No segundo episódio do Assuntos Concretos da temporada 2022, nossa convidada Thaisa Correa – sócia da Edificart Construtora e Incorporadora nos contou sobre o novo comportamento de compra com relação às novas moradias e sobre as tendências de mercado para essa nova demanda.
Confira!
A relação das pessoas com a suas casas no pós-pandemia
“Principalmente para quem está nos centros urbanos, se deparou com uma situação de ficar em casa. A vida vinha muito naquele sentido: ‘eu paro pouco em casa, não importa se meu apartamento é pequeno, a gente tá na correria, só entra para dormir, e a vida é na rua’.
A vida social era muito intensa, então a vida urbana era muito intensa. As pessoas, às vezes, não se davam conta de qual era o espaço que ela estava, qual era o apartamento, o que ela comprou, o que ela chamava de lar. A partir do momento que ela se viu tendo que estar em casa em um período contínuo, essa relação ficou, ou de amor, ou de rejeição.
Do tipo: ‘eu realmente me identifico com o espaço onde eu estou, eu realmente me sinto bem, a minha casa pega sol suficiente, eu tenho uma iluminação, uma ventilação adequada, e o meu corpo físico, além do meu estado mental, se sente bem dentro do meu espaço lar’.
Por um outro lado, quem não teve essa sensação, começou a se deparar com: ‘eu não gosto de morar aqui, e como é que eu gostaria de morar?’ Nesse quesito da ideia de como morar, acho que teve um resgate. O que é realmente importante para o ser humano dentro da sua casa? Dentro do que faz parte de si, porque é a extensão do ser, da família. Então, o que realmente é importante?
Eu acho que essa percepção, essa visão de valores pessoais e físicos ficou muito evidente. A gente percebeu muitas pessoas saindo de apartamentos para ir morar mais longe em casas, em condomínios fechados, em locais que elas pudessem ter o contato com o solo, o contato com a natureza, em locais que se sentissem seguros, se sentissem saudáveis.
Então, essa relação, sem dúvida, mudou, não só nesse sentido, mas também na conexão: ‘eu não posso mais visitar, talvez, um parente’; e como é que a tecnologia entrou nisso tudo. Coisas que já estavam acontecendo, que já eram percepções humanas e movimentos de que vinha acontecendo, e até alguns deles a mais de 40 anos, mas que de repente tornou-se tácito, tornou-se necessário do dia para noite. Foi uma virada de chave.
E aí, eu vejo que isso nasce na questão dos projetos. É uma coisa que nós aqui na Edificart já defendíamos muito: Por que a pessoa tem que estar ou em um polo ou no outro? A gente se via muito como, ou a gente é moderno, tecnológico, urbano; ou então eu sou da área rural e eu gosto da natureza. Por que o ser humano vai lidar com dualidade se no fundo nós somos uma essência completa?
Então, o projeto começou a ter essa característica, por que a pessoa que mora em um apartamento tem que abrir mão de um jardim? Ou se ter o contato com as plantas, seja em uma área comum ou, às vezes, até dentro do seu próprio apartamento, com jardins privados, que é o que a gente vem propondo.
Para que desconectar? A gente precisa da tecnologia, a gente tem que ter esse avanço dos materiais de internet, tudo que isso engloba, mas sem ter que escolher entre estar em um polo ou no outro. No fundo, a gente precisa dos dois, a gente precisa da facilidade do dia a dia.
A gente precisa da internet funcionando, da conexão com as pessoas, a conexão com o mundo, mas o lar tem que ter uma abertura grande, que o sol entre, tem que ter qualidade de ar interno. E como é que a gente garante isso? Essa concepção, essa visão, para mim, é esquecer as dualidades e integrar toda essa necessidade humana dentro do mesmo espaço físico.”
