e economia de água (os sistemas de impermeabilização evitam vazamentos e contaminação em reservatórios e estações de tratamento de água); 
  • soluções de coberturas duráveis e com economia de energia (cobertura verde economizam energia e reduzem efeito da ilha de calor e, para coberturas frias, que reduzem o consumo de energia em até 15%, ao refletir a luz solar, evitando o uso excessivo de ar-condicionado); 
  • e prolongamento da vida útil, aumento da segurança e da eficiência energética das estruturas.

Sobre a durabilidade, Michelle explica o motivo de ser uma construção verde: “Quanto maior a vida útil do edifício, mais demora para demolição e para virar resíduo”.

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