Recebemos Edosn Basílio, gerente de aplicações e desenvolvimento da Air Products Brasil para contar um pouco de como os gases industriais são aplicados na produção de cimento e no resfriamento do concreto.
A empresa norte-americana é uma multinacional que fornece gases industriais para diversos setores. Vamos falar um pouco sobre o uso de gases como o oxigênio, que é aplicado na produção de cimento, e o nitrogênio, que é utilizado no resfriamento do concreto.
O Edson vai nos contar como esses gases tornam esses processos mais produtivos, seguros e sustentáveis.
Concrete Show: Para começar, gostaria de saber um pouco sobre a experiência da Air Products no fornecimento de gases industriais para a indústria da construção. Há quanto tempo a empresa opera no Brasil e quais são seus setores de atuação?
Edson Basílio: “Como você bem comentou, a Air Products é uma multinacional americana e está presente no Brasil há mais de 45 anos, atendendo mais de 40 segmentos industriais, dentro deles alguns que são do ramo da construção civil, por exemplo o mercado de vidro, de metais, de cimento e concreto, onde ela auxilia no fornecimento de gases industriais e também agregando tecnologia ao mercado da construção civil.
Basicamente, a Air Products é guiada por três pilares básicos que são o de sustentabilidade, do crescimento e do cuidado. O pilar da sustentabilidade e do crescimento, todas as nossas soluções e tecnologias criadas são voltadas com essa pegada de sustentabilidade e de crescimento dos nossos clientes também.
E sempre pensando no cuidado, seja do meio ambiente, da comunidade e de nossos próprios empregados. Nós temos a meta de zero acidentes como target, porque nenhuma possibilidade de acidente é possível de ser mensurada.
A gente até faz uns levantamentos, e quanto vale uma vida? Não há como você colocar um valor, então nossa base realmente é zero acidentes e zero incidentes. Essa é a meta de segurança que promove a Air Products e essa cultura de diversidade e inovação, sempre agregando valor ao mercado.”
Concrete Show: Falando do oxigênio, como acontece a adição do gás no processo de produção de cimento, e quais são os principais benefícios desse tipo de aplicação?
Edson Basílio: “A aplicação do oxigênio se dá lá no começo do processo da produção do cimento. Para se ter uma ideia, ainda é no forno de clínquer, que é um componente básico da mistura do cimento e é basicamente formado por calcário, argila e alguns outros materiais moídos, que ingressam dentro de um forno rotativo que trabalha na faixa entre 1400 a 1500 graus celsius aproximadamente.
E para atingir essa temperatura os fornos necessitam de combustíveis, que normalmente são combustíveis fósseis, como gás natural, o coque, que é um carvão que é muito utilizado na indústria do cimento, e para fazer a queima desse combustível é utilizado o ar de combustão.
E esse ar tem presente nele apenas 21% de oxigênio, limitando a quantidade de oxigênio fornecido para executar uma boa queima desse combustível. Então quando a gente analisa os principais benefícios da aplicação do oxigênio, e quando a gente começa a elevar a concentração de oxigênio no ar, ou seja, começa a injetar oxigênio dentro do forno, a gente tem uma temperatura de queima maior.
E quando a gente começa a ter uma temperatura de queima maior desses combustíveis nós temos três principais fatores em que conseguimos atuar e agregar benefício. O primeiro é que quanto mais energia você tem no forno, mais você consegue produzir. Então o primeiro benefício é elevar a produtividade do forno.
O segundo é que quando você começa a aumentar a quantidade de energia dentro do forno, você pode reduzir a quantidade de combustível, então você economiza. E o terceiro é quando você começa a agregar o oxigênio na queima, você aumenta a temperatura e pode começar a trabalhar com materiais menos nobres, aumentando o uso de combustíveis alternativos, atingindo um patamar de queima que somente queimando ao ar não é possível atingir.
Então o uso do oxigênio basicamente atua nesses três pontos: aumenta a produtividade, redução do consumo de combustível e aumento do consumo de combustível alternativo. E o melhor ainda é que ele pode agregar esses três no mesmo projeto, com todos funcionando ao mesmo tempo.
E a gente precisa fazer um bom estudo do forno e todo o processo para que através do nosso know e da nossa tecnologia, agregado claro ao fornecimento do oxigênio que é o nosso core business, utilizar das nossas tecnologias para melhorar toda essa eficiência de combustão e auxiliar o pessoal da indústria do cimento na redução do consumo de combustíveis fósseis, aumentando o consumo de combustíveis alternativos.
Para se ter uma ideia, o desenvolvimento dessa nossa tecnologia foi justamente voltado à sustentabilidade. Hoje a indústria do cimento como um todo, infelizmente é uma das maiores emissoras de CO2, mas não somente por conta da combustão e desse processo no forno, em que o próprio calcário dentro da reação química no forno gera CO2. Então 70% da geração do CO2 dentro do forno é provida do calcário, e apenas 30% é vinda da combustão.
Então a gente agrega a tecnologia de oxigênio para melhorar essa combustão e com isso trabalhar nesses 30%, mas a Air Products também nessa pegada de descarbonização da indústria começou a desenvolver tecnologias também de captura de CO2. Então não atuamos somente nos 30%, com o fornecimento do oxigênio.
A gente atua também nos outros 70% através de tecnologias que fazem a captura desse CO2. E ela pode ser inclusive aplicada na própria indústria cimenteira, por exemplo ao ser injetada dentro do cimento durante o processo, ele também pode ser utilizado para substituir o uso de ácido para controle de PH de água.
Esse foco da Air Products através da tecnologia e aprimorar a sustentabilidade tem nos permitido introduzir dentro da própria Air Products algumas metas audaciosas de redução de CO2.
