Imagine um canteiro de obras sem martelos, fôrmas ou andaimes. No lugar disso, uma impressora gigante, controlada por computador, ergue paredes, estruturas e até casas inteiras com camadas precisas de concreto.
Parece ficção científica, mas essa cena já é realidade em algumas partes do mundo e começa a ganhar espaço também no Brasil.
A tecnologia de impressão 3D em concreto está revolucionando a forma como construímos, unindo automação, sustentabilidade e inovação para transformar processos centenários.
Neste artigo, você vai entender como essa tecnologia funciona, o que já é possível construir com ela, quais são os desafios para a adoção em larga escala e o impacto que pode causar na mão de obra da construção civil.
Para enriquecer a discussão, contamos com a participação de Jéssica Andrade Dantas, coordenadora de Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico do grupo Cyrela.
Prepare-se para enxergar o futuro da engenharia por um novo ângulo – camada por camada!
Como funciona a tecnologia de impressão 3D em concreto
Jéssica Dantas explica que a impressão 3D em concreto utiliza um microconcreto, semelhante a uma argamassa, que é depositado camada sobre camada por um equipamento de impressão controlado digitalmente.
O modelo da construção, segundo a especialista, é gerado via software e, em seguida, enviado para a impressora, que executa a geometria de forma automatizada, sem a necessidade de fôrmas.
No entanto, ela ressalta que a mistura do concreto precisa atender a requisitos específicos. “A mistura do concreto precisa ter propriedades específicas, como alta trabalhabilidade, reologia adequada, resistência inicial e rápida cura”.
O que já é possível construir com concreto 3D?
Atualmente, a tecnologia permite a construção de diversas estruturas, como:
- Edificações de até dois pavimentos;
- Elementos arquitetônicos complexos;
- Paredes e módulos habitacionais;
- Bancos urbanos;
- Pontes de pequeno porte.
“A limitação está principalmente em altura, resistência estrutural, normas técnicas e diretrizes com boas práticas de execução”, observa Jéssica.
Entretanto, avanços contínuos estão ampliando essas possibilidades. “Muitos projetos combinam a impressão com sistemas híbridos para vencer essas restrições”.
Adoção do concreto 3D no Brasil e no mundo
Embora o Brasil ainda esteja em estágio inicial de adoção, com iniciativas voltadas para pesquisa, protótipos e projetos-piloto, países como China, Estados Unidos, Alemanha e Emirados Árabes já estão mais avançados.
“Esses países possuem obras reais em uso, regulamentações em evolução e maior envolvimento da indústria”, explica Jéssica.
No entanto, o cenário