A pauta da sustentabilidade vem ganhando protagonismo em diferentes setores da economia — e na construção civil não é diferente.

Com a regulamentação do mercado de carbono no Brasil, sancionada em 2024, o setor passa a ter um papel ainda mais estratégico na transição para uma economia de baixo carbono.

Para entender os impactos e as oportunidades dessa mudança, conversamos com Adriana Hansen, diretora técnica do Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).

Hansen explica como funciona o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões e de que forma as construtoras, incorporadoras e fabricantes de materiais podem (e devem) se preparar para atuar nesse novo cenário.

Acompanhe a seguir!

Mercado de carbono: o que é e como se relaciona com o setor da construção civil

Adriana Hansen explica que o mercado de carbono é um mecanismo econômico que viabiliza a comercialização de créditos associados à redução ou remoção de emissões de gases de efeito estufa (GEE). 

Ela ressalta que, em dezembro de 2024, o Brasil avançou significativamente ao sancionar a lei que institui o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), estabelecendo as bases para um mercado de carbono regulado no país.

“Esse sistema permitirá que empresas com emissões acima de limites pré-estabelecidos adquiram créditos de outras organizações que consigam reduzir ou manter suas emissões abaixo das metas fixadas. O objetivo é incentivar financeiramente práticas e tecnologias de baixo carbono”, relata.

Mas, o que o mercado de carbono tem a ver com a construção civil? Tudo! Segundo Hansen, o setor está diretamente implicado, tanto por meio da operação de edificações quanto pela cadeia produtiva dos materiais de construção.

“A regulamentação determina que empresas que emitam mais de 10 mil toneladas de CO₂ equivalente por ano deverão reportar suas emissões ao governo”, aponta.

“Já aquelas que ultrapassarem 25 mil toneladas anuais receberão cotas de emissão, passando a operar dentro de limites obrigatórios”, acrescenta.

Na opinião da convidada, essa obrigatoriedade promoverá um movimento inédito no setor: a ampla contabilização das emissões corporativas e setoriais, algo que até então era pouco difundido.

“Como consequência, construtoras, incorporadoras, fabricantes de materiais e demais agentes da cadeia terão de desenvolver inventários de emissões, estabelecer metas de redução e adotar soluções de baixo carbono”, observa.

Espera-se, com isso, que muitas empresas tenham de adaptar suas estratégias operacionais para não ultrapassar as cotas atribuídas.

Métrica ou metodologia comum para calcular a pegada de carbono de uma obra ou produto

De acordo com a diretora técnica do CTE, o cálculo da pegada de carbono pode seguir diferentes metodologias, dependendo do objeto de análise — seja um produto, uma obra ou uma organização.

“Para produtos e materiais da construção civil, a metodologia mais consolidada é a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), conforme estabelecido pelas normas ABNT NBR ISO 14040 e 14044”, cita.

“Já para emissões organizacionais ou corporativas, a principal referência internacional é o GHG Protocol, amplamente utilizado em inventários de emissões de gases de efeito estufa”, complementa.

Conforme Hansen, no Brasil, o programa GHG Protocol, coordenado pelo FGVCes, disponibiliza ferramentas específicas, planilhas-padrão e guias técnicos atualizados para auxiliar as empresas na elaboração de inventários de emissões, sendo referência no setor.

Créditos de carbono: o que são e como uma construtora pode gerar ou comprar esses créditos

Os créditos de carbono são certificados que representam a redução ou remoção de uma tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO₂e) da atmosfera.

Hansen observa que, no contexto do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), sancionado em 2024, esses créditos passam a ser instrumentos regulatórios dentro de um mercado nacional estruturado, voltado ao cumprimento de metas obrigatórias de redução de emissões.

“Com a implantação do SBCE, empresas que excederem suas cotas de emissão deverão compensar esse excesso por meio da compra de créditos”, explica.

