Para a segunda entrevista da série Mulheres na Construção, especial para o Dia Internacional das Mulheres, celebrado anualmente em 8 de março, conversamos com Ana Cecília Sestak, engenheira civil e CEO da Autodoc.

Ela nos conta sobre os desafios enfrentados diariamente na posição de liderança que ocupa e também fala sobre a sua trajetória, desafios e qualidades. 

Continue conosco para conhecer e se inspirar com a história de Ana Sestak. Boa leitura!

Quem é Ana Sestak?

“A Ana Sestak é a mãe do Lucas e engenheira civil que no início dos anos 2000 fundou a Autodoc junto com o Tiago.

Quando se graduou em Engenharia Civil pela Escola Politécnica, as meninas não ultrapassavam aproximadamente 30% do total de alunos dos cursos de Engenharia.

Durante a minha vida profissional entendi que é muito importante a capacitação e decidi fazer pós-graduação em Comunicação e Marketing na ESPM e MBA em Governança de TI na Mauá.

Tive a oportunidade de fazer um curso de capacitação em Berkeley Haas, na Califórnia, e ganhei experiência em viagens para conhecer empresas, startups e empreendedores nos Estados Unidos, China, Dubai, Israel, Alemanha, Portugal, Reino Unido e Colômbia.

A Ana Sestak é uma pessoa muito família e que acredita que um dos maiores desafios é o nosso processo de evolução contínua como cidadã, consciente de que tem que ajudar o mundo a ser um lugar melhor e justo para as 8 bilhões de pessoas que estão nessa jornada nesse momento no Planeta Terra.

Acredito na força do trabalho, na missão que Deus nos deu, e que ser mulher em 2024 é incrivelmente mais fácil que em 1924, que foi quando a minha avó, também chamada Ana Sestak, ainda estava se adaptando no Brasil, vinda da Hungria, de uma Europa arrasada pela Primeira Guerra.

Aprendi com muitos erros que temos que desafiar muitas vezes o status quo para superarmos normas culturais e expectativas sociais.

Que independente das experiências individuais, possamos gerar oportunidades em um ambiente mais equitativo e igualitário, onde as mulheres possam ocupar com mais representatividade posições de liderança”.

Como é um dia de CEO da Autodoc?

“O desafio é o motor que me faz acordar todos os dias, agradecendo tudo que conquistei em conjunto com as pessoas que trabalham comigo, e por termos construído uma empresa chamada Autodoc.

São 20 anos dedicados a transformar o setor da construção com a digitalização. Em 2021, tivemos a oportunidade de dar mais um passo na nossa jornada estratégica de crescimento e concluímos uma operação de M&A com a Ambar.tech.

Esse movimento reforçou a nossa posição no mercado e possibilitou a aceleração de inovação e sinergias.

Hoje somos mais de 160 colaboradores que modelam produtos para entregar soluções desde o início dos projetos até a finalização das obras, desenvolvem softwares e hardwares, trabalham em estruturas organizacionais para atender os nossos clientes, e evoluem processos de venda e marketing.

A força da nossa equipe e a sua diversidade de talentos é uma das variáveis mais importantes para todo o processo dar certo e nos fortalece nas entregas de valor aos nossos clientes.

Mas pensar no futuro da Engenharia conectada com a transformação digital é com certeza o maior desafio que temos, uma vez que vamos impactar os nossos clientes com soluções que resolvam de forma simples os problemas complexos de Engenharia”.

Trajetória: o que te levou ao setor de Engenharia e Tecnologia?

“A Engenharia sempre esteve na tradição da família e acredito que foi uma ótima escola. Sempre achei a matemática uma disciplina fascinante e que nos ajuda a expandir o potencial do pensamento. 

A mistura desse conjunto me levou a optar por uma carreira conectada com ciências exatas e a escolhida foi a Engenharia Civil.

Quando comecei a minha trajetória profissional no canteiro de obras, achei que muitas coisas tinham mais sentido se fossem automatizadas, isso no início dos anos 1990.

Talvez um senso grande de inconformismo com processos que consumiam energia e que demandavam muito esforço para serem compilados foi um motivador para a transição para a tecnologia.

Assim consegui integrar as duas áreas de conhecimento. De forma concreta, a sincronização entre Engenharia e Tecnologia começou no ano de 1999, quando comecei a trabalhar em uma startup de construção.

