Uma das atividades mais importantes da economia brasileira, a mineração representou 80% do saldo comercial de exportações nacionais em 2021, cujo total foi de US$ 61 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM).
Para que a mineração seja feita com efetividade e siga colaborando ativamente com o crescimento econômico do país, são necessários conhecimentos específicos de engenharia neste setor, fazendo da mineração uma grande aliada da área.
Para compreender mais, entrevistamos Petain Ávila de Souza, engenheiro de minas, economista e doutor em geociências pela UNICAMP, que nos contou mais sobre como funciona a estrutura de custos na mineração e engenharia.
Confira a conversa completa abaixo!
Quais são os principais componentes da estrutura de custos na mineração?
Petain Ávila de Souza: “Depende do objetivo. Se for na ótica das contabilidades de custo e gerencial, os custos são classificados, por produto, em custos diretos (material direto e mão-de-obra direta) e custos indiretos.
Os diretos são facilmente identificados por se incorporarem aos produtos finais; por sua vez, os indiretos, por ser difícil a sua alocação direta aos produtos finais, são apropriados por rateio (custeio). Esta ótica, faz a distinção entre custos e despesas.
Entende-se como custo o esforço de produzir, e, como despesas, os dispêndios para obtenção de receitas, assim, tem-se as despesas comerciais, administrativas e financeiras. Uma vez que o preço do produto é definido pelo mercado, a determinação do custo é vital para saber o lucro obtido com a sua comercialização. Em resumo, esta ótica é de grande utilidade face à competitividade do mercado
Se a ótica for econômica, tem-se que considerar o curto e o longo prazos, tendo em conta que a empresa opera no curto prazo e planejar no longo prazo. Entende-se por curto prazo, o horizonte de tempo em que pelo menos um fator de produção não varia (permanece fixo); e, por longo prazo, o horizonte de tempo onde todos os fatores de produção variam.
Nesta ótica, no curto prazo, não há distinção entre custos e despesas, ambos são tratados indistintamente como custos. Assim, no exercício financeiro/período considerado (mês, trimestre, ano, etc.), a empresa opera com custos fixos e custos variáveis. O longo prazo é considerado como um horizonte de planejamento de uma sequência de possibilidades de curto prazo para alcançar diferentes tamanhos/escalas de produção.
No curto prazo, a empresa procura operar em nível de produção sempre acima do ponto de equilíbrio (ponto onde receita e custos totais se igualam, ou seja, o lucro total se anula) e abaixo de sua capacidade instalada (tamanho), e assim, realizar lucro. Com esta estrutura de custos, a empresa pode, para cada nível de produção, calcular: o resultado (lucro/prejuízo) do exercício, a margem de segurança e a alavancagem operacional.
Os engenheiros orçam seus serviços com base no custo de propriedade (depreciação, seguro e juros sobre ativo operacional) e no custo de operação e manutenção (materiais de consumo e mão-de-obra entre outros).
A principal característica do livro Estrutura de Custos na Mineração é expor estas abordagem de custos, para facilitar a comunicação entre os profissionais das variadas áreas, cada um tendo ciência de como os demais abordam custos e como os apropriam.”
Quais são os custos envolvidos no processamento e beneficiamento do minério?
Petain Ávila de Souza: “Qualquer operação unitária, que ocorra na mina (lavra), no transporte interno (mina/usina) e na usina de beneficiamento/tratamento implica em custo de produção com material direto, mão-de-obra direta e custos indiretos.
Assim, tem-se: na mina, custos de perfuração, desmonte, carregamento e transporte de minérios; e, na usina, custos de britagem, moagem, classificação para obtenção dos produtos comercializáveis.
Há a considerar três tipos de custos distintos em cada exercício: custo dos produtos vendidos, custo dos produtos obtidos e custo de produção do período. Pode-se vender (usando estoques anteriores) em um exercício em que não houve produção; e, produzir em um exercício em que não houve vendas (produção estocada). Assim, tais tipos de custos são independentes.”
Quais são os principais custos logísticos e de transporte na mineração?
Petain Ávila de Souza: “Uma das principais características da mineração é a rigidez locacional. A jazida pode estar localizada numa região bem provida de infraestrutura ou, no outro extremo, numa região ínvia e de difícil acesso.
O mercado do produto da mineração, ou seja, o ponto de entrega do produto ao comprador, pode ter raio de influência de poucos quilômetros ou, dependendo do contrato de comercialização, exigir o transporte terrestre (rodovias, ferrovias, minerodutos, etc.) e até mesmo o marítimo de longa distância, hipótese em que estoques expressivos de minérios/concentrados se deslocam nos transoceânicos até a efetiva entrega ao comprador.