Principais transformações das moradias daqui a 10 ou 15 anos
“Eu acho que vão se concretizar coisas que já estão acontecendo, e claro, vão nascer outras muitas mais. Mas o que eu acredito mesmo que vá se posicionar, por exemplo, quando a gente fala em cidade, a gente fala em impermeabilidade do solo, por exemplo. Hoje, a interação urbanística nos edifícios já fala disso, então, precisa deixar uma área. A gente já percebeu que a gente construiu demais e a permeabilidade do solo não existe, então, já fala-se disso.
Eu acredito que para os próximos 10 anos vai ter essa inserção urbana, da Prefeitura dizer que edifício também tem que fazer o seu reflorestamento, ele também tem que trazer essa oxigenação, e essa tendência de vida para dentro do prédio como um organismo vivo, dentro da cidade.
Então, eu acredito que todos os edifícios vão ter que ter pelo menos uma área comum, uma área verde, uma horta urbana. Eu acredito que os índices de energia limpa, que hoje não é uma obrigação, vão se tornar uma obrigação.
Os edifícios vão se tornar mais autossuficientes. Ele vai ser capaz de, talvez, reciclar o seu próprio lixo, por exemplo. Por que demandar tudo isso externo se o edifício é capaz de fazer uma triagem e já resolver parte dos resíduos? Eu acredito que ele vai ser autossuficiente nessa questão de eficiência energética, eficiência de reuso de água, e acredito que ele vai ter seus aspectos naturais.
Quando a gente fala em tecnologia, é onde a gente abrange muito mais. Hoje a dificuldade é essa coleta de informações. A gente tem as luzes que acendem e apagam através de comandos, os eletrodomésticos estão se tornando mais eficientes, mas eu acredito que a gente pode ir muito mais longe.
Talvez um computador possa prever que acabou o leite, e vai direto para o mercado a informação, que chega na sua casa, e você recebe a informação no celular de que a sua caixa de leite chegou, por exemplo, com autorização. Eu acho que essa facilidade do dia a dia, ciência, a economia de tempo humano, que é onde a gente pensa em centro urbano.
A gente economizar tempo, isso vai ser o foco da moradia. Como vamos identificar as pessoas, como trazer segurança para as pessoas, seja biometria facial ou digital. Tudo isso já está acontecendo, mas eu acho que vai se tornar democrático, ela vai se tornar real no dia a dia de cada um. Hoje essa tecnologia existe, mas ela vai chegar em uma escala maior, vai se tornar palpável.”
A gestão do edifício inteligente
“O edifício é um organismo vivo, funciona através de várias conexões, da hidráulica, ao preventivo, à caixa d’água. Isso já existe, esse mapeamento de, por exemplo, se uma boia da caixa d’água estraga, esse sensor já leva a informação ao síndico, para a administradora, então aquele alerta já vai aparecer antes que a água transborde pelo edifício como um todo.
Ou até um detalhe mais fino, onde tem que estar parado o elevador, que é onde as pessoas circulam mais, para que você economize mais energia? Então, essa coleta de informações, de como é que as pessoas usam o espaço: elas frequentam mais o Roof Garden, por exemplo?
Também acho que é tendência para o futuro, os telhados se transformarem na principal área de lazer, e de área comum, e de área verde, isso já vejo como uma coisa consolidada. E entender onde é que o usuário está, como é que ele frequenta, como é que ele se movimenta, e desses dados posso fazer com que o edifício seja mais inteligente, dê mais resultado.
E diria um pouco mais, eu acho que em algum momento, principalmente nas cidades desenvolvidas, de dentro do edifício vai dar para saber que horas chega o trem, e talvez ele esteja passando debaixo do próprio edifício. A pessoa vai sair da sua casa: ‘ah, é o meu ônibus está chegando’, ela vai descer e vai chegar no ponto de ônibus, que está dentro do seu próprio prédio.
Então, acho que essas facilidades vão acabar acontecendo.”
