O concreto com fibras ganhou fôlego nos últimos anos e não apenas com aço e polímeros virgens. Fibras vegetais (de sisal, juta, coco ou kenaf) e recicladas (de PET, PE, PP ou aço de pneus) vêm mostrando ganhos reais de desempenho, ao mesmo tempo em que reduzem impactos ambientais e ajudam a controlar a fissuração.
Inclusive, estudos recentes apontam evolução consistente na resistência, na tenacidade e na durabilidade quando a dosagem e o tratamento das fibras são bem ajustados.
Para relembrar, os primeiros relatos da utilização de fibras no concreto aconteceram em 1847, quando o inventor do ferro-cimento, Joseph Lambot, utilizou o material para elaborar um concreto mais resistente e com propriedades melhores. Com o passar de quase dois séculos, novos estudos e testes em cimento aconteceram.
Podemos, inclusive, notar que houve um aumento grande da procura das fibras no concreto nas últimas décadas. Afinal, há a necessidade de melhorar algumas características, como resistência, trabalhabilidade e tenacidade.
Para explicar um pouco mais sobre este assunto tão importante e quer requer tantos estudos, entrevistamos o engenheiro civil e doutorando em Engenharia Civil, Kennedy Queiros Pessoa.
O que são fibras para concreto?
Conforme explica Pessoa, as fibras no concreto são adições feitas na matriz cimentícia com o objetivo de aumentar algumas características, incluindo a resistência aos esforços de tração.
“O material que possui resistência aos esforços de tração recebe, inclusive, o nome de Concreto Reforçado com Fibras [CRF]”, ressalta.
O engenheiro civil complementa que as fibras também podem ser utilizadas em estruturas já existentes, como uma maneira para garantir o reforço estrutural. Dessa forma, há uma melhora significativa na resistência ao elemento estrutural em que foi utilizada. O especialista explica: “nesse caso, a aplicação acontece na forma de adesivos colados no concreto”.
Quando adicionar fibras ao concreto?
As fibras, segundo Pessoa, surgiram como uma nova possibilidade tecnológica de reforço do concreto, seja na adição, na execução do elemento estrutural ou na execução de reforço estrutural para aumentar a resistência da estrutura frente a novos esforços.
Dessa forma, a aplicação das fibras ao concreto acontece de forma bem mais simples do que a montagem e a instalação das armaduras convencionais. Afinal, a adição das fibras ao concreto acontece como qualquer outra matéria-prima – como o cimento e os agregados.
Principais tipos de fibras adicionadas ao concreto
Pessoa cita os principais tipos de fibras que podem ser adicionados ao concreto atualmente:
- Aço;
- Polipropileno;
- Carbono;
- Aramida;
- Vidro.
“As fibras vegetais também são boas opções e estão sendo amplamente pesquisadas no meio científico”, afirma o convidado.
Normas regulatórias das fibras para adição em concreto
De acordo com o especialista, para utilizar as fibras de concreto é preciso, primeiramente, cumprir os critérios da norma ABNT NBR 6118: 2014 Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento.
Além desta específica, existem 10 normas brasileiras para concretos com fibras. São elas:
| Norma | Ano | Tema/ Objetivo Principal |
| ABNT NBR 15530 | 2019 | Fibras de Aço para Concreto – Requisitos e Métodos de Ensaio |
| ABNT NBR 16935 | 2021 | Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibras – Procedimento |
| ABNT NBR 16938 | 2021 | Concreto Reforçado com Fibras – Controle da Qualidade |
| ABNT NBR 16939 | 2021 | Concreto Reforçado com Fibras – Determinação das Resistências à Fissuração e Residuais à Tração por Duplo Puncionamento – Método de Ensaio |
| ABNT NBR 16940 | 2021 | Concreto Reforçado com Fibras – Determinação das Resistências à Tração na Flexão (limite de proporcionalidade e residuais) – Método de Ensaio |
| ABNT NBR 16941 | 2021 | Fibras de Vidro Álcali-resistentes (AR) para Concreto e Argamassa – Requisitos e Métodos de Ensaio |
| ABNT NBR 16942 | 2021 | Fibras Poliméricas para Concreto – Requisitos e Métodos de Ensaio |
| ABNT NBR 14931 | 2023 | Execução de Estruturas de Concreto Armado, Protendido e com Fibras – Requisitos |
| ABNT NBR 17196 | 2025 | Projeto de Estruturas de Concreto Armado com Barras de Polímero Reforçado com Fibras (FRP) |
| ABNT NBR 17201 | 2025 | Barras de Polímero Reforçado com Fibras (FRP) destinadas a Armaduras para Estruturas de Concreto Armado – Parte 1 – Requisitos |
Benefícios das fibras para concreto
Para o engenheiro civil Kennedy Pessoa, “a premissa principal para a utilização de fibras no concreto está no aumento da ductilidade dele, de modo que reduza o surgimento de fissuras e diminua suas aberturas”.
