Hoje recebemos Luiz Antônio Lopes, Gerente de Desenvolvimento de Novos Negócios da Eternit, uma das maiores empresas fabricantes de telhas e materiais de construção do país.Vamos falar de inovação. A Eternit apresenta ao mercado a primeira telha fotovoltaica de concreto do Brasil, produzida na fábrica de sua marca subsidiária Tégula Solar.
Vamos conhecer o processo de desenvolvimento dessa telha que tem tecnologia 100% nacional. Também vamos saber sobre as expectativas para o início de sua comercialização no mercado brasileira, que dá mostras de estar em plena expansão.
Dados da Agência Nacional de Energia Elétrica e do Portal Solar mostram que em 2019 o setor no Brasil cresceu mais de 212%, com mais de 110 mil sistemas fotovoltaicos de mini e micro geração instalados, e estima-se que em 2024 o território brasileiro contará com aproximadamente 887 mil sistemas de energia solar instalados e conectados à rede.
Concrete Show: Por que a decisão de investir em telhas fotovoltaicas e qual o impacto disso na dinâmica da empresa?
Luiz Antônio Lopes: “Isso vem de um processo que começou lá em 2017 de inovação e de ver como seria o futuro da Eternit. A gente sabe que as telhas de fibra cimento, o carro-chefe da empresa, é um produto que está aí há mais de 70 anos, que tem muito sucesso e aplicação, mas a empresa também queria ver como ela seria no futuro.
Fazia parte disso o processo de substituição do amianto por fibras que já estava em andamento, mas existiam outras possibilidades de produtos que a gente poderia fazer, e começamos esse trabalho de inovação.
Buscamos em consultorias, em tendências da sociedade, em benchmarks com empresas na Europa, na Ásia e em outros locais do planeta sobre o que estavam fazendo, o que estavam desenvolvendo e quais eram os carros-chefes delas.
E nessa linha de produção nós vimos várias possibilidades, como sistemas produtivas, a agregação de maior valor ao telhado, toda a questão de sustentabilidade, como está movimentando toda a sociedade, as novas tecnologias, você poder gerar sua própria energia, e o fotovoltaico também estava tendo um crescimento bastante grande.
Ele passou daquela fase de ser uma coisa do futuro e é uma realidade já. Então hoje os sistemas se pagam em poucos anos de uso, a energia está sendo usada cada vez mais, ninguém mais quer consumir combustíveis fósseis, quer uma energia limpa, renovável, que seja confiável, e o Brasil tem esse potencial solar e essa possibilidade.
Somos agraciados com esse quinhão do Sol que é bastante bom, então a gente falou ‘nada mais natural que conseguir juntar o fotovoltaico com a telha, que já é um elemento construtivo que faz parte dos nossos telhados, e por que não juntar isso à própria telha ao invés de criar alguma coisa acima do telhado?’, e essa foi nossa busca.
Normalmente o concreto não é muito amigo do fotovoltaico. Se você olhar o fotovoltaico produz bem quando há bastante luz e sol, mas não quando há bastante calor, pois ele até prejudica a geração fotovoltaica. Por isso que as placas são colocadas acima do telhado, espaçadas, com alguma ventilação.
O nosso desafio foi justamente desenvolver uma tecnologia que foi feita aqui no Brasil e que pudesse juntar o fotovoltaico diretamente ao concreto. Achamos pesquisadores nacionais, tivemos ajuda da Universidade de Santa Catarina, da USP, que são os laboratórios nessa pesquisa no Brasil, e conseguimos realmente fazer essa junção da telha de concreto que tem boa resistência e confiabilidade com o fotovoltaico, e estamos fazendo o mesmo também para a fibra cimento.
Os módulos são fabricados principalmente na China hoje usam vidro e alumínio. Eles procuram usar esses componentes para dar resistência à estrutura e ao mesmo tempo serem exportados. A gente já tinha a possibilidade de fazer as telhas aqui, e nos estudos que a gente fez, e sabemos que não é necessário você usar todo o seu telhado fotovoltaico para gerar energia para sua residência ou comércio.
Apenas uma parte desse telhado é suficiente para gerar a energia que você consome, e dentro dos estudos que a gente fez casava muito bem. Então tem uma parte do telhado comum, uma parte é suficiente para gerar a energia, com uma boa estética, com o estilo arquitetônico que estamos acostumados, com o conforto técnico que temos com o concreto e a fibra cimento que já são conhecidos no mercado brasileiro.
Concrete Show: Por que usar o concreto nessa nova solução? Quais vantagens ele traz?
Luiz Antônio Lopes: “Nesta pesquisa a gente viu outras telhas, a Tesla principalmente, na China, mas elas são feitas de outros materiais, são feitas de vidro, de outros materiais que não são utilizados no Brasil. Nós temos nossa característica de construção, nosso clima, a umidade, e sabemos que o concreto e o cimento são muito bem utilizados e aceitos aqui no Brasil.
Então mesmo que existam outros produtos, não queríamos mudar o que o brasileiro já está acostumado a utilizar. Só quisemos agregar a tecnologia fotovoltaica à uma base já existente. E o concreto já oferece uma excelente resistência, por isso conseguimos eliminar o alumínio, o nosso recobrimento também foi um pouco diferente do vidro que é utilizado nos módulos.
