Analisar a maturidade digital do setor da construção civil é um aspecto importante, afinal são muitos os assuntos que estão ligados à transformação tecnológica da área, entre eles as ações de desenvolvimento do Building Information Modeling (BIM).
Com este objetivo, a BIM Fórum Brasil em parceria com o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), os Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia (Creas) e a Caixa de Assistência dos Profissionais dos Creas (Mútua) realizaram a primeira pesquisa nacional sobre Digitalização nas Engenharias no Âmbito da Indústria da Construção.
Entre os dias 6 de abril e 6 de maio deste ano, 5.974 profissionais que trabalham diretamente com a construção civil no Brasil, seja na esfera pública, privada ou de forma autônoma, foram ouvidos. Destes, 5.056 resultaram em casos válidos a serem analisados.
A fim de entender melhor a pesquisa e também falar sobre o BIM, conversamos com Dionísio Augusto Americano de Neves e Souza, Engenheiro Civil, proprietário da Proger Engenharia e Co-criador do OrçaBIM. Continue conosco e boa leitura!
O grau de conhecimento dos profissionais sobre as tecnologias aplicadas à construção civil
São muitas as tecnologias utilizadas na construção civil: CAD, impressão 3D, realidade aumentada ou virtual, controle de máquinas à distância, modelagem paramétrica, entre outras.
Com base nos dados da pesquisa nacional divulgados pela BIM Fórum Brasil, o engenheiro civil Dionísio Augusto Americano de Neves e Souza aponta que são poucos os profissionais da área que estão, atualmente, integrados às novas tecnologias.
“Pelos resultados da Pesquisa Nacional, especificamente no que tange às soluções tecnológicas 3.0 e 4.0 para a indústria AEC, apenas uma minoria dos profissionais (37,9% e 25,5% respectivamente), afirma ter conhecimentos específicos sobre os usos”, analisa Souza.
As motivações e barreiras para a adoção do BIM
Assim como toda e qualquer nova atividade, é natural que existam profissionais motivados a adotar o BIM, enquanto outros estejam focados nas barreiras que a tecnologia pode apresentar.
Entre as motivações da adoção do BIM, Souza destaca:
“Melhoria na qualidade, precisão e abrangência dos projetos, bem como na leitura clara da documentação produzida, além da necessidade de colaboração constante entre profissionais de diversas disciplinas, o que aumenta o conhecimento de todos nas diversas interferências e soluções de projeto de uma forma geral.”
O entrevistado acrescenta: “O BIM aumenta, em muito, o escopo ‘antigo’ do que se conhecia como ‘projeto’, hoje podendo abranger etapas posteriores à construção e durante toda a vida útil do empreendimento”.
Entre as barreiras, o convidado aponta o ensino do BIM de forma isolada, sem estar integrado ao aprendizado de projeto, e a mudança no escopo do que se conhece por projeto.
“Entendo que uma grande barreira é tentar ‘ensinar o BIM’ meio que desassociado do ensino de projeto e posterior a ele. O BIM já deveria estar presente nas grades curriculares de todas as faculdades de arquitetura e engenharia, bem como na grade de disciplinas das escolas técnicas”, enfatiza.
Ainda sobre as barreiras para a adoção do BIM, Souza aponta:
“A forma de contratação convencional de projetos não se aplica mais. É necessário um amplo esforço dos profissionais envolvidos para a valorização e correção dos preços atuais praticados nos projetos, para este novo escopo”.
O que diz a pesquisa
O engenheiro civil Dionísio Augusto Americano de Souza faz uma análise das motivações e barreiras da adoção do BIM segundo os dados divulgados da pesquisa Digitalização nas Engenharias no Âmbito da Indústria da Construção.
“As motivações, referidas pela Pesquisa Nacional, foram ‘Para inovar e se diferenciar’ (58,5%), ‘Para melhorar a produtividade’ (52,8%), ‘Foi requerido para participar ou financiar projetos’ (26,6%) e ‘Outros’ (5,7%)”, descreve.