Por exemplo, a nossa meta para o ano de 2030 é reduzir em 1,3 milhões de toneladas nossas próprias emissões de CO2 através de nossas tecnologias, e juntando isso à entrega ao mercado é a realização de termos no futuro um mundo mais sustentável e melhor.”
Concrete Show: No caso do nitrogênio no resfriamento do concreto também ocorrem esses benefícios? Como se dá essa aplicação?
Edson Basílio: “O nitrogênio basicamente tem dois pontos de aplicação dentro da indústria e concreto.
Na indústria do cimento ele tem uma aplicação mais voltada ao aspecto da segurança, que é um daqueles pilares da Air Products que eu comentei. Então a aplicação do nitrogênio na indústria do cimento é principalmente nos silos de armazenagem de coque, porque eles com ar dentro promovem uma atmosfera inflamável.
E quando você faz a substituição do ar presente no silo por nitrogênio, você evita qualquer tipo de ignição dentro do processo. Inibindo a presença do oxigênio você tem a possibilidade de risco de explosão ou queima do coque.
E a aplicação do nitrogênio líquido, aí no caso na indústria do concreto, é outra possibilidade de aplicação. E o que ele elimina é o uso de gelo de água gelado, e aí você pode até se perguntar o quão importante é remover esse uso.
Se você pensar em um fator simples de que quando um caminhão betoneira vai carregar o concreto, ele não transporte somente o concreto, mas também água e gelo, perdendo eficiência no processo.
Fora isso tem também o fator de segurança de que o gelo é adicionado por pessoas ao caminhão betoneira, já o nitrogênio é injetado de forma automatizada. No próprio descarregamento entre o silo e o caminhão betoneira é feita a injeção do nitrogênio para ter o resfriamento do concreto.
Além disso também tem a pegada de sustentabilidade, porque ao eliminar essa quantidade de gelo que é transportada você aumenta o potencial de transporte do concreto, porque você substitui o peso do gelo pelo peso do concreto no caminhão, então você diminui de maneira geral as emissões de CO2 do diesel por tonelada de concreto entregue na construção.
Além disso, o gelo hoje em dia é comercializado em bags, embalagens de polietileno, e isso também gera um passivo ambiental bem grande. Então além de você reduzir as emissões de CO2 por aumentar a efetividade de distribuição através dos caminhões, você também gera menos materiais que podem degradar o meio ambiente como os pacotes no qual o gelo é embalado.
O nitrogênio é usado para resfriar o concreto, evitar tipos de trincas, esses são os benefícios visuais. Você aumenta a qualidade do concreto, consegue trabalhar em alta temperatura. Com o gelo é muito difícil você trabalhar em regiões como por exemplo do interior de São Paulo onde as temperaturas estão acima de 30 graus, ou até mesmo na capital, onde a temperatura chega a 28 ou 30 graus onde começa a ser muito complicado o trabalho com gelo ou água gelada.
Fora que o gelo ou água gelada são água doce que estamos utilizando no processo, e cada vez mais estamos vendo os níveis de represa e sistemas de armazenagem sendo reduzidos por conta da falta de água, e aí fazer o uso disso onde você consegue agregar outra tecnologia e reduz esse passivo ambiental, não faz tanto sentido você utilizar hoje em dia água ou gelo no processo.”
Concrete Show: Falando em negócios, qual é a expectativa da Air Products para a comercialização de gases para a indústria da construção nos próximos anos?
Edson Basílio: “A gente vê o mercado da construção como um bom negócio. Aquilo que eu comentei lá na primeira questão, que a gente atua em diversos segmentos dentro da construção, seja na siderúrgica, seja no vidro, ou no próprio cimento ou concreto. Então esse mercado da construção vem crescendo ao longo dos tempos e está plenamente ligado à pegada de sustentabilidade que a Air Products está agregando aos processos dos clientes.
É um mercado muito atraente para a gente, onde vemos um grande potencial de crescimento, com a possibilidade de agregarmos cada vez mais valor a esse mercado. Então é muito interessante e vemos uma boa demanda para o futuro.”
Concrete Show: Hoje em dia inovações que têm como foco a preservação ambiental são predominantes e estratégicas. Pode falar mais disso?
Edson Basílio: “Se você pensar mais a fundo, estamos prejudicando nós mesmos. A partir do momento em que não temos uma pegada sustentável nós estamos prejudicando a nós mesmos como seres humanos.
Por isso que agregando esse tipo de tecnologia nesse mercado nós vemos com muitos bons olhos e com altíssimo potencial de crescimento para os próximos anos.”
Concrete Show: Qual é a sua visão sobre o mercado da construção no país?
Edson Basílio: “Se você pegar dados do setor da construção civil você verá que nos últimos oito anos é um mercado em pleno crescimento no Brasil. Agregado a isso, se você pensar que o concreto globalmente falando em consumo per capita só perde para a água, então ele é um dos bens mais consumidos e que não é hoje em dia ainda substituível por outro processo.
Então o crescimento para os próximos anos é um fato certo, e é um mercado que sem dúvidas está em plena expansão, e que abre cada vez mais possibilidades para a indústria de gases fornecer mais tecnologia para esse segmento, então vemos com muitos bons olhos o crescimento da indústria da construção no país.
Estamos otimistas. É um mercado bem atrativo e em pleno crescimento, e para nós é interessante o que comentei, de que não fornecemos apenas para o concreto, mas também para o setor siderúrgico que é utilizado também na construção civil, fornecemos para o mercado de vidro que também é muito utilizado na construção, também na produção de esmalte cerâmico, então temos esse mercado como um dos focos da empresa sem dúvidas.