Hoje vamos falar sobre como as pequenas e médias construtoras podem iniciar sua jornada ESG, sigla em inglês que é utilizada para orientar as práticas sobre três eixos: o E de Meio Ambiente; o S de social; e o G de Governança.
As práticas de ESG são uma oportunidade para buscar sustentabilidade, conquistar mais eficiência operacional, e elevar a resiliência durante.
E para falar sobre esse assunto, vamos conversar com a Juliana Moretti que é especialista em tecnologia do Instituto Senai de Tecnologia.
Como as empresas pequenas e médias também podem participar do movimento ESG?
As empresas pequenas e médias devem participar desse movimento ESG. Todas as atividades em andamento importam, e devem estar envolvidas nessa temática de social, ambiental e de governança.
Eu separei aqui seis princípios aqui que são bem importantes para essas empresas começarem o movimento:
1- Olhando para a equipe de trabalho, para os funcionários, tendo um ambiente saudável
Profissionais sendo respeitados e ouvidos dentro do ambiente de trabalho é bem importante.
2- Alinhar a missão, a visão e os valores com a prática da empresa
Às vezes muitas construtoras, empresas, têm essa missão e valores engavetados, e nem os próprios funcionários sabem o que é. Isso deve estar enraizado dentro da cultura e deve ser colocado em prática todos os dias.
3- As empresas devem incorporar as diretrizes do ESG dentro da cultura
De preferência que os funcionários participem desse processo, que seja o processo participativo.
4 – A liderança, dos gerentes e diretores, têm um papel crucial dentro desse movimento
O papel de puxador, de trazer esses conceitos de ESG para dentro das equipes.
5- Equidade de gênero dentro das empresas
Trazer a diversidade de equipes, hoje na mídia está bastante em pauta o movimento negro, as mulheres como membros de conselhos, é bem importante a empresa olhar para isso.
6 – Repensar dentro da atividade da empresa, qual o impacto que ela tem dentro dessas três esferas
Dentro do que ela produz, de serviço ou produto, o quanto ela impacta no meio ambiente, na comunidade ela tá inserida. E em termos de governança, será que ela está sendo transparente com as contas, fazendo prestação de contas?
Então, eu acho que para iniciar essas pequenas e médias empresas, elas devem olhar para esses seis pontos inicialmente.
O ESG é uma nova roupagem para o desenvolvimento sustentável, então, ele sempre existiu. É que hoje ele tem um nome, uma sigla diferente. Mas todas as empresas, pode ser uma empresa com três funcionários, dentro daquela atividade que ela exerce, ela consegue olhar para aquela operação e verificar formas de melhorar, mitigar os impactos na natureza, ajudar a comunidade que ela está inserida. Enfim, é mais simples do que se pensa.
Como as metas estabelecidas pelos Objetivos de Sustentabilidade (ODS) propostas pela ONU podem apoiar as empresas na estruturação das práticas ESG?
Essas ODS são bem importantes nesse processo do ESG. O que significa? São os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, uma agenda mundial que foi firmada em setembro de 2015 e ela tem 17 objetivos e 169 metas que devem ser atingidas até 2030.
Nesses objetivos tem segurança alimentar, agricultura, erradicação de pobreza, educação, energia, água, etc…
Então, a primeira coisa que essas pequenas e médias empresas devem fazer é entender quais são esses objetivos, olhar para dentro da empresa, verificar qual é o core business, qual é um negócio que ela tem, e tentar verificar qual a semelhança da sua atividade com esses objetivos, e mapear quais são aqueles objetivos que fazem mais sentido para ela trabalhar.
Por exemplo, se for uma empresa fabricante de aço, com certeza a parte do meio ambiente, da água e energia, fazem mais sentido.
Então, a primeira coisa é a empresa olhar para si, olhar para dentro: Qual é a operação? Quais os locais eles estão inseridos? E verificar quais ODS tem sinergia, para que possam ser incorporadas.
Nós do Senai levamos muito sério o pilar de equidade de gênero. A coordenadora técnica de todos os cursos de construção é uma mulher há bastante tempo, a Vânia. A gente tem uma gerente administrativa, em que todos os pagamentos e contratos passam por ela. E muitas professoras em cadeiras de hidráulica, elétrica, etc.
Então, a igualdade de gênero é levada bem a sério por nós. E a gente sabe que a igualdade de gênero acaba impactando em outros pilares, porque quando você empodera a mulher, você consegue erradicar pobreza, você impacta diretamente em outros pilares, em educação, insegurança alimentar, para a gente, esse pilar é bem importante.
Qual o papel da liderança dentro da direção da empresa na adoção de uma dinâmica ESG?
A liderança com certeza tem um papel crucial nessa agenda do ESG.
No mundo corporativo, em 2019 nos Estados Unidos, 181 CEOs das maiores corporações do mundo assinaram um decreto dizendo que o propósito da Responsabilidade Corporativa era mais importante do que o lucro – dentre essas empresas, estão lá Amazon, Apple, Coca-Cola, todas as maiores empresas.
A partir desse movimento, isso com certeza impactou o Brasil nas corporações, e as grandes lideranças viram que o ESG seria um tema que chegou para ficar, que não daria para deixar esquecido, envolvendo até a perenidade e a continuidade da empresa no futuro.
A liderança tem um papel de engajar a equipe de trabalho.
Em primeiro lugar ela deve entender os conceitos de ESG e mostrar para a equipe de uma forma mais lúdica e criativa possível qual o impacto e o quanto ele traz valor para o negócio, para os clientes, para o setor de uma maneira mais prática.
