A preservação das infraestruturas urbanas históricas e funcionais é um desafio crescente em um mundo que valoriza tanto a inovação quanto a memória.
As Obras de Arte Especial (OAE), que incluem pontes, viadutos, passarelas e outros elementos essenciais à infraestrutura viária, são importantíssimos para o funcionamento das cidades modernas.
Essas estruturas não apenas garantem a mobilidade urbana, mas também possuem um valor arquitetônico e cultural inestimável. No entanto, muitos desses elementos enfrentam desafios de manutenção e recuperação, demandando soluções técnicas que respeitem a sua integridade e funcionalidade.
Neste contexto, a recuperação dos OAEs é fundamental para assegurar que essas estruturas continuem a servir a população.
A engenharia moderna, inclusive, tem desenvolvido técnicas inovadoras para restaurar e reforçar essas obras, garantindo que possam atender às necessidades atuais sem comprometer a autenticidade histórica.
Conversamos com Lucas Vaslanv da Silva Wolff, engenheiro de produção civil, mestre em Estruturas e Geotecnia e professor da FAE, para entender mais sobre os desafios e avanços nos projetos de recuperação de OAEs. Veja mais abaixo!
Obra de Arte Especial (OAE): definição e critérios para classificação
De acordo com o professor Lucas Wolff, OAEs são as obras destinadas à transposição de obstáculos ou desníveis, os quais se fazem necessários para o funcionamento da infraestrutura viária de acordo com a capacidade de fluxo.
Ele exemplifica: “Nesta definição, normalmente estão abrangidas pontes, viadutos, passarelas, trincheiras e até passa faunas”.
Os maiores desafios encontrados em um projeto de recuperação de OAEs
Os projetos de recuperação de OAEs enfrentam diferentes desafios no decorrer das obras.
O maior deles, segundo Wolff, é “a definição do estado da arte da obra, ou seja, conhecer todas as propriedades geométricas e dos materiais existentes para a determinação da sua real capacidade de carga”.
“Uma vez conhecidos todos os aspectos técnicos existentes, a escolha da solução e proposições para recuperação são estudadas e afunilam para uma solução tecnicamente segura e economicamente mais viável dos pontos de vista de gasto de material, execução e logísticos”, explica o especialista.
A contribuição de técnicas modernas de restauração para a preservação de OAEs
As técnicas modernas de restauração têm se mostrado eficazes em preservar a autenticidade dos OAEs.
Wolff explica que, hoje em dia, é possível restaurar e aumentar as capacidades de carga de uma obra com segurança a partir de modelagens numéricas mais precisas.
“Elas permitem estimativas mais seguras mesmo com coeficientes de segurança menores, e do uso de materiais desenvolvidos propriamente para restauração”, afirma.
O uso de materiais especializados, como adesivos estruturais à base de epóxi e reforços em fibra de carbono, é destacado como uma inovação importante no setor.
Além, é claro, da prospecção das informações da obra já existente.
“Torna-se possível dotar a estrutura de segurança sem modificar sua aparência ou dimensões de forma representativa, mentando também aspectos arquitetônicos inerentes à paisagem urbana já formada”, destaca.
Cuidados necessários ao trabalhar com materiais sensíveis e históricos em OAEs
Trabalhar com OAEs que possuem valor histórico requer cuidados específicos. Neste caso, Wolff destaca como fundamental a prospecção dos dados de forma precisa e que retrate fielmente a realidade da obra.
“A informação sobre o estado da estrutura existente é o que permite o projeto de soluções que preservem suas características fundamentais, usando os materiais e técnicas executivas mais apropriadas, e de forma segura”, complementa.
Com as informações antigas e atuais da obra em mãos e com o detalhamento dos materiais e metodologias executivas, é possível dar início ao trabalho.
“É possível restaurar, ampliar a capacidade e definir um plano de manutenção para manter a obra e as informações desta preservadas”, observa.
O impacto dos avanços em tecnologia no processo de recuperação de OAEs
Lucas Wolff reforça a importância de ter em mãos as informações já existentes da obra. Ele classifica como “fundamental para recuperação e ajuste da capacidade às necessidades atuais”.
“Devido às limitações de reprodução das informações referentes à projetos e execução sem uso de meios digitais na época de construção de obras históricas, a perda de dados referentes a esta é uma realidade frequente”, lamenta.
Nestes casos, o uso de scanners 3D para criação de gêmeos digitais, segundo ele, dá a oportunidade de estudo rápido e preciso das propriedades geométricas de uma Obra de Arte existente.
Além, é claro, do uso dos modelos em Building Information Modeling (BIM), ferramenta atualmente essencial para tais projetos.
“Os modelos em BIM permitem que seja vinculada à geometria também informações de resistência, durabilidade dos materiais e aspectos técnicos que orientam não só a recuperação, mas também a manutenção após uma intervenção bem sucedida”, conclui o especialista.
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