Em comemoração do mês das mulheres, vamos receber a engenheira Jessika para o primeiro Assuntos Concretos do ano de 2022!
Jéssika Pacheco é Sócia-diretora da PhD Engenharia e diretora de cursos da IBRACON. Ela nos contou um pouco sobre sua trajetória na construção civil, a situação atual e algumas perspectivas do setor.
Confira!
A trajetória na construção civil, a motivação para escolher essa área e o caminho para até chegar aqui
“Confesso que a escolha pela Engenharia não era a minha primeira opção durante o ensino médio, porque eu tinha uma tendência mais para as biológicas. Meu pai que me deu muito incentivo para fazer inscrição engenharia civil, porque ele queria ser, e por questões financeiras na época, ele fez direito junto com o meu tio.
E ele nutria esse sonho de ser um engenheiro. Ele até tentou com o meu irmão, que tentou a engenharia eletrotécnica, não aguentou o primeiro semestre e largou mão. E meu pai falou ‘tenta você’, e eu já estava inscrita em engenharia ambiental, na Oswaldo Cruz.
Eu fui fazer a inscrição do vestibular do Mackenzie e da Fuvest, e no Mackenzie não tinha engenharia ambiental na época, e eu me inscrevi para Engenharia. Quando saiu a resposta do Mackenzie, que é uma das últimas que sai do vestibular, e eu passei, mas já estava inscrita na Oswaldo Cruz, e ele falou ‘tenta, pelo menos vê o que que dá’.
Eu fiz o primeiro semestre e super me identifiquei. Com a ajuda de Deus e com positividade, Ele colocou pessoas maravilhosas no meu caminho durante o curso, dentre elas o Professor Simão Priszkulnik, um dos sócios-fundadores do IBRACON.
Ele foi meu professor de Engenharia, de Materiais de Construção, e ele me apresentou para o professor Paulo Helene em uma palestra no Instituto de Engenharia. Ali naquele momento começou a minha história aqui dentro da PhD.
Nós já temos mais de dez anos de relacionamento aqui na empresa, um relacionamento profícuo, de muito aprendizado, a gente aprende todo dia uma coisa nova aqui dentro da empresa. E também a proximidade com o IBRACON, e não preciso nem dizer, a paixão pelo material concreto.”
Como é o trabalho na Diretoria de cursos da IBRACON e que que a gente pode esperar para 2022?
“Bom, para este ano nós já temos previstos cursos na linha do material concreto. Já no mês de maio, nós teremos um curso patrocinado pela Votorantim Cimentos, que vai tratar sobre concreto dosado em central.
É um curso que eu considero muito importante, inédito, que nós estamos organizando, no sentido de mostrar os bastidores da produção do concreto: como é que funciona uma concreteira. Se você tem um engenheiro estagiário que você quer mandar para a concreteira para acompanhar como que é feito esse controle, o que você tem que olhar, o que não tem que olhar, enfim.
Além dos diferentes tipos de empresas de serviço de concretagem: temos as centrais dosadoras, as centrais misturadoras (mais fora do Brasil); é interessante ter esse tipo de conhecimento, recomendo muito esse curso de maio.
E nós teremos edições dos nossos cursos preparatórios de Inspetor 1 e 2, que são cursos de muito sucesso dentro do IBRACON, vista a necessidade de profissionais qualificados que nós precisamos para inspecionar as nossas obras de arte especiais, vista a quantidade de acidente que ocorrem, infelizmente, pela falta de manutenção do poder público. Então para temos profissionais qualificados, existem até prefeituras que exigem já essa qualificação. O IBRACON capitaneou este curso, com vistas a formar estes profissionais.
Além desses nós teremos cursos mais voltados para a parte de estruturas, de bielas, de tirantes… Enfim, o IBRACON está com um leque bem interessante de cursos na agenda de 2022.
Por enquanto, os cursos de Inspetor serão no formato online. Já o curso de concreto dosado em central, estamos pretendendo realizar de forma híbrida, só estamos no final de negociações com o local onde vai ser feito o curso. Mas a ideia é que esses cursos sejam feitos no formato híbrido.
Temos também os cursos durante o nosso Jubileu de Ouro, o congresso que vai ocorrer em outubro lá em Brasília. Estes sim serão no formato híbrido, teremos o professor lá e teremos também a toda a transmissão para os alunos que quiserem assistir online.”
A demanda por profissionais especializados e o segmento a ser explorado por novos profissionais
“Durante o curso é feito o ensino do passo a passo de como se faz essa inserção, é entendida toda a parte de Patologia das construções, os ensaios que têm de ser feitos.
Porém, o programa de certificação, que é o passo 2, ele exige que este profissional tenha um mínimo de experiência em inspeção de estrutura, porque a pessoa não pode pegar simplesmente uma certificação com o conhecimento teórico, é necessário que tenha um mínimo de horas de algumas obras inspecionados para receber a certificação que já está dentro da Diretoria de Certificações do IBRACON.