Isso para sair um pouco daquela questão da fantasia de sustentabilidade, como se fosse uma ilha de fantasia, e não, temos que trazer prático.
A gente sabe que as pessoas compram e se engajam com aquilo que eles conhecem, têm propriedade e conseguem entender o valor daquela ação dentro do seu do dia a dia.
A liderança, junto com a área de comunicação das empresas, devem proporcionar essa comunicação bastante aberta, e levando sempre para aspectos práticos, para os funcionários também entrarem nesse movimento.
Como você vê o Brasil nesse cenário ESG? Estamos avançando?
O Brasil tem alguns índices dentro do quadro global.
Foi firmado que o mundo inteiro trabalhasse para reduzir 45% das emissões de gases de efeito estufa até 2030. Até 2019, a gente sabe que somente os países desenvolvidos conseguiram entregar os indicadores que reduziram 6,2% da emissão de gases. O Brasil está dentro dos países que não entregaram nenhum indicador.
É um grande desafio, a gente sabe que a pandemia agravou a situação ambiental e o prazo para agenda.
Mas, nos últimos dois anos a gente recebeu um relatório do Pacto Global, em que 308 empresas assinaram a carta, sendo signatárias do pacto Global da ONU.
A gente vê pelo Linkedin, pelo mercado, uma crescente demanda por profissionais e ações e voltadas para o ESG.
Acho que assim, a pandemia atrasou, com certeza. Mas, está acontecendo uma mudança de mentalidade muito grande nas empresas e, com certeza, nós do SENAI, vemos como positivo o cenário nos próximos anos, a gente tem visto ações de sustentabilidade ambiental.
O que tem puxado bastante também são os bancos, que estão criando, principalmente para construção civil, linhas de créditos especiais para construções que sejam certificadas em LEED, AQUA, altas certificações ambientais.
Grandes bancos, o Itaú, Santander, Caixa, Banco do Brasil, estão diminuindo juros para construtoras que estão incorporando dentro dos projetos algum tipo de certificação ambiental.
E uma coisa que foi muito importante para o desenvolvimento do tema foi a bolsa de valores acrescentar o ISE, que é o Índice de Sustentabilidade Empresarial.
O B3 está exigindo evidências concretas de sustentabilidade para empresas do mercado de valores imobiliários, isso já faz uns dois anos. Então, isso fez com que as empresas corressem com relatórios, com ações concretas, porque isso está virando investimento palpável e recursos para a companhia.
Esse cenário é bem positivo e nós do Senai também temos apostado muito na tecnologia. A gente viu um relatório que a inteligência artificial consegue reduzir de 5% a 10% as emissões de gases de efeito estufa. Então, dentro do Senai, a tecnologia é bem importante, é um viés que a gente investe muito dentro das consultorias.
Tomara que a gente tenha bons indicadores dentro do Brasil sobre emissão de monóxido de carbono, gases de efeito estufa, tem tudo para caminhar para isso.
A mudança tem que ser sistêmica, porque iniciativas isoladas acabam morrendo na praia. Se a mudança for sistêmica, aí de fato, a gente cria ciclos produtivos mais sustentáveis.
Até o pacto Global da ONU diz que todos estamos envolvidos, sociedade, poder público, setor privado, todo mundo que está dentro do planeta tem que prometer melhorar as condições.
A gente acabou de passar, agora dia 28 de julho, foi a data em que a gente consumiu todos os recursos naturais da terra. Então, a partir de agora, a gente está já em dívida em questões naturais, praticamente quatro meses a mais.
A gente tem visto na TV também o aumento da temperatura que passou a Europa, a quantidade de mortes que tiveram com esse aumento de temperatura. É algo que já está acontecendo, não é futuro, a gente já está vivendo esse movimento. Então, é bem preocupante, todo mundo tem que se comprometer.
Dicas de como elaborar um plano de ação dentro das empresas e quanto custa o investimento ESG?
O grande custo são as horas dedicadas dos profissionais que já existem dentro da empresa. Às vezes um setor de recursos humanos, se tiver um setor de responsabilidade social melhor ainda, de sustentabilidade, muitos também da área de qualidade, que emitem certificações. Eu diria que o custo é utilizar os recursos que a empresa já tem.
Se possível, conhecer as ODS. Dentro do site do Pacto Global tem um questionário que a empresa preenche, que ele consegue te direcionar para os temas que a empresa poderia trabalhar.
E a partir daí, quando tem aquelas reuniões de alinhamento, planejamento estratégico, de cultura, incorporar os eixos do ESG dentro da cultura da empresa. E se possível, desdobrar em atividades, em projeto de responsabilidade social, meio ambiente.
O crucial é que a empresa entenda o impacto que ela causa com as atividades dela, dentro do bairro que ela está inserida, da cidade, do estado, do país, e consiga mitigar o impacto dessa atividade em termos de meio ambiente, na vida dos funcionários, e em termos de governança. Olhar para dentro já é bem importante, ouvir os funcionários, o caminho é mais fácil do que do que se pensa.
E com essa geração nova, eles já estão bem antenados, sedentos por informações dessas empresas nas redes sociais. Tem pesquisas que a Geração Z escolhe as empresas que ela vai consumir a partir das iniciativas que elas acompanham nas redes sociais.
Então, se aquela empresa não recicla, não tem diversidade na equipe, é um fator para ele não ser cliente daquela empresa. Então, isso está envolvendo muito a continuidade da empresa no mercado, é muito importante mesmo.
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