Hoje vamos falar sobre seguros. Mais especificamente seguros de riscos de engenharia relacionados às áreas de infraestrutura e construção em geral. 

Para contar mais sobre esse mercado, vamos conversar com Sidney Cezarino, diretor de seguros patrimoniais da Tokio Marine, a empresa é considerada hoje a segunda maior seguradora de riscos de engenharia do país.

Como funciona exatamente o seguro de risco de engenharia?

O seguro de riscos de engenharia é um seguro com cobertura para todos os riscos. Então, todos os riscos que possam ocorrer numa empreitada – de origem súbita imprevista, danos materiais – eles são aparados por esse seguro.

E o seguro de risco de engenharia tem uma característica muito interessante, que ele ampara todos os envolvidos na empreitada. O que isso quer dizer? 

O contratante, que a gente chama de segurado, o dono da obra, o empreiteiro responsável, os subempreiteiros – os empreiteiros dos empreiteiros – os projetistas… Todos os envolvidos naquela empreitada são considerados segurados e cossegurados na apólice. Então, é seguro com abrangência muito grande, cobre uma gama enorme de eventos e ele ampara todos esses personagens que estão envolvidos na empreitada. 

E também com cláusulas beneficiárias para, eventualmente, bancos que estejam efetuando investimento naquela obra, ele também entra como beneficiário.

Então, é um seguro indispensável para qualquer projeto, seja qual for o tamanho, ele é muito abrangente.

Como que é contratado o seguro de riscos de engenharia?

Nós precificamos esse seguro com base no tipo da obra, no valor do projeto, no prazo da obra. Então, quais são os documentos importantes? 

O principal é o cronograma físico financeiro, e claro, projetos que expliquem a obra para o nosso pessoal poder avaliar os riscos, poder avaliar quais são as exposições e ofertar melhor apólice, a apólice mais completa possível, para proteger desde o começo da obra – do marco zero – até a entrega.

E nessa documentação, nós temos também uma ficha de informações que são dados gerais da obra, mas os documentos primordiais são o cronograma físico financeiro e os projetos – projeto de arquitetura, projeto de fundações – para o nosso pessoal poder avaliar a obra.

Mas, isso é bastante consagrado, o pessoal tem hoje até, mais do que no passado, quando a gente não tinha as mídias eletrônicas, hoje para a gente receber a documentação é bastante tranquilo.

São controladas todas as variáveis possíveis desse projeto, tempo, custo, acidentes, obviamente perdas materiais…

No cronograma físico financeiro nós avaliamos as exposições. Começa lá com limpeza do terreno, com implantação do canteiro, com fundações, infraestrutura e acabamento. Tudo isso é considerado na precificação desse seguro.

Pensando no construtor de pequeno porte, é muito caro contratar um seguro de riscos de engenharia?

O seguro de risco de engenharia, como ele serve para qualquer tipo de obra, desde uma moradia até uma hidrelétrica, claro que tem variação no custo seguro, e é sempre em relação ao valor total da obra.

Mas a gente tem desde 0,1% do valor da obra até 0,5%. Essa é uma variação que parece elástica,  mas para obras menores, obras mais simples, a gente tem um custo bastante acessível, e para obras mais, complexas um pouquinho maior.

Mas, mesmo assim, em relação a outros insumos que entram numa composição do valor de uma obra, o seguro tem um custo bastante acessível, e com facilidade de pagamento também. 

Por exemplo, quando a gente pensa em outro tipo de produto no universo do seguro, ele é muito customizável, no caso do risco de engenharia também?

Depende da obra, as variáveis se acomodam ao projeto?

O seguro de engenharia tem o que a gente chama de coberturas básicas, que são os danos materiais que que possam ocorrer na execução da obra. Mas, claro que você pode colocar coberturas adicionais, uma delas que a gente destaca bastante é a responsabilidade civil geral.

Obra é uma empreitada humana, e como tudo que envolve a ação humana, pode ter problemas, e você causar danos aos terceiros. Então, essa é uma cobertura que, embora ela seja adicional, a gente sempre recomenda que seja contratada.

A gente pode colocar também os equipamentos móveis e estacionários, que vão servir de apoio a obra, eles pode ser garantidos também. 

Cobertura para tumultos, é uma cobertura variável ao longo dos anos. Tem problemas políticos que acabam afetando a obra, então também é uma cobertura importante, nós já tivemos aí eventos importantes.

Então, o seguro de risco de engenharia de obra tem várias coberturas adicionais que a gente agrega na cobertura básica, conforme a necessidade e a exigência, às vezes até do financiador que exige um universo cobertura maior.

Danos consequente de erro de projeto também uma cobertura tradicional que é Importante.

Com as novas demandas provocadas pela privatização de obras, como você o mercado de seguro de obras?

Nós temos observado que esse ano teve um incremento no novos projetos.

A nossa expectativa é muito grande com relação a privatização, principalmente na questão de aeroportos e de portos, que terão uma nova rodada agora de privatizações.

A gente sabe, como o usuário, que são necessários investimentos para colocá-los em um padrão mundial de atendimento, os aeroportos com certeza, e portos também, principalmente, vão ter bastante demanda.

Mas, eu gostaria de destacar um que tem um impacto social muito grande, que é o Marco Legal do Saneamento.