Além deste, podemos citar como benefícios:
- Ganho de resistência à tração;
- Resistência à flexão;
- Alto desempenho;
- Resistência do concreto estrutural;
- Maior capacidade de deformação;
- Resistência ao fogo;
- Aumento na tenacidade do elemento e em sua resistência ao impacto;
- Redução da trabalhabilidade.
Desvantagens das fibras aditivas no concreto
A principal desvantagem das fibras aditivas no concreto é relacionada ao alto custo que algumas delas têm. “Nem todos os tipos de fibra possuem módulo de elasticidade maior que o do concreto. Além disso, o uso de fibras no concreto não extingue o aparecimento de fissuras”, explica Kennedy.
Outro ponto negativo é a dificuldade de dispersão homogênea das fibras na matriz de concreto.
Quando a distribuição não ocorre de maneira uniforme, podem surgir pontos de fragilidade ou concentração de material, comprometendo o desempenho mecânico e a estética da peça.
Esta questão específica exige um maior controle tecnológico durante o processo de mistura e aplicação, o que pode aumentar o tempo e a complexidade da execução. Além disso, o uso de fibras pode afetar a trabalhabilidade do concreto fresco.
A presença de fibras tende a reduzir a fluidez da mistura, tornando-a mais difícil de adensar e lançar, especialmente em estruturas com formas complexas ou elevada densidade de armaduras.
4 tendências e inovações no uso de fibras em concreto
O avanço das pesquisas e das tecnologias aplicadas ao concreto tem ampliado as possibilidades do uso de fibras, não apenas para reforço mecânico, mas também como solução sustentável e adaptada a novos contextos construtivos.
Entre as principais tendências, destacam-se o uso de fibras recicladas e naturais, a incorporação em processos de impressão 3D e as aplicações específicas em ambientes extremos, que exigem maior desempenho e durabilidade.
Vamos entender melhor cada uma destas tendências:
1. Fibras sustentáveis e recicladas
O desenvolvimento de fibras a partir de materiais reciclados, como PET, e fibras vegetais, como bambu e sisal, tem ganhado espaço como alternativa de baixo impacto ambiental.
Essas opções buscam reduzir os resíduos sólidos, valorizar os recursos renováveis e atender às demandas de construção mais sustentável.
Além disso, estudos recentes apontam que muitas dessas fibras oferecem bom desempenho mecânico, especialmente quando tratadas ou processadas adequadamente.
2. Avaliação de ciclo de vida (ACV) e pegada de carbono
A aplicação de fibras sustentáveis no concreto também tem sido analisada sob a ótica da Avaliação de Ciclo de Vida (ACV), que mede o impacto ambiental desde a produção até o descarte.
Pesquisas mostram que fibras recicladas e vegetais reduzem a pegada de carbono do material, contribuindo para projetos alinhados a práticas de ESG e certificações ambientais, como LEED e AQUA-HQE.
3. Uso de fibras em impressão 3D de concreto
Com a evolução da construção automatizada, a impressão 3D de concreto tem se destacado como uma área promissora para o uso de fibras. Elas contribuem para melhorar a coesão da mistura e aumentar a resistência das peças impressas camada por camada.
Essa tecnologia permite criar geometrias complexas, reduzir desperdícios e acelerar obras, tornando-se uma solução estratégica para construções mais rápidas e personalizadas.
4. Concreto com fibras em ambientes extremos
O reforço com fibras também se mostra essencial em contextos de alta exigência estrutural, como túneis, estruturas marítimas e zonas sísmicas.
Nesses ambientes, as fibras ajudam a controlar fissuras, aumentar a resistência à abrasão e ao impacto, além de melhorar o desempenho do concreto frente a variações térmicas e esforços dinâmicos.