Hoje, o assunto é sobre Building Information Modeling, que em português é Modelagem de Informação da Construção, o BIM.
O BIM é uma metodologia de criação e gerenciamento de informações usada na construção civil para produzir uma representação digital que integra dados de todo ciclo de vida de uma obra.
A ferramenta, que é baseada em uma plataforma na nuvem, permite também interação de todos os profissionais envolvidos no projeto, o que possibilita uma gestão colaborativa.
E para falar sobre o avanço do BIM no país, conversamos com Cláudio Pinto, Diretor de Vendas da Autodesk, uma empresa mundial em softwares.
A adoção da metodologia BIM no Brasil com a obrigatoriedade do uso para obras públicas
Eu acho que o Brasil deu um passo super importante para essa questão de tecnologia na área de construção.
Existe até um estudo realizado pela Mackenzie, se eu não me engano de uns dois ou três anos atrás, de que a indústria que menos investe em tecnologia, por incrível que pareça, é a indústria da construção. De 12 indústrias que foram analisadas, foi a que ficou em último lugar. Então, sempre teve essa característica, vamos dizer assim.
Mas, eu acho que com o decreto, tanto com a nova lei de licitação, isso sim movimentou os órgãos públicos, que começarem a pensar a adotar a metodologia BIM.
E a gente fala um pouco da metodologia, mas existem várias tecnologias que envolvem isso: toda a metodologia para projeto, para construção em obra, e para própria manutenção da obra, está englobado na metodologia BIM.
Então, acho que os órgãos se movimentaram para essa implantação, pensaram em investir em tecnologia por causa desses novos decretos.
Mas obviamente, esse período que a gente passou nos últimos dois anos e meio impactou, sim, em um pouco do atraso para que tudo acontecesse da forma que estava pronta para acontecer.
Principalmente por questões orçamentárias mesmo, muitas coisas foram destinadas a área da saúde, muito bem destinadas, porque era um momento que a gente tinha que tomar preocupações em cima disso.
Então, foram designados os orçamentos para a questão da saúde, para as questões relacionadas aos hospitais de campanha, que a metodologia também ajudou, mas que isso tinha que ser feito como emergencial naquele momento, então, isso sim teve um impacto de atrasar um pouco.
Mas os órgãos se movimentaram e a gente teve uma boa aderência para metodologia BIM nesse período, mesmo com a pandemia.
Os passos prioritários para a implementação do BIM nos Estados
O primeiro é o envolvimento de cargos públicos importantes na aplicação da metodologia ou na intenção de utilizar tecnologia para área de construção.
Eu sinto que tem que ser uma implantação Top – Down, vamos dizer assim. Então, os cargos mais altos do governo, como Secretários, como o próprio Governador, e daí em qualquer esfera pública, pode ser Estadual, Municipal ou Federal, essas pessoas têm que estar envolvidas nessa implantação.
Porque o mais difícil hoje, a gente pode comentar isso mais para frente, é convencer as pessoas que estão lá no dia a dia a mudar a forma que elas fazem obras hoje. Então, o desenvolvimento e a aprimoração da utilização do BIM têm que ser um processo Top – Down. Então, as pessoas com cargos mais altos no governo devem utilizar isso.
E também os Governos têm que se preocupar com três vértices:
1. Não só a tecnologia em si, como software que vai se utilizar;
2. Mas têm que pensar treinamento, com a qualificação do pessoal, treinamento da mão de obra necessária, eles têm que estar preparados;
3. E também, como uma metodologia nova, você tem que se preocupar com a parte de implantação dessa tecnologia dentro do seu órgão.
Então, você tem que ter três vértices, não adianta você só ter um software de mercado, a ferramenta em si, porque as pessoas não sabem utilizar.
Não adianta você só ter a ferramenta e treinar, vamos dizer assim, igual se fazia na década passada, que você comprava uma ferramenta e daí fazia treinamento e a pessoa estava apta para utilizar, porque hoje é tudo baseado em banco de dados.
Você tem que ter um serviço de implantação disso, pegar um caso específico que tem um problema ou na cidade ou um novo desenvolvimento de uma obra, e fazer em conjunto com uma empresa especializada, para que ela consiga repassar toda essa implantação para essas novas pessoas que vão utilizar a tecnologia e essa nova metodologia.