Apesar de atuar nessa época na área de marketing, não demorou muito para perceber que eu me identificava mais com a tela de prompt do que com a operação de estratégias de GTM.

E em 2003 foi quando surgiu a oportunidade de estruturar o primeiro sistema da Autodoc, que focava nos processos de qualidade das construtoras, e que efetivamente a paixão por tecnologia ficou mais forte.

Acho que me encontrei e fomos além da ferramenta de qualidade, incorporando novas aplicações a projetos, inspeção de obras, assistência técnica e gestão da Força de Trabalho (Workforce).

Estamos em um momento muito desafiador de transformar todas as nossas soluções em uma Plataforma para levar mais inovação tecnológica e integração de dados de valor para os nossos clientes, bem como otimizar os processos de Engenharia com avanços tecnológicos”.

Como você enfrentou e enfrenta os desafios da sua carreira?

“Acredito que para alcançarmos os objetivos que estabelecemos para a nossa vida é necessário muito trabalho e esforço.

A dedicação incansável e a persistência também são partes fundamentais para essa fórmula de superar desafios dar certo. 

Enfrentei, muitas vezes, o ciclo desafiador de inovar, apresentar a proposta aos potenciais clientes e tive que lidar com a decepção de não atender às expectativas. 

Estas experiências, embora frustrantes, foram importantes para desenvolver a resiliência para conseguir seguir em frente.

Os contratempos me ajudaram a ter cada vez mais a minha convicção inabalável de que tinha que encontrar uma solução que entendesse a realidade do cliente construtora e desenvolvesse a minha determinação de enfrentar desafios.

Além disso, aprendi que ouvir atentamente profissionais que tinham muita experiência, que tinham disposição de compartilhar o seu conhecimento, fortaleceu as teses ‘de fé’ que tinha modelado.

Muitas vezes, é preciso manter a disciplina e foco em premissas bem estruturadas para não cair na armadilha do ‘nice to have’ versus ‘must to have’. O aprendizado a partir do que erramos são os melhores inputs para seguir em frente”.

Quais qualidades te levaram ao sucesso?

“Para mim é sempre um desafio discutir as minhas próprias qualidades, pois acredito que os outros podem melhor avaliá-las. 

Mas talvez muitas das minhas qualidades estejam ligadas a minha curiosidade intelectual que impulsiona incessantemente o conhecimento sobre tudo o que me cerca e que é combustível para conexão de diferentes áreas de conhecimento.

Meu pensamento reflete uma crença em desenvolvimento pessoal constante e estou consciente de que sempre há espaços para melhorias. E mais do que isso: reconheço que tenho muito a aprender.

Contudo, a humildade talvez seja um atributo essencial para qualquer pessoa e busco continuamente essa qualidade para alcançar as distâncias do caminho do desenvolvimento pessoal e profissional.

Considero que, nas nossas interações com as pessoas, é importante valorizar e respeitar as diferenças. Isso não apenas enriquece a nossa experiência, mas também cria um ambiente de trabalho mais eficiente e acolhedor”.

Liderança: que dicas você daria para novas engenheiras que querem seguir a carreira empreendedora?

“Acho incrível hoje visitar muitos canteiros de obras e encontrar engenheiras mulheres na liderança. Acho que as mulheres têm que ocupar os lugares que elas acham que tem capacidade de liderar.

Quando acreditamos que podemos ser influenciadoras positivas e que o que temos para compartilhar vai ajudar construtivamente o ecossistema, temos que defender as nossas ideias.

Mas também precisamos compreender que as ideias evoluem e não estão escritas na pedra.

A procura por engenheiras que já enfrentaram circunstâncias parecidas com os nossos desafios pode trazer uma troca de experiência valiosa para nossas incertezas.

Nos canteiros de obras, tive a oportunidade de aprender imensamente com mestres de obras, cuja sabedoria vinha de anos de prática e vivência na realidade de execução de projetos e obras.

Cultivar um ambiente colaborativo e inclusivo é essencial para acompanhar as constantes e rápidas evoluções do impacto da tecnologia na Engenharia.

Portanto, é importante promover uma jornada compartilhada de capacitação continuada e de experiências práticas que enriqueçam e impulsionem o desenvolvimento. Aproveite as oportunidades de aprender a partir das suas experiências”.

Continue conosco para acompanhar outras histórias inspiradoras de mulheres que construíram carreiras de sucesso na construção civil. Leia a entrevista que abriu a série deste ano Mulheres na Construção: Edna Possan!