Então a gente falou ‘vamos utilizar o que as pessoas já conhecem e confiam’, porque a construção tem a questão de que precisa ser confiável e durar bastante tempo, e tem muito receio ou risco de usar produtos novos que não vão funcionar bem no Brasil.
Já vimos casos de aceitação de produtos alternativos, novas tecnologias, no nosso mercado de construção tende a ser um pouco mais conservador. Então quisemos usar o concreto que já é bem confiável e resistente, é um excelente custo-benefício, talvez o melhor na questão de coberturas e fachadas, e agregar o fotovoltaico. E conseguimos fazer com bom sucesso, estamos tendo muitos bons resultados com a gestão fotovoltaica agregada.
O principal é que temos um telhado agora que gera uma renda mensal. Ao invés de eu pagar para a concessionária essa energia que é cada vez mais fundamental, agora temos no nosso telhado que era utilizado só para conforto e proteção contra a chuva, e agora passa a ser uma fonte de renda.
E dentro do nosso conceito de manter a arquitetura, de ter uma estética muito bonita, fizemos alguns projetos pilotos recentemente e a aplicação do fotovoltaico fica com uma estética muito agradável, e juntando aí com a questão de produção, sustentabilidade, está adequado ao novo mundo que estamos vivendo de uma forma bem interessante.”
Concrete Show: A indicação dessas telhas fica restrita ao nível residencial, ou ela tem aplicações diversas?
Luiz Antônio Lopes: “A tégula solar, a telha de concreto de menores dimensões, como do tamanho das cerâmicas, elas tem aplicação principalmente residencial, tanto em casas populares por construtoras residenciais que constroem quinhentas mil casas, pela produção elas utilizam a tégula.
E ela também é utilizada em casas de alto padrão pelas cores, variedades e modelos, então ela tem tanto popular, médio e alto padrão. Para edifícios comerciais e industriais, galpões e nas casas onde o telhado não é aparente, aí já é mais utilizada a fibra cimento, que é outro modelo que também estamos desenvolvendo.
Ela é uma telha maior, de dois metros e quarenta e quatro por um e dez, e já tem essa aplicação que vai mais para edifícios industriais, comerciais e também para o agronegócio. Temos possibilidades com aviários, com fazendas, então com esses dois modelos de telha nós vamos acabar cobrindo uma boa gama de aplicações.
Até algumas indústrias que são possíveis clientes nossos têm nos contactado falando que a sede da indústria ainda é feita com telhas cerâmicas, e que querem utilizar telhas do modelo de concreto para a indústria sem descaracterizar aquela sede. E sim, também existe essa possibilidade.
Então com esses dois modelos estamos cobrindo uma boa parte do mercado, e ainda temos a possibilidade de fazer as telhas para fachada, canaletão e outros modelos de telha que podemos possivelmente lançar em fotovoltaico também.”
Concrete Show: Em que fase de produção estão as telhas fotovoltaicas? Qual é a previsão de comercialização e qual é a expectativa de vocês para a reação do mercado brasileiro?
Luiz Antônio Lopes: “Em 2019 basicamente nós fizemos o desenvolvimento do produto, conseguimos o primeiro registro no INMETRO e bons resultados com a telha de concreto, inicialmente a tégula solar.
Aí demos sequência ao projeto adquirindo uma fábrica com os equipamentos que são utilizados para a produção, então a gente quis confirmar que poderíamos produzir o mesmo produto do laboratório em série, com máquinas definitivas de alta produção.
Fizemos a instalação dessa fábrica em maio de 2020, e seguimos com a instalação dos equipamentos, melhorando a produção, e avançando no fim de 2020 e início de 2021 a instalação dos primeiros projetos pilotos.
São projetos reais, casas em várias localidades do Brasil de padrões diferentes, pequenas, médias e grandes, para entender junto com as pessoas que trabalharam conosco, integradores, fornecedores de equipamento, e os próprios clientes sobre como é a instalação, quais são as facilidades, como fica a estética, então crescer um pouco mais.
E agora estamos acompanhando esses projetos em termos de performance, rendimento, geração de energia, isso tem sido muito interessante e nos ajudou a melhorar algumas coisas do produto. A aceitação tem sido muito grande, muitas empresas e clientes têm nos procurado com várias oportunidades, onde tudo se encaixa muito bem. A gente vê com boa perspectiva e aceitação do mercado tanto das telhas de concreto quanto das telhas de fibra cimento.
Logicamente a gente acredita que vai ter uma boa aceitação do mercado, a gente pretende iniciar a comercialização já no segundo semestre deste ano, passando nos testes que estamos fazendo, inclusive mandando peças para laboratórios internacionais para comprovação da durabilidade.
E avançando no mercado nacional, também porque não é possível que no futuro possamos exportar módulos para serem anexados a outras telhas. Como a gente sabe que o concreto tem um peso grande, assim é um pouco difícil de importá-lo a grande distâncias, mas o módulo nosso que é adaptado ao concreto pode ser exportado porque ele é leve, e depois acrescentado a uma outra peça de concreto.