Eu sou engenheiro civil, e o primeiro projeto que a gente faz quando vai projetar qualquer cidade, qualquer loteamento, é água e esgoto. E nós temos uma deficiência muito grande no país, poucas cidades tem um nível satisfatório de saneamento básico. E com esse projeto, essa privatização que vai atrair o novo Marco do Saneamento, com certeza isso vai ter bastante investimento.

E a gente fica contente em poder colaborar, porque é um investimento que tem um impacto humano e social muito forte. Quanto mais investimento em saneamento, e nós, como indústria de seguros apoiando esses projetos – para que ser der algum problema a gente esteja lá atuando para que a obra seja entregue-, isso com certeza vai melhorar a qualidade de vida de todos os brasileiros

São realmente projetos que demandam muito seguro, porque são obras pesadas, obras de saneamento envolvem movimentação de terra, tubulações, então isso é algo que a gente tem bastante experiência e pode apoiar.

Para mim, o Marco do Saneamento era, com certeza, a coisa mais importante em termos de infraestrutura que a gente teria que ter prestado atenção e implantado, a gente ficar feliz que isso está caminhando melhor. 

Conversando com as regiões no Brasil, a gente vê regiões que tem realmente um déficit  gigantesco, que a gente tem aqui no sudeste, mas tem outras regiões que tem até mais ainda.  

E com certeza, o dinheiro da iniciativa privada que vai irrigar esses projetos. Com a concessão também, que lógico, com a concessão por vários anos. A gente viu acontecer nas rodovias lá nos anos 90, quando privatizaram as rodovias, a gente viu como melhorou o sistema rodoviário brasileiro, aqui em São Paulo a gente anda pelas rodovias aí e é nítido que isso é o caminho para a gente poder ter um país mais desenvolvido.

E a indústria de seguros acompanha isso desde o início. A gente está sempre aqui, investindo também, pesquisando para poder oferecer produtos mais aderentes às necessidades dos projetos.

O portfólio da Tokio Marine

Nós temos aqui na Tokio Marine uma equipe de engenheiros grande há bastante tempo. Nós temos um Gerente de Engenharia e tem mais cinco engenheiros que trabalham abaixo dele, e mais alguns outros especialistas, justamente para poder avaliar qualquer tipo de projeto.

Os projetos residenciais, que a gente chama a no nosso mundo aqui de grupo 1, são obras de escritórios, de residências, prédios residenciais, ou mesmo moradias, são obras que a gente tem um portfólio muito grande.

E temos também as obras pesadas, obras médias, obras pesadas que abrangem não só a parte de infraestrutura, mas também a parte de mobilidade urbana.

A indústria também demanda, a indústria em geral de transformação demanda bastante seguro. Quando uma montadora, por exemplo, vai duplicar a linha de produção ou uma fábrica de papel celulose vai instalar uma nova linha. 

A gente atua em todos esses segmentos, e cada qual com a sua necessidade. O seguro mais simples tem as suas características e esses mais complexos, com coberturas até mais específicas, nós mantemos essa equipe de engenharia justamente para poder dar o embasamento técnico necessário para poder atender qualquer que seja a demanda, mais simples até mais complexas.

O seguro de engenharia para obras é um dos alicerces de todo o projeto de construção

Sem seguro não tem tem projeto, isso é uma máxima que a gente tem.

Não tem como por o pé numa obra sem seguro, porque em uma obra, quando ela começa, ele tem exposição no momento zero. No momento que instala o canteiro de obra já tem que estar valendo apólice.

Nós temos os eventos que podem acontecer numa obra :

  • Incêndio no canteiro;
  • Alagamento;
  • Desmoronamento; 
  • Roubo de bens que vão ser incorporados a obra – infelizmente, às vezes a gente tem algumas ocorrências em algumas regiões;
  • Vendaval – os danos da natureza.

No momento que começa o canteiro, você pode falar um canteiro com valor. No seu canteiro, às vezes o estande da obra tem um valor enorme e ele pode pegar fogo por algum motivo. Então, a exposição é no momento zero.

Uma outra cobertura, que é muito importante, que é a responsabilidade civil. Mas que ela se estende ao empregador, que a gente chama. Então, os operários, se ocorrer uma morte, uma invalidez, ele está amparado. Isso começa no momento zero até o desenvolvimento da obra e o término, a entrega no final.

A exposição ela é crescente. O seguro tem que estar valendo no primeiro dia, até a hora que testa, entrega, e está tudo ok, faz a transferência de propriedade.

Às vezes, nós gostamos de ir visitar a obra no início. Mas, por que você vai no início? Não tem nada feito. Porque ali que a gente olha as exposições, “Olha, tem risco disso, tem risco daquilo. Olha, tem um rio perto, a gente tem que preocupar como vamos fazer para instalar o canteiro, para não ser atingido”.

Então, é um seguro que o envolvimento, o relacionamento com empreiteiro, com o assegurado, é desde o início e vai até a entrega.

Nós temos até coberturas adicionais pós-obra, que a gente chama de manutenção. São coberturas para alguns contratos em que o empreiteiro tem que fazer manutenção durante um período, ele tem que voltar na obra e pode acontecer um acidente lá.

Então, não tem como fazer um projeto sem o seguro de risco de engenharia. É um seguro bastante antigo e que acompanha o desenvolvimento, o país desenvolvido que tem seguro de risco de engenharia bem desenvolvido.

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