É uma área a ser explorada sim, o mercado está demandando esse tipo de profissional, tanto nas empresas que realizam esse tipo de serviço, quanto as prefeituras que demandam essas empresas.”
A evolução da área técnica do concreto no Brasil
Quando a gente fala do material concreto em si, não só focando no concreto, mas na construção civil como um todo, nós temos uma resistência muito grande para absorver nas nossas obras as novas tecnologias. O setor da engenharia civil é o mais resistente nesse quesito, e isso se reflete também no material concreto.
Por exemplo, o concreto autoadensável. Agente já tem a muitos anos no mercado, e pura e simplesmente por uma questão de custo inicial do material, ele não é adotado como poderia, como tem o potencial de sê-lo. Porque o material não é avaliado de forma aplicada, ou seja, qual é o custo final do material aplicado: quanto de mão de obra que eu vou economizar, de tempo de vibrador, enfim.
É essa falta de feeling que a gente percebe nessa resistência, porque em todas as novas tecnologias existe um custo agregado para poder difundi-la na obra, ou seja, no mercado.
Então a gente percebe essa deficiência no mercado, de só olhar o produto antes de ser aplicado, e não o produto aplicado na obra em si.
Isso é observado não só no concreto autoadensável, mas no concreto com fibras. Tudo que sai do convencional existe muita resistência na construção civil, infelizmente.”
As perspectivas nas áreas de Materiais de Construção, Patologia e Reabilitação de estruturas de concreto
“Já quando a gente parte para a questão de estudo de Patologia, de recuperação, aí a visão muda um pouco. Porque com o advindo dos projetos de retrofit, principalmente o conceito de retrofit, a necessidade de se recuperar a estrutura existente tem crescido de forma exponencial. Como eu comentei, não é uma cultura do Brasil adotar a manutenção preventiva, nós temos a cultura de se adotar a manutenção corretiva, infelizmente.
Então esse é um mercado que sempre vai existir, de recuperação, de estudo de manifestações patológicas. Então, eu acredito que seja um assunto expoente, que deve ser explorado para quem pretende iniciar no mercado, ou procure cursos de especialização.
O pessoal do grupo DDD, que inclusive é o nosso parceiro no curso de inspetor 1 e 2 dentro do IBRACON, têm cursos de extensão de pós-graduação no tema. É bastante interessante para quem se interessa por essa área, é muito importante ter esse tipo de conhecimento.
Se a gente voltar um pouco atrás, observamos nas obras que a gente visita, que muitos desses problemas poderiam ter sido evitados por pura e simplesmente se houvesse uma sinergia melhor entre os participantes, os componentes da construção: o setor de projetos, o setor de construção, o setor de acabamento, de orçamento, enfim.
Ou seja, você recebeu uma folha de projeto e você é da execução, percebeu que tem alguma coisa não tá batendo ali, que não tá legal, que poderia ter alguma alteração de detalhe que ajudaria no momento da construção, comparte. Fale com projetista, ele está aberto para esse tipo de conversa, porque, qual que deveria ser o interesse comum de todos? O produto final sair da forma mais perfeita possível.
E às vezes essa sinergia que não ocorre culmina, até às vezes antes da entrega da obra, nas nossas indesejadas manifestações patológicas. Eu acredito que se houvesse essa sinergia melhor entre esses participantes do processo construtivo, nós teríamos obras melhores.”
Mensagem para as mulheres da engenharia civil
Nesse tema, eu me considero uma pessoa, graças a Deus, muito positiva, como eu comentei aqui no começo da nossa conversa.
Então, eu sempre acreditei que independentemente de gênero, se você quer de fato algo, não há nada que vai te impedir de fazer, entendeu?
Quando a gente quer de fato uma coisa, com ajuda de Deus, a gente sempre vai conseguir. Então, não tenham em mente que essa questão de preconceito, ou que a mulher possa ser vista de uma maneira não-capaz de desenvolver qualquer que seja a atividade, não só dentro da engenharia, não deixe que isso defina o que você pode ou não fazer. Basta você querer, se você quiser, você vai conseguir fazer. É nisto que eu acredito.
Dentro da engenharia, graças a Deus, nós temos visto que a presença feminina tem crescido, e muito, não só nas obras, mas em cargos gerenciais. Porque do aspecto técnico, a mulher não tem absolutamente nada a perder em relação aos homens. Como eu disse, nós estamos exatamente no mesmo patamar, basta desejarmos aquilo.
A única coisa que diferencia a mulher, e isso não é um menosprezo da nossa parte, é que nós somos mais sensíveis, nós enxergamos as coisas do ponto de vista do Belo. Nós temos mais sentimento, mais feeling, mais carisma, e isso como eu disse, não é um demérito, isso só nos ajuda a nos destacarmos de uma maneira mais humana.
Um bom profissional é um bom profissional”
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