Em resumo, eu acho que primeiro: o envolvimento geral das pessoas com os cargos mais altos no governo, e quando se pensa numa implantação, fazer baseado em três partes:
1. Tecnologia, ferramenta, o software em si;
2. Treinamento das pessoas;
3. E uma transferência de tecnologia, que a gente chama com o serviço de implantação da metodologia em algumas obras, para que todo mundo consiga ver resultados mais rápidos em cima disso.
Hoje, quando a gente fala de BIM, não é somente o projeto. É o projeto que você vai mudar como faz a execução da obra em si, desde o canteiro de obra, até cronograma, até orçamento, tudo.
E depois, a parte mais importante e que muitas vezes as pessoas não levam em consideração, é a manutenção dessa obra para se fazer.
Então, como é que você vai utilizar os benefícios de utilizar uma metodologia dessa forma, na manutenção, no dia a dia, olhando daqui 20 anos para essa obra? Porque a gente não está fazendo obra para aqui de seis meses, a gente está fazendo obra que vai ficar aí quase que para a eternidade.
A gente tem vários casos emblemáticos, como o problema da queda de viaduto na Marginal, as nossas passarelas aqui em São Paulo, o que está ocasionando no Brasil inteiro com essas fortes e alagamentos…
Então, como é que a gente vai reconstruir, como é que a gente tem ideia do que foi feito ali? A gente já teve que procurar falar com a esposa de alguém para achar a planta, isso não pode existir, a gente tem que ter um legado muito bem feito e a tecnologia ajuda nisso.
A implementação do BIM no Estado do Amazonas
A gente está numa fase inicial da implantação no estado. Os pontos positivos que eu comentei é o que nos chamou atenção no Amazonas.
Primeiro o envolvimento, desde o Governador até o Secretário de Infraestrutura, que estão bancando isso para os funcionários. Quando eu falo bancando não é simplesmente o investimento, é “nós vamos pensar nisso porque é o futuro da construção e é como país está olhando”. Até para vir recursos para o estado, eles precisam estar adequados com essa nova metodologia.
Então, primeiro existe todo o nivelamento por cima, tanto o Governador quanto os principais Secretários estarem incluídos na implantação do BIM. Depois, os funcionários, o funcionalismo público, a engenharia do Estado está se capacitando para isso.
Então, eles contrataram não só questão de treinamento, de “como uso” e as tecnologias e as ferramentas da Autodesk, mas um projeto de implantação, isso que eu comentei, um projeto piloto de adequar as obras.
E como eles estão fazendo, eles já estão nesse passo, de adequar como as obras deles se encaixam na metodologia BIM e que eles possam integrar isso mais facilmente.
Então, um grande caso de sucesso do Amazonas é exatamente isso, as principais pessoas estão interessadas no desenvolvimento da tecnologia, investiram, e estão dando suporte ao funcionalismo público. É um funcionalismo público que está a fim, quer descobrir.
Tem um pessoal jovem lá, e as pessoas mais experientes. Porque a grande vantagem do BIM é essa troca de experiência, as pessoas e experiências. Os experientes, que tem conhecimento de obra, de como fazer obra, com essas pessoas novas, que vêm com vontade de usar novas tecnologias, essa junção dos dois é que vai dar o grande sucesso, que eu acredito no caso do Amazonas.
A maturidade do BIM no Brasil frente a outros países
A gente pode fazer dois paralelos.
Um que a gente fala de resto do mundo, e daí querendo ou não, mercados maduros estão mais avançados. Quando a gente olha a utilização de BIM no Reino Unido, nos próprios Estados Unidos, e nos grandes países da Europa, eles estão numa maturidade um pouco maior mesmo.
Agora, quando a gente consegue olhar isso no nosso mundo, no mundo América Latina, a gente está alinhado com os outros países. Obviamente tem, por exemplo, o Chile está um pouquinho mais avançado do que a gente, mas em média, com esse decreto e com a nova lei de licitação, nós estamos num excelente momento.
Quando a gente olha para a implementação de BIM, a gente tem uma relação muito boa. Por exemplo, posso falar um pouquinho do mundo Autodesk, a gente olha aqui com outros países da América Latina, nós estamos numa boa posição, nós estamos olhando para isso.
