Segundo informações do IBGE, o setor da construção civil deve registrar um crescimento de 4,5% em 2023. O avanço do segmento deve trazer novas oportunidades profissionais, o que demanda mão de obra especializada para atuar neste campo de tanta importância para a economia nacional.
Outro levantamento também do IBGE apontou que em 2019 o país tinha 17,2 milhões de pessoas com alguma deficiência. Ainda segundo o estudo, 7 em cada 10 pessoas com deficiência (PCD) estavam sem trabalho, o que mostra que existe mão de obra que pode ser aproveitada em diferentes áreas, como na construção civil.
Para compreendermos mais, conversamos com Maristela Honda, presidente do Seconci-SP e vice-presidente de Responsabilidade Social do SindusCon-SP, que nos falou sobre como essa parcela da população pode se preparar para atuar neste segmento, além de como as empresas da área podem incentivar tal inclusão.
Confira a entrevista completa!
Qual é a importância da inclusão de PCDs no setor de construção civil?
Maristela Honda: “A indústria da construção é uma das maiores empregadoras do país, com mais de 2,5 milhões de trabalhadores com carteira assinada. Sob esta ótica, o setor assumiu uma grande parcela da responsabilidade nacional de inclusão de Pessoas com Deficiência (PCDs) no mercado de trabalho.
Esta inclusão é importante para o bem-estar e a valorização da PCD, que pode encontrar nas diversas atividades da construção uma realização profissional produtiva e uma inserção social digna.
E é importante para a empresa, que assim amplia o exercício de sua responsabilidade social e enriquece a diversidade de seu contingente de pessoal – fator que contribui para a eliminação de preconceitos e o fortalecimento do trabalho da equipe.
Nesta ótica, o Seconci-SP (Serviço Social da Construção) e o SindusCon-SP (Sindicato da Construção) entendem que a inclusão de PCDs deve ser buscada por todas as empresas do setor, independentemente ou não de estarem obrigadas a atender o disposto na Lei das Cotas.
A empresa que adota uma política de Recursos Humanos que favoreça essa inclusão também atende às boas práticas ESG (sigla em inglês para Responsabilidade Ambiental, Responsabilidade Social e Governança), cada vez mais requisitadas para uma atuação de sucesso no mundo dos negócios.”
Como é feita a adequação dos profissionais PCDs nas áreas do setor?
Maristela Honda: “As atividades nos canteiros de obras apresentam diversos riscos, mas isto não quer dizer que as PCDs não possam exercer suas profissões na construção, desde que isso seja feito de uma maneira segura.
Para tanto, o Seconci-SP, por solicitação do SindusCon-SP, elaborou um Guia para a Inserção Segura da Pessoa com Deficiência na Construção.
A partir de pesquisas feitas por especialistas em Medicina Ocupacional e Saúde e Segurança do Trabalho, o guia orienta sobre as possibilidades de inserção segura das diversas PCDs nas obras, bem como recomenda em quais atividades essas pessoas não devem ser incluídas devido a riscos.
Levaram-se em conta os riscos das obras e o cuidado para que a atividade a ser exercida não venha a agravar a própria deficiência da pessoa.
Por exemplo, uma PCD com deficiência auditiva severa pode trabalhar no almoxarifado da obra, mas não em um local sujeito a acidentes, em que ela precise ouvir sinais de alerta. Um PCD com visão monocular pode trabalhar em várias atividades no canteiro, mas deve evitar o trabalho em altura, por não ver a dimensão da profundidade.
Uma vez que a PCD passa por esse crivo e é admitida, a adequação na obra passa tanto por providências para facilitar sua locomoção e sua orientação, bem como pelo preparo da equipe para acolhê-lo e socializá-lo adequadamente.
Estes cuidados também devem ser tomados para a inserção das PCDs nos escritórios das construtoras.”
Quais são os principais desafios do profissional PCD na construção civil?
Maristela Honda: “Este profissional, se inserido de forma segura, tem os mesmos desafios de qualquer outro: ter um bom desempenho, saber trabalhar em equipe, mostrar competência e motivação.
Ele não deve fazer de sua condição um motivo de diferenciação em relação à equipe, e não deve se sentir inferiorizado nem se julgar merecedor de comiseração.
Daí a importância de os Recursos Humanos trabalharem tanto o atendimento das necessidades da PCD como preparar a equipe para acolhê-lo corretamente.”
Como as construtoras podem garantir a inclusão de PCDs na construção civil?
Maristela Honda: “Além do que já foi respondido acima, as construtoras também podem incluir profissionais da própria construção que se tornaram PCDs por causa de um acidente doméstico ou do trabalho.
Um profissional que se tenha destacado na empresa, mas que não pode mais exercer sua atividade original devido à sequela do acidente, pode ser treinado para exercer outra atividade.
As construtoras também podem inscrever seus trabalhadores nos eventos que o SindusCon-SP e o Seconci-SP promovem conjuntamente, como a Megasipat (Mega Semana de Prevenção de Acidentes) e o ConstruSer (Encontro Estadual da Construção em Família).
Nestes eventos, as temáticas da importância da inclusão com segurança e da quebra de preconceitos são abordadas, para favorecer sua adoção nas obras.
O Seconci-SP também oferece às empresas orientações em relação à contratação segura de PCDs e oferece palestras nos canteiros de obras para favorecer um bom acolhimento e coibir preconceitos.”
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