Uso intensivo de inovações e tecnologias inteligentes e aspectos de sustentabilidade
“Quando a gente fala da tecnologia primeiro, eu acredito que tudo que facilita quando a gente pensa na casa, é tudo o que facilita o dia a dia. Então, pode ser uma programação do celular, de controlar quem vai entrar ou não entrar na sua casa. Por exemplo, você pode estar no trabalho e autorizar uma entrega via celular, sem depender de um porteiro.
A tecnologia do controle do edifício como um todo, que estávamos comentando antes, da gente poder mapear o edifício, torná-lo inteligente, torná-lo eficiente, diminuir a manutenção, diminuir os custos finais para o cliente. Isso já é uma coisa que existe.
Agora quando a gente fala da construção, e que isso conecta ao ser humano, eu iria mais a fundo na questão dos materiais. Por exemplo, de materiais de construção civil.
Isso no Brasil, eu vejo que a gente tá caminhando muito lento, quando a gente fala de uma construção mais tecnológica, numa construção mais sustentável, a gente se baseia em controle de resíduos, talvez reaproveitar a água da chuva, ter algumas placas solares em poucas obras, que possam usar um pouco da energia, apesar que a gente usa uma energia de alta tensão, então é difícil em placa solar de resolver.
Mas, fora do país, a gente já vê, por exemplo, essa questão da diminuição do CO2 tácito em produtos: concreto ecológico, cimento ecológico. Hoje tem materiais que absorvem a luz do dia e à noite e eles refletem, então, eles servem para a pavimentação de ciclovias, às vezes até externo, em museus, em obras públicas. Tudo isso dá uma redução, por exemplo, do consumo energético eficiente, realmente do que diz respeito à construção.
A gente sabe de materiais, por exemplo, que adicionado micro-organismos, e adicionado à pintura, transformam o gás carbônico em oxigênio. Isso garante uma qualidade do ar como um todo, tanto interna quanto externa.
Essas soluções, a gente está vendo que estão se tornando uma coisa muito real, muito tácita, que no Brasil a gente ainda vê pouco. A gente não conseguiu trazer isso com uma inserção direta dentro da construção civil. Mas que fora, isso está acontecendo, e a gente sabe que o que está fora, a tendência é que nos próximos 10 a 15 anos estejam também presentes dentro das nossas obras.
Isso acontece principalmente pelo custo. A gente não tem uma indústria tão forte, uma concorrência, a gente não tem nossas indústrias tão fundamentadas e com apoio político e econômico, para que elas possam desenvolver muito firme esse material e com uma concorrência. A gente tem poucas indústrias, eu diria, pouca disponibilidade de material no mercado.
Então, muita coisa viria importada, que para gente gera um custo elevado. E a gente não tem indústrias ainda bem fundamentadas para poder desenvolver isso. Então, a gente acaba tendo pouco acesso a esses materiais. E a margem da construção civil ainda, como indústria, se comparar a outras indústrias que já estão falando de industrialização, de lean construction, há muito anos, a construção no Brasil está caminhando nesse sentido.
Sem essa junção da indústria produzindo materiais para dar suporte para a indústria também da construção civil, os custos acabam ficando elevados e a margem acaba. É um jogo que vai fluindo, sendo construído pouco a pouco. Vai criando relevância, os clientes vão tomando consciência disso.
O mercado vai virando a cabeça quando a gente fala da sustentabilidade, o cliente tá ciente da sustentabilidade, as pessoas estão mais conscientes, estão pedindo por produtos que nos deem esse resultado. Mas isso não vai caminhando com a economia junto, tem uma questão forte econômica sempre presente.”
A demanda do consumidor por sustentabilidade e tecnologia
“A gente vem há uns 12 anos reeducando a maneira do cliente pensar, pedindo que ele experimente isso, essa conexão humana do projeto que abrange a sustentabilidade, que abrange a tecnologia, e que abrange as necessidades humanas. A pandemia para a gente foi fundamental, porque deu um boom nessa percepção.