Existem obviamente órgãos que podem estar um pouco mais avançados do que alguns no Brasil e outros órgãos que ainda nem começaram a pensar nisso e continuam no desenvolvimento em modelos 2D no Autocad, vamos dizer assim.
Então, eu acredito que o Brasil, na hora que a gente olha para países de América Latina, nós estamos bem posicionados. Agora quando a gente olha para mercados mais maduros, nós estamos atrás, e até em relação a alguns países emergentes. A própria Índia, a Rússia que agora por causa dos conflitos deu uma recuada, mas eles também estavam um pouquinho mais avançados do que a gente, até pela proximidade um pouco maior com esses países mais desenvolvidos.
O futuro do BIM na sustentabilidade e eficiência
No nosso dia a dia, falando um pouquinho do dia a dia de trabalho da Autodesk, a gente já nem olha mais os planos de implantação, a gente olha os níveis de ESG de cada um dos órgãos e das empresas também, então, a gente já está falando de outra coisa. Mas olhando diretamente sustentabilidade, isso é o grande passo, e é onde Autodesk está hoje.
Eu estava participando, por exemplo, de uma apresentação para um órgão público e a gente estava tocando muito nisso. Por exemplo, eles estavam pensando em fazer um novo viaduto para uma entrada da cidade – por questões de compliance eu não posso dizer qual cidade – mas a gente estava trabalhando nesse projeto e o principal ponto que eles estavam olhando era qual era o impacto em sustentabilidade que isso ia acarretar a cidade.
Então, tinha desde a parte do consumo de combustível que ia ser utilizado, qual o impacto que ia gerar nas questões de gás carbônico, etc. A metodologia em si dá todo o suporte para que se pense em sustentabilidade, em consumo energético, em vários desses aspectos.
A metodologia dá suporte e eu acredito que é exatamente o ponto de que as tais Cidades Inteligentes vão se pensando e vão se basear, na questão da sustentabilidade, consumo energético, e esse tipo de de dados que eles têm que se preocupar.
É isso que vai acontecer daqui para o futuro, é onde todo mundo está olhando.
O foco da Autodesk nos projetos de pesquisa e desenvolvimento
A Autodesk está tentando se transformar numa plataforma mesmo de construção.
Em questão de market share, a gente tem um grande desenvolvimento, a gente já ocupa um lugar muito importante no mercado, nós somos líderes da tecnologia no setor, mas a gente gostaria de ser uma plataforma.
Um pouco daquilo que eu falei, englobando qualquer parte dessa cadeia total de construção. Desde lá da concepção da primeira ideia, do primeiro projeto, passando pela construção, tecnologias que englobam a parte da industrialização da construção, que é um uma outra coisa que está super em moda e que a gente está totalmente envolvido em cima disso, até como eu te falei na execução da obra, finalização e da manutenção disso, e te dar suporte para que isso ocorra da forma mais leve possível, e que você tenha dados para que você tenha uma manutenção efetiva da sua obra.
Então, a Autodesk está pensando nisso, de abraçar diretamente toda a cadeia da construção e a gente está fazendo investimentos em cima disso, desde a parte orçamentária, desde a parte da concepção, até a parte da manutenção e utilização desta obra já pronta. É isso que a ideia da Autodesk para futuro.
Não dá para pensar em construção sem tecnologia
Até porque, olhando um pouquinho aqui para o nosso mundo, olhando para Brasil, nós passamos por momentos super complicados. Olhando de cara, com tecnologia, você consegue dar mais transparência, você consegue dar um orçamento mais preciso, então, você diminui vários argumentos que gerariam problemas políticos.
Então, sem dúvida nenhuma, já valida uma forma de “Sim, temos que investir em tecnologia”. E não existe construção hoje sem tecnologia, é muito custoso, hoje, você partir sem ter validado virtualmente as concepções que você poderia fazer. Não faz mais sentido você fazer isso.
Outro dado importante, construção civil é a indústria que mais gera lixo no mundo, 25%, se eu não me engano, do lixo do mundo vem da construção civil. Então, você ter algo mais preciso ou que você diminua isso, você também você está fazendo um bem para o mundo muito importante, voltamos na questão da sustentabilidade novamente.
Quer dizer tudo gira em torno de uma tecnologia que vai te deixar fazer obras mais efetivas e com melhor resultado.
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