Os custos relacionados à logística e ao transporte na mineração dependem de vários fatores, entre os quais tem-se: a infraestrutura existente, a localização do mercado, o valor unitário do produto comercializado, a existência ou não do frete-retorno, as facilidades e condições de suprimentos de equipamentos, materiais e serviços necessários à mineração.
Dependendo da complexidade, a empresa de mineração deve analisar os custos envolvidos na logística e no transporte do produto comercializado, para decidir pela própria execução ou pela terceirização dos serviços necessários.”
Quais são as estratégias comuns para otimizar a estrutura de custos na mineração e maximizar a rentabilidade?
Petain Ávila de Souza: “Há dois conceitos diferentes, que comumente são confundidos. O primeiro é o conceito de margem de lucro do (lucro líquido/receita), que é um conceito contábil de curto prazo por se referir ao exercício considerado.
A empresa procura operar em um nível de produção que lhe permita o maior lucro possível no período considerado, ou seja, usar o máximo de sua capacidade instalada. Esta estratégia, além do lucro, proporciona margem de segurança (produção acima do ponto de equilíbrio) e alavancagem operacional (redução do custo fixo unitário)
O segundo conceito, é o da rentabilidade ou retorno, ou seja, recuperação e remuneração do investimento realizado para implantação e operação do empreendimento. Este é um conceito de longo prazo por envolver não só a fase de implantação do empreendimento como a fase de produção durante toda sua vida útil produtiva.
A rentabilidade é um conceito mais amplo, que depende da distribuição dos fluxos de caixa anuais (conceito mais amplo do que o da margem de lucro) durante o horizonte do empreendimento e indica, se a decisão de investir no empreendimento, tem potencial ou não de geração/criação de valor para o empreendedor.
Há situações inusitadas, onde um empreendimento pode apresentar margens de lucro e não ter rentabilidade. Deve-se ter em mente que o principal objetivo da empresa não é maximizar lucro; e sim, criar valor, ou seja, aumentar o patrimônio líquido dos seus cotistas/sócios/acionistas. O apêndice final do livro mostra o exemplo de um empreendimento que apresenta lucros anuais (ótica contábil), porém não tem rentabilidade atrativa (ótica da análise de investimento).”
Como você aborda a questão dos custos na mineração de forma diferente das abordagens tradicionais da contabilidade geral, contabilidade de custos e contabilidade gerencial?
Petain Ávila de Souza: “O livro ‘Estrutura de Custo na Mineração’ resume a evolução histórica e secular da contabilidade geral (da Era do mercantilismo) até a contabilidade gerencial, passando pela contabilidade de custos (pós-revolução industrial), que deu início ao uso das tradicionais demonstrações financeiras (balanço patrimonial e demonstração do resultado do exercício) da embrionária contabilidade geral no campo administrativo/gerencial.
Historicamente, as empresas eram comerciais/mercantis, ou seja, compravam e vendiam, ou seja, consideravam o ‘valor de compra’ como um dispêndio na formação de seus estoques. O custo surge quando tais empresas, ao invés de comprar, decidem produzir as mercadorias vendidas, ou seja, deixam de ser apenas mercantis e passam a ser manufaturas/indústrias.
A evolução da contabilidade geral até a contabilidade gerencial tornou-se imperativa devido ao surgimento das indústrias manufatureiras e a outros fatores: evolução do sistema bancário e do mercado de capitais, chegada do acionista, advento da auditoria e do imposto de renda, etc.
Também, com o crescimento das empresas, houve o aumento da distância entre o administrador, as pessoas administradas e os ativos. Dessa forma, a contabilidade gerencial passa a ser um instrumento administrativo eficiente no controle de desempenho e nas tomadas de decisões da empresa, daí a necessidade de apropriação de custos de produção.
A contabilidade gerencial, diferentemente da geral, associa os valores monetários às correspondentes quantidades física de insumos utilizados e da produção realizada: de nada adianta saber que o custo de um insumo aumentou de 20%, se não há dados sobre a os percentuais de variações das quantidades físicas consumidas do insumo ou da produção realizada.
Complementando a diferença de abordagens entre essas contabilidades, o livro apresenta um quadro comparativo entre tais contabilidades sob variados aspectos.”
Gostou de saber mais sobre o assunto? Então fique ligado, pois o engenheiro de minas Petain Ávila de Souza fará uma apresentação exclusiva sobre o tema para o Concrete Show, dia 08 a 10 de agosto de 2023. Compre agora o seu ingresso e garanta sua participação no Construindo Conhecimento!