Já aquelas que operarem abaixo de suas metas, segundo Hansen, poderão gerar e comercializar créditos excedentes, criando uma nova fonte de valor econômico atrelada ao desempenho ambiental.

A especialista afirma que para construtoras e incorporadoras existem dois caminhos principais para acessar esse mercado:

  1. A geração de créditos, ao implementar projetos que resultem em redução mensurável, reportável e verificável de emissões; e
  2. A compra de créditos, onde as construtoras que ultrapassarem suas cotas de emissão poderão adquirir créditos de terceiros no mercado regulado.

“Com a obrigatoriedade de contabilização e limitação de emissões imposta pelo SBCE, espera-se que o uso de créditos de carbono se torne um mecanismo estratégico para o setor da construção manter sua competitividade e conformidade regulatória, além de reforçar seu posicionamento ESG”.

Benefícios econômicos e de imagem para quem participa do mercado de carbono

Mais do que gerar créditos de carbono, Adriana Hansen ressalta que o principal benefício atual para as empresas está em se antecipar à regulamentação e estruturar a gestão de suas emissões. 

Segundo ela, com a criação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) torna-se cada vez mais provável que o reporte de emissões — via inventários corporativos — passe a ser obrigatório para diversos setores, incluindo a construção civil.

“Nesse contexto, participar do mercado de carbono significa, antes de tudo, fazer gestão de risco regulatório e estratégico”, analisa.

Ela considera que as empresas que conhecem e monitoram a sua pegada de carbono estarão mais qualificadas.

“Estarão melhor preparadas para atender às exigências legais futuras, evitar penalidades ou custos com compensações não planejadas, tomar decisões mais informadas sobre materiais, projetos e processos construtivos e acessar novos mercados e linhas de financiamento verdes”, opina.

Além disso, Hansen ressalta os benefícios diretos de imagem e reputação: empresas que demonstram responsabilidade climática e atuação alinhada às metas de descarbonização se destacam no mercado.

“Falar em carbono, hoje, é falar em resiliência climática. Estar preparado é uma vantagem competitiva e uma condição para a sustentabilidade técnica, econômica e institucional dos ativos da construção civil no médio e longo prazo”.

Os principais desafios ou barreiras que impedem a adesão mais ampla do setor

De acordo com a convidada, o principal entrave à adesão mais ampla do setor da construção ao mercado de carbono está, sem dúvida, na falta de informação qualificada, capacitação técnica e organização de dados para inventariar suas emissões.

“A maioria das empresas ainda não possui processos estruturados para quantificar sua pegada de carbono, o que dificulta tanto o diagnóstico de oportunidades de redução quanto a participação em mecanismos regulatórios ou voluntários”, observa Hansen.

Sustentabilidade e carbono: tendência para os próximos anos

Para os próximos anos, Hansen prevê que a principal tendência será a internalização da variável “carbono” como critério técnico, econômico e estratégico em todas as etapas da cadeia construtiva, do projeto ao pós-uso.

“A regulamentação do mercado de carbono no Brasil funcionará como um catalisador para mudanças profundas no setor, impulsionando uma nova lógica de planejamento, projeto e operação de ativos construídos”, antecipa.

Algumas tendências concretas que devem se intensificar, segundo Hansen, incluem:

  • Obrigatoriedade de inventários corporativos de GEE;
  • Análise de carbono incorporado em materiais;
  • Integração da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) ao processo de projeto;
  • Edificações de baixo carbono como novo padrão de mercado;
  • Digitalização para rastreabilidade de emissões;
  • Precificação das emissões como variável econômica real.

“A sustentabilidade na construção será cada vez mais orientada por dados quantitativos, métricas robustas e compromissos formais de descarbonização, com impactos diretos na competitividade e na conformidade das empresas”, analisa.

“Aquelas que se anteciparem a esse movimento sairão na frente em um cenário de exigências crescentes e maior pressão por responsabilidade climática”, conclui.

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