A Selic, taxa básica de juros da economia brasileira, exerce um papel fundamental no setor da construção e mobiliário.

O seu impacto pode ser sentido em diferentes aspectos do mercado imobiliário e da construção civil, influenciando tanto empresas do ramo quanto consumidores.

Ao longo deste artigo, vamos entender melhor o que é a taxa Selic e como ela afeta o setor da construção. Para falar sobre o assunto, conversamos com Paulo Antonio Kucher, Administrador e Vice-Presidente da Lyx Engenharia. 

Continue conosco para saber tudo sobre o impacto da taxa Selic no setor da construção civil brasileira!

Taxa Selic: o que é e como funciona no contexto econômico brasileiro

Para entender o que é a taxa Selic e como ela funciona, o primeiro passo é saber que ela representa os juros básicos da economia brasileira. 

Logo, os movimentos da Selic influenciam todas as taxas de juros praticadas no país – sejam as que um banco cobra ao conceder um empréstimo ou as que um investidor recebe ao realizar uma aplicação financeira.

“A Selic tem esse nome por conta do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, administrado pelo Banco Central, em que são negociados títulos públicos federais. A taxa média registrada nas operações feitas diariamente nesse sistema equivale à taxa Selic”, explica Kucher.

É importante entender que a taxa Selic impacta o juro aplicado pelos bancos quando precisamos de um financiamento a longo prazo, como, por exemplo, para compra de carros e imóveis.

“Em um momento de recessão econômica, o governo baixa a Selic para estimular o consumo. Quando o consumo está alto, com a inflação alta, o governo aumenta as taxas bases de juros para desestimular o consumo, fazendo assim a inflação na teoria baixar”, acrescenta nosso entrevistado.

Relação entre a taxa Selic e os financiamentos imobiliários no setor da construção civil

Kucher observa que, quando falamos de Selic e financiamento, é preciso compreender que quanto maior for a taxa, maior será o juro cobrado pelas instituições financeiras. E isso não apenas no mercado imobiliário, mas em todos os outros tipos de financiamento também. 

“Até quando você compra uma geladeira em parcelas, a Selic impacta no valor total da parcela”, exemplifica o especialista.

“Você só escapa dela quando paga à vista a sua compra. Como isso nem sempre é possível, a Selic então estará presente compondo a parcela mensal que você paga”, argumenta.

Como as variações na taxa Selic afetam as taxas de juros de empréstimos e financiamentos utilizados no setor da construção?

Para explicar como as variações na Selic impactam as taxas de juros de empréstimos e financiamentos utilizados no setor da construção, o administrador traz um exemplo fictício:

Vamos imaginar um cenário onde a taxa de juros Selic está em 8% e o financiamento imobiliário do comprador fosse de R$ 800. Neste mesmo cenário, com a taxa Selic a 11,75% de hoje (janeiro de 2024), o mesmo cliente pagaria mais de R$ 900 de parcela”.

Kucher segue a explicação afirmando que quando a Selic sobe, o mercado imobiliário precisa encontrar caminhos para não sofrer quedas enormes no volume de vendas. 

Para isso, os construtores buscam fazer economias nas obras, propõem modelos construtivos mais modernos e, em alguns casos, até mesmo reduzem os preços. 

“Porém, lembre-se: o valor dos imóveis sempre sobe, pois a inflação, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), sempre sobe, fazendo o melhor momento de compra de um imóvel o dia de hoje”, garante.

Os impactos da taxa Selic nas decisões de investimento em projetos de construção

O Vice-Presidente da Lyx Engenharia ressalta que o mercado imobiliário, no qual ele atua há quase 16 anos, está em constante e crescente atualização e evolução.

“Um imóvel que eu vendia a R$ 200 mil há 10 anos, hoje vale entre R$ 700 e R$ 800 mil. Em alguns casos, um terreno que eu comprava há 5 anos por R$ 200, hoje eu não compro por R$ 350 mil”, inicia.

“Então, a decisão do projeto de financiamento de compra no mercado de um imóvel versus a taxa Selic não acompanha a evolução de preços do mercado, pois a Selic está atrelada à inflação”.

“Se eu ganho R$ 2 mil e ano que vem a inflação for de 10%, eu vou ter uma atualização para R$ 2.200. Só que um imóvel que hoje vale R$ 200 mil, daqui há um ano ele não vai valer só R$ 220 mil, ele vai valer entre R$ 250 e R$ 270 mil”, acrescenta.

“Por isso a Selic não pode ser o balizador da sua tomada de decisão de compra, mas sim a sua organização financeira e o seu projeto de futuro de um imóvel próprio”, complementa.

Como as mudanças na taxa Selic podem afetar o custo de capital de projetos de construção e, por conseguinte, seus orçamentos?

Segundo Kucher, o mercado imobiliário utiliza o INCC para o período de obras, contudo a Selic acaba impactando também nas construtoras e incorporadoras, uma vez que os empréstimos e financiamentos no banco saem sempre mais caros. 

Essa influência da Selic no mercado imobiliário, na opinião do entrevistado, acaba sendo muito pesada. 

“A taxa Selic vai impactar na parcela de todas as compras parceladas, então óbvio que uma Selic menor ajuda o consumo e uma Selic maior freia o consumo”, destaca.

“Esse impacto também é sentido no número de unidades lançadas pelos incorporadores para o mercado, pois isso influencia na velocidade de venda. Quanto menor a Selic, maior o finame, menor as parcelas, maior a vontade dos clientes comprarem, mais lançamentos, mais investimentos”.

“Quanto maior a Selic, maior o juro pago pelos clientes, mais tempo eles demorarão para tomar essa decisão e por isso menor a vontade de compra deles”, completa.

Estratégias que empresas do setor de construção podem adotar para lidar com as flutuações na taxa Selic

Para conseguir mitigar as flutuações da Selic, a grande estratégia, conforme Kucher, é trabalhar com planejamento antecipado e compras programadas.

Ele observa que o setor imobiliário trabalha sempre pensando nos próximos 23 anos. 

“Então a Selic para a construtora, ela impacta muito mais no volume de clientes que estão dispostos a pagar a taxa atual do que propriamente para a empresa no seu fluxo de caixa”, ressalta.

Ele lembra ainda que isso vale para empresas que não têm dívidas. Já as que têm financiamentos e/ou empréstimos, precisam trabalhar dentro da flutuação da Selic e este, segundo ele, é um ambiente perigoso.

“Não vejo empresas com saúde no mercado imobiliário, construtoras e incorporadoras com saúde financeira tendo empréstimos atrelados à Selic. Felizmente não temos esse cenário”, conclui.

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