A construção civil enfrenta desafios crescentes quando o assunto é a durabilidade das estruturas de concreto. Entre as chamadas reações expansivas, duas se destacam pela gravidade e pelo impacto que causam em obras no Brasil e no mundo: a Reatividade Álcali-Agregado (RAA) e a Etringita Tardia (DEF), temas que foram discutidos por especialistas durante um painel no Concrete Show 2025.

Quem liderou o debate foi Cesar Henrique Daher, fundador da Daher Engenharia Consultiva e Tecnologia e do IDD Educação Avançada. Segundo o engenheiro, esses processos químicos internos, muitas vezes invisíveis a olho nu, podem gerar fissuras, perda de resistência e até o comprometimento estrutural de edifícios, pontes e barragens.

“Quando pensamos em patologias das construções, falamos muito sobre a corrosão de armaduras, mas esquecemos de olhar para o concreto e sua microestrutura. São reações que acontecem internamente e muitos engenheiros, por desconhecimento da química e ou falta de interesse em materiais, se afastam dessa problemática muito séria”, afirmou Cesar Henrique Daher.

O especialista ainda explicou que a formação universitária dos cursos de engenharia enfrentam desafios em relação a qualidade e a definição de objetivos mercadológicos, por isso, com apoio do IDD sempre priorizou a importância da profissão e o contato com engenheiros experientes e renomados, assim como nos painéis do Congresso Congresso Concrete Show.

RAA e DEF: problemas químicos que desafiam engenheiros no Brasil

Quem falou sobre a RAA, conhecida popularmente como o “câncer do concreto”, foi Raphael Holanda, diretor técnico da Holanda Engenharia. Esse processo ocorre quando os álcalis presentes no cimento reagem com certos tipos de agregados minerais, formando um gel expansivo que pressiona a microestrutura e gera trincas ao longo do tempo.

“Na nossa empresa, tentamos ser o elo entre a academia e a obra, servindo como um laboratório para aplicar cada vez mais as fórmulas que deram certo nas nossas pesquisas. Muitas vezes já começamos a obra do jeito errado, porque o primeiro passo é a escolha de materiais motivada pela relação custo-benefício, quando deveríamos pensar no desempenho do concreto no estado fresco e no estado endurecido, priorizando uniformidade e qualidade. Hoje, durabilidade e sustentabilidade também entram na conta, ou seja, a classe de agressividade ambiental do material, além do clima e fatores externos da obra”, destacou Holanda.

Já a DEF é resultado de reações químicas em altas temperaturas de cura que voltam a se manifestar anos depois, causando expansão interna e deterioração da peça. Segundo o diretor da Desek, Selmo Chapira Kuperman, a norma técnica adotada no nosso país permite o uso de peças pré-moldadas sem observar as boas práticas de cura.

“É o problema do pré-moldado. As pessoas pensam: como fazemos a peça secar mais rapidamente na fabricação. Em vez de deixar a temperatura de cura em 60 graus, o estavam colocando a 75, 85 graus, porque a resistência aumenta e dá pra colocar no depósito mais rapidamente. Na norma brasileira, é possível fazer dessa maneira com qualquer peça cuja menor dimensão seja de um metro. A partir disso, a geração de calor é brutal. Quem trabalha em construção tem que tomar cuidado”, alertou Kuperman.

Discutir a durabilidade e a sustentabilidade das estruturas frente às reações expansivas é essencial em um momento em que a construção civil busca alinhar qualidade, segurança e neutralidade de carbono até 2050. Assim, eventos como o Concrete Show 2025, que reuniu mais de 120 palestrantes em três palcos de conteúdo em São Paulo, tornam-se espaços fundamentais para aproximar engenheiros, pesquisadores e empresas, fortalecendo uma agenda de responsabilidade e inovação no setor.

LEIA MAIS

Concreto 3D: o futuro da construção brasileira

Concreto inteligente: tecnologias que impulsionam eficiência e sustentabilidade

Trilha do Concreto: Inovação e sustentabilidade na construção civil