“As barreiras citadas foram: ‘Os investimentos necessários para adquirir licenças de software’ (48,4%), ‘A falta de alternativas de treinamento’ (30,4%), ‘Conhecimento insuficiente para avaliar as diferentes alternativas de software BIM no mercado’ (29,1%)”, acrescenta Souza.
Além destes, ‘Falta de pessoal treinado no uso de software BIM’ (28,3%) e ‘Falta de tempo disponível para desenvolver a implantação’ (19,3%) também foram apontados como fatores que estariam dificultando a adoção do BIM.
Como o Brasil pode superar as barreiras para a adoção do BIM?
Souza acredita que as barreiras para a adoção do BIM no Brasil podem ser superadas por meio da divulgação ampla, apoio das entidades de classe e, é claro, com a implantação do BIM nas grades curriculares de faculdades e escolas técnicas.
“E com um trabalho de conscientização sobre a necessidade de remuneração condizente com as necessidades de novas capacitações e de maior infraestrutura de equipamentos e programas especialistas”, opina.
A necessidade de investimento e capacitação para o uso do BIM
De acordo com os profissionais entrevistados pela pesquisa nacional, alguns fatores são apontados como necessários para a implantação do BIM e também para desenvolvimento de novas habilidades. Entre eles estão:
- Investimento em treinamento e capacitação: 48,1%
- Desenvolvimento de estratégia própria: 46,4%
- Assessoramento com fornecedores de software: 14,7%
- Contratação de serviços de consultoria: 13,9%
- Contratação de pessoas já capacitadas: 7,8%
Souza traz a experiência própria do seu escritório para ilustrar o que dizem os profissionais que opinaram na pesquisa nacional.
“Utilizamos bastante o assessoramento com os fornecedores de software, pois, principalmente os nacionais, dispõem sempre de estratégias excelentes de ensino da prática de utilização dos programas, nos fornecendo sempre uma útil assessoria, abreviando o tempo necessário para adquirir a prática na utilização das ferramentas”, conta.
O BIM além do projeto e planejamento
Todas as dimensões do BIM, conforme Dionísio Augusto Americano de Neves e Souza, podem ser muito utilizadas durante a construção e operação dos empreendimentos.
Como o BIM pode ser utilizado nessas etapas?
Para facilitar o entendimento de como o BIM pode ser utilizado, Souza exemplifica:
“A Orçafascio disponibiliza um sistema integrado que lê os quantitativos dos modelos BIM (OrçaBIM) e, através dos parâmetros dos projetos, disponibiliza o orçamento completo (dimensão 5D do BIM)”, explica.
Ele acrescenta: “[O orçamento] pode ser transformado em uma Estrutura Analítica de Projeto (EAP) pelo Módulo de Planejamento do Orçafascio (dimensão 4D do BIM) e chegar ao acompanhamento da obra com o uso de ferramentas próprias ou de programas como o Navisworks da Autodesk”.
Todas as informações ficam salvas na nuvem, o que também é uma vantagem.
“As informações estão à disposição dos projetistas durante o desenvolvimento dos projetos e podem ser qualificadas pelo andamento das fases do próprio projeto, até chegar ao acompanhamento da obra e retroalimentação do próprio orçamento para outros empreendimentos”, destaca.
Como incentivar os profissionais brasileiros a utilizarem o BIM nessas etapas?
Segundo o convidado, disponibilizar cases de sucesso para os profissionais em formação, divulgar boas práticas e ferramentas existentes e incentivar os professores são formas de estimular os profissionais brasileiros a utilizarem o BIM.
Souza ressalta: “Como um modelo BIM deve ser uma construção virtual, aos profissionais de projeto não é mais suficiente o conhecimento apenas de sua disciplina, mas sim de um conhecimento mais amplo, inclusive de procedimentos antes praticados apenas por profissionais diretamente ligados à condução das obras”.
E finaliza: “Daí a importância do estágio, ainda na academia, não só em escritórios de projetos, mas também para aquisição de conhecimentos dos procedimentos de obras”.
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