O painel “Engenharia Civil na Infraestrutura Urbana: Desafios e Soluções” aconteceu no primeiro dia do Concrete Show 2024 e trouxe elementos sobre como as cidades podem se beneficiar da aplicação correta da engenharia civil em suas obras, incluindo prevenção, manutenção e concepção das construções.
Participaram do painel: Marcos Monteiro, secretário do SIURB – Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras da prefeitura de São Paulo; Daniel Ferraz, especialista de projetos de infraestrutura do Grupo CCR & coordenador de pós-graduação de projetos de infraestrutura da CCR Rodovias e IPOS Especialização; Mauro Periquito, engenheiro de telecomunicações, especialista de prática e diretor na Kyndryl; Edgar Fressato Carneiro, assessor executivo da diretoria de engenharia, meio-ambiente e obras da CPTM; e o moderador Rafael Timerman, diretor na Engeti Consultoria e Engenharia.
O norte do painel foram as realizações de engenharia civil nas obras da cidade de São Paulo, como as de drenagem e mobilidade, mas especialmente as realizadas em viadutos, túneis, passarelas e pontes. Apesar disso, Marcos destacou que o tempo que cada obra leva para ser feita não condiz com o tempo de cada gestão política, que é de apenas quatro anos: “Há a necessidade dos gestores públicos utilizarem as ferramentas de engenharia. Mas a gente sabe que as grandes obras demandam tempo: licitar projeto, fazer projeto, licitar a obra e então começar a obra. E para começar a obra, levam pelo menos dois anos. Então para as grandes obras o tempo de gestão é muito curto”.
Infraestrutura em São Paulo
Na cidade de São Paulo, por exemplo, as obras de drenagem atingem cerca de 19,7 km², mas com eventos climáticos cada vez mais extremos, se faz necessário mais atualizações. Existe um planejamento para um período de retorno de 100 anos, mas antes há uma primeira série que vai trabalhar para precaver períodos de retorno em 10 anos e depois em 50 anos, até ter todas as obras chegando a 100 anos de retorno.
Período de retorno, aliás, é o tempo estimado para que a chuva mais potente, por exemplo, volte a cair novamente. Em um período de retorno de 10 anos, então, é estimado que tal tempestade ocorrerá pelo menos mais uma vez dentro de uma década, de forma que a infraestrutura possa aguentar tamanho impacto.
“Precisam de mais de 400 obras, em um plano que começou em 2003. [No momento] há um plano de ações de 97 obras, com R$ 8,7 bilhões investidos em 5,1 milhões de m². Temos um planejamento muito robusto. Hoje temos recurso, estamos viabilizando 15 reservatórios”, completou Marcos.
Infraestrutura no Sul
Mais ao sul do país, o estado do Rio Grande do Sul recentemente enfrentou enchentes históricas que foram consideradas a maior catástrofe climática da região. Focando somente nos prejuízos estruturais consequentes da tragédia, Daniel Ferraz lembrou que a Via Sul (rodovia que liga Porto Alegre com dezenas de outras cidades gaúchas através da BR-101, BR-290, BR-386 e BR-448), de responsabilidade da CCR, foi duramente atingida pelas tempestades, especialmente no Vale do Taquari, onde a água chegou a bater seus 14 metros de alturas.
E com a reestruturação do local também vem a evolução, utilizando dados atuais e históricos da região, alcançando melhores resultados. Para isso, é possível utilizar a simulação digital para simular o real e poder acompanhar como o projeto existente vem sofrendo com seu desgaste natural. “Hoje estamos construindo essa infraestrutura, como podemos espelhar no âmbito virtual e colher para acompanhar a degradação do projeto real”, lembrou Daniel.
Para isso – e todos os outros tipos de obras -, uma questão é fundamental: a transmissão das informações, de modo que ela não seja perdida no caminho e, assim, todos os dados possam ser utilizados da maneira correta. Inclusive, Mauro Periquito lembrou que existem quatro importantes passos: coletar, transmitir, analisar e armazenar.
“O tema ‘smart city’ é tudo isso que estamos analisando e armazenando. Porque sem armazenar os dados históricos, não fazemos as tendências para daqui 100 anos. E também [precisamos] tirar da manutenção corretiva e começar a fazer a preventiva. Aí vem o papel da tecnologia de fazermos um uso mais eficiente de nossos ativos”, completou Periquito.
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Mobilidade urbana
Voltando à cidade de São Paulo, um exemplo bastante utilizado foram os viadutos, passarelas, túneis e pontes. Um levantamento da SIURB em 2007 mostrou que dezenas dessas obras estavam “vencidas” por falta de manutenção, se degradando aos poucos. Mesmo assim, levaram mais cinco anos para começarem as primeiras inspeções visuais e mais de dez anos para que algo mais efetivo acontecesse. Inclusive, isso só foi ocorrer após 2018, quando um viaduto da Marginal Pinheiros cedeu, prejudicando o fluxo local por cinco meses – um número considerado positivo, visto que as primeiras impressões apontavam para dois anos de obras.
“Ali começou um trabalho mais forte de um programa que reformou os viadutos“, disse Marcos. Aliás, já em 2020 houve a entrega das primeiras obras de contrato emergencial. Mas foi apenas em 2021 que esse trabalho começou a ganhar mais força e, desde então, o total de inspeções rotineiras realizadas foi de 2.575, com outras 924 em andamento. A inspeção deve ser realizada a cada 5 a 8 anos, possibilitando reparos simples antes do agravamento de possíveis quadros.
Com isso, são colhidos os grandes benefícios: maior segurança, economia, durabilidade, eficiência no trânsito e preservação do patrimônio.
Edgar, por sua vez, também deu exemplo de obras na cidade de São Paulo, apesar da CPTM responder ao Estado de SP, através da Secretaria de Transportes Metropolitanos. São 380 obras que passam por cima ou por baixo das dependências da CPTM, com 196 km de via dentro da Grande São Paulo, com 57 estações abastecendo 18 cidades.
Mas uma obra em específico chama atenção: na estação Luz, que tem quatro linhas de trem, duas de metrô e o expresso para o Aeroporto de Guarulhos. No caso, um caminho une o Metrô a CPTM, com milhares de pessoas se aglomerando no mesmo lugar, então uma obra está sendo feita para desafogar o fluxo, dividindo quem sai da CPTM e, em fluxos separados, ir para as linhas 1-Azul e 4-Amarela. Um exemplo de como a engenharia pode melhorar o conforto da população.
Por fim, a mesa comentou como a tecnologia pode auxiliar nesse processo de melhoria da infraestrutura urbana. Uma que recebeu destaque – não apenas nesse, como em outros painéis – foi o BIM, um sistema de modelagem que permite sobrepor os dados oficiais da obra com aqueles que são almejados. Desta forma, se cria um ecossistema conectado, proporcionando uma visão de trazer o olhar da manutenção e da operação na concepção.
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