Hoje, a gente percebe mais claro que as pessoas estão mais conscientes, mas eu acho que além da consciência, elas estão experimentando a possibilidade disso, de viver uma maneira mais sustentável, exigir produtos mais sustentáveis, entendendo que é uma engrenagem, que cada um vai ajustando e fazendo um pouquinho. Vai tomando as indústrias, vai tornando a economia, vai tornando, inclusive, essa questão do fisco político, esse incentivo político, também vem muito do que as pessoas pedem, em uma tendência daquilo que vai acontecer. Eu vejo que as pessoas estão mais coerentes, decididas, e sempre que elas tenham condições de optar por isso, elas vão optar.
O otimismo com o processo de amadurecimento da sociedade
É um momento que a gente consegue pôr em prática gradativamente. Alcançamos esse estágio aqui de sustentabilidade, nosso cliente está contente, ele começa a dar valor para aquilo ali, ele começa a dar valor, inclusive financeiro para aquilo, ele exige aquilo no mercado. A gente vê que isso influencia o entorno.
A gente vê outras pessoas fazendo, outras construtoras desenvolvendo produtos similares, mais pessoas tomando consciência disso, e com isso mais gente se interessado por isso. E a mídia como um todo, os produtos também, o design, estão entrando nessa pegada. Todo mundo vai caminhando e faz com que a gente fique mais motivado: ‘Então, tá! Qual é o próximo passo? Para onde que a gente vai? Aqui a gente conquistou, vamos um pouquinho mais além.’
O resultado disso é a venda, para a gente é a venda, a venda do produto real. Quando a gente têm lançado produtos diferenciados, como o último produto que a gente fez, todos os apartamentos com jardim suspenso, a gente estava lançando isso no mercado totalmente inovador para nós aqui, e isso foi igual à água. A gente está precisando de mais terreno para fazer outro produto desses.
Então a gente realmente vê com o resultado que as pessoas estão experimentando isso, estão sentindo o quanto isso faz bem, o quanto isso traz vida, e aí não tem volta atrás.”
Os principais projetos da Edificart para 2022
“Os nossos projetos são voltados para as residências mesmo, são muitos edifícios residenciais, o nosso foco é essa conexão humana de todas as pontas. Quando a gente fala na arquitetura, a gente fala em arquitetura de experiência, isso também está em alta.
A gente traz esses elementos, por exemplo, como um jardim suspenso, que a gente escutou falar isso lá na história da humanidade. A gente traz isso como um resgate de quando a gente tinha uma casa, a gente ia lá na edícula, fazer um churrasco, passava pelo jardim, para daí tem essa convivência familiar.
Outros elementos que a gente ve importantes, que estão em alta também, é a biofilia, e agora tem o nome para isso, que é o resgate dos materiais naturais. Estamos falando de pedra, madeira, os vãos que fogem do padrão. A gente está trazendo produtos que não tem mais janela de 1.20 por 1.20, a gente tem janelas de 2 metros, que vão do chão até o teto. Que é para a entrada de luz, ela ser realmente relevante, realmente ter o banho de sol dentro da sua casa, cuidar da ventilação cruzada.
E em tecnologia, a gente tá trazendo o que já existe no mercado hoje. Tem toda essa questão do controle facial, aquilo que a gente comentou: do cara poder, do seu escritório, às vezes pedir a comida, o entregador vai lá e coloca no Locker, quando aquela pessoa chega em casa, ela pode estacionar o seu carro na garagem, botar para carregar em uma tomada elétrica, e enquanto passa, pega a sua refeição quente, e sobe para casa para poder jantar em um dia que foi de correria.
Mas em um dia que não foi de correria a gente preserva, por exemplo, a área de churrasqueira e cozinha muito próximas ao jardim, que é para poder fazer com esse contato familiar respalde também, e a gente possa ter essa dualidade toda dentro do mesmo ambiente.”