Na busca por soluções mais eficientes, seguras e sustentáveis, o mercado de instalações elétricas para obras está passando por uma revolução impulsionada pela tecnologia e inovação.
Três tendências emergentes estão moldando o cenário atual e o futuro desta área crucial dentro da construção civil: a energia renovável, os sistemas inteligentes de gestão de energia e os cabos de última geração.
Para falar sobre o assunto, conversamos com dois especialistas:
- Wagner Roberto Andolfato Sousa, engenheiro eletricista e de segurança do trabalho e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (CREA-PR); e
- Janio Denis Gabriel, mestre em Engenharia de Automação e Sistemas de Energia, professor de Engenharia Elétrica na Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e diretor da EGNEX.
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1. Energia renovável
Principais fontes de energia renovável em instalações elétricas para obras
Atualmente, a energia solar fotovoltaica vem sendo a fonte predominante em instalações para edificações.
Isso acontece, segundo Janio Denis Gabriel, devido a sua facilidade de instalação e operação, além da disponibilidade do recurso natural utilizado no processo, no caso a luz do sol.
Em outras situações, os aerogeradores também podem ser interessantes para a geração de energia.
“A aplicação vai depender de um estudo do potencial eólico da região. Apresentando ventos com certa velocidade e constância, a instalação pode ser viável”, explica Gabriel.
Benefícios e desafios do uso de energia renovável em instalações elétricas
Conforme o entrevistado, o principal benefício de investir em energia renovável é a economia imediata.
“Sem falar que a edificação fica imune aos aumentos de energia anuais em relação àquela parcela de energia que o sistema gera”, ressalta.
Outro grande benefício é a geração de uma energia 100% limpa, o que é um diferencial no atendimento de requisitos para a certificação.
“Além de colaborar para a redução de emissões, podendo ser explorado pelo cliente como um dos recursos para atendimento de metas de ESG e do atendimento de alguns dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU”, completa.
Já sobre os desafios da implantação de sistemas fotovoltaicos em edificações, Janio Denis Gabriel cita a falta de espaço previsto no projeto como um dos principais.
“Existe uma necessidade de que arquitetos e projetistas se sensibilizem a incluir o estudo da implantação de sistema fotovoltaico como um dos projetos básicos. Com isso certamente os desafios de instalação seriam menores e a performance de geração seria melhor”, orienta o convidado.
Ele acrescenta que, apesar dos sistemas de micro e minigeração terem regulamentação a mais de 10 anos, o assunto energia ainda é um tabu para projetistas e para quem vende os empreendimentos.
“O primeiro não dá importância como deveria e não vê relevância em ter profissionais vanguardistas no assunto, e o segundo não sabe utilizar a energia no processo de venda para o cliente final”, analisa.
Tecnologias mais recentes e inovadoras para o uso de energia renovável em instalações elétricas
Janio Denis Gabriel prevê uma verdadeira revolução no setor de energia nos próximos 25 anos.
“A energia renovável terá fundamental importância para frear o aquecimento global, pois a partir da geração de energia limpa devemos eletrificar quase tudo. Um exemplo são os veículos elétricos que já vemos nas ruas”, cita.
Conforme o entrevistado, a energia solar instalada em edificações será associada a utilização de sistemas de armazenamento em baterias.
“As baterias vão permitir tornar o sistema fotovoltaico intermitente, ou seja, gerar energia de forma variável de acordo com a luz para uma fonte firme de geração, garantindo um valor mais constante”, explica.
E não somente isso. Gabriel acrescenta que as baterias poderão ajudar a deslocar a curva de geração dos painéis solares para horários de maior necessidade, ajudando a reduzir a demanda de pico do sistema elétrico, além de otimizar o retorno de investimento por compensar a energia em um horário onde ela é mais cara.
2. Sistemas inteligentes de gestão de energia
A energia toma cada vez mais protagonismo em nossas vidas. Logo, não conseguimos viver sem seja ela qual for, certo?
No caso da elétrica, que sempre esteve disponível desde quando nascemos, ela só se torna relevante no momento que falta ou quando dói no bolso.
“Para resolver esses problemas é fundamental fazer a gestão energética. Não é apenas uma questão de monitorar o consumo de energia dos circuitos ou a geração do sistema fotovoltaico, mas sim qual a forma mais eficiente e lucrativa de utilizar o recurso energético disponível”, comenta.
Conforme Gabriel, o mercado atual de energia está se tornando mais moderno e flexível, permitindo que geradores e consumidores costurem os próprios acordos por meio do mercado livre de energia.
“Podem trazer reduções consideráveis na conta, mas que precisam de um gestor de energia para ajudar”, exemplifica.
Benefícios e desafios do uso de sistemas inteligentes de gestão de energia em instalações elétricas
A redução de custos e o aumento da disponibilidade do recurso energético, ou seja, a garantia de ter energia mesmo na ausência da rede elétrica principal, são os principais benefícios do uso de sistemas inteligentes.
Contudo, para a implantação desses sistemas, é necessário contar com profissionais especialistas no assunto.
“Existe uma barreira, uma resistência, em tratar de forma adequada a energia nos projetos de edificações. Não é apenas uma questão de atendimento de norma, mas dentro dela e dos recursos já disponíveis poder tirar vantagens competitivas”.
Tecnologias mais recentes e inovadoras
O mestre em Engenharia de Automação e Sistemas de Energia cita algumas das tecnologias mais recentes que estão surgindo quando o assunto são os sistemas inteligentes de gestão de energia.
Uma delas é a solução de energia Behind The Meter, onde é possível controlar o consumo de determinados circuitos, limitando os horários de uso ou potência em detrimento dos horários onde a energia é mais barata, ou até para aliviar a demanda.
Como exemplo, Gabriel cita a recarga de veículos elétricos, algo presente em muitas edificações e que representa um aumento na demanda de energia não prevista no projeto.
“A infraestrutura de energia existente não suporta, muitas vezes, que 15% dos usuários recarreguem seus veículos simultaneamente em determinados horários, com risco de sobrecarregar o circuito e deixar todos no escuro”.
3. Cabos de última geração
Wagner Roberto Andolfato Sousa explica que a engenharia de desenvolvimento de cabos evoluiu muito nas últimas décadas, principalmente em função dos problemas causados por instalações elétricas inadequadas.
“[Essas instalações] faziam com que o cabo elétrico sofresse sobrecorrente e gerasse aumento da temperatura, tendo como consequência final grandes incêndios, como os dos edifícios Joelma e Andraus”, lembra.
Sousa acrescenta que, até os dias atuais, cerca de 50% dos incêndios domésticos têm origem elétrica.
Com base nesta informação, a engenharia de desenvolvimento de produtos e as normativas técnicas para cabos elétricos vem buscando melhorias para que os riscos oriundos dos cabos elétricos sejam minimizados.
“Cabos elétricos normatizados possuem hoje a propriedade de não serem propagantes de chamas, além de não conterem chumbo em sua composição (NBR 5410 e NBR 247-3)”, cita.
“Mas para aplicações específicas de grande aglomeração de pessoas, a normativa já trás em suas exigências a utilização de cabos livre de materiais halógenos, que faz com que não emitam gases tóxicos quando em caso de incêndio (NBR-13570)”, acrescenta.
Cabos de última geração: esteja atento a temperatura da operação
Outra propriedade dos cabos elétricos a que o construtor deve estar atento, conforme Sousa, é a temperatura da operação.
“Quanto mais alta a temperatura de operação dos cabos mais este conseguirá suportar uma sobrecorrente e, desta forma, podemos evitar um ponto de aquecimento que poderá resultar em consequências trágicas”, explica.
“Felizmente é comum no mercado brasileiro termos cabos iguais ou superiores a 90°C de temperatura de operação em serviço contínuo”, exemplifica.
Material isolante dos cabos
O material isolante dos cabos é outra questão de extrema importância, podendo também ser um agente causador dos problemas já citados anteriormente.
“A grande maioria é feito de materiais termoplásticos, podendo ser de uma ou duas camadas”, cita o convidado.
“Também há cabos que são formados por várias vias de condutores isolados, e para facilitar a aplicação possuem mais uma camada de materiais termoplásticos. Este produto possui mais robustez e durabilidade, principalmente se utilizado em instalações provisórias como as obras”, ressalta.
Há, ainda, uma evolução importante dos isolamentos para compostos de borracha de etileno-propileno (EPR ou HEPR) para uma camada maior deste mesmo material.
“Estes materiais possuem uma alta capacidade isolante e de resistência física. São produtos tão resistentes que alguns fabricantes adequaram os cabos com este isolamento para utilização em ambientes submersos para até um metro de coluna d’água”, explica.
“Não é uma regra, pois a evolução dos produtos é cada vez mais vertiginosa, mas normalmente quanto maior a tensão de operação (V) do cabo elétrico maior é sua isolação”.
Para finalizar, Wagner Roberto Andolfato Sousa deixa um alerta importante para quem trabalha com instalações elétricas:
“Apesar de toda esta tecnologia, ainda é necessário todo o cuidado com os demais requisitos de uma instalação elétrica, como proteção contra sobrecargas, dimensionamento correto de condutores e outros requisitos que são explícitos nas normas técnicas”, orienta.
“Pense a respeito e aja com consciência. A vida é muito importante para ser desperdiçada por causa de uma economia em relação à instalação elétrica”, conclui.
Se você quer continuar a se aprofundar sobre o assunto, leia nosso conteúdo sobre “Energia renovável na construção: vantagens e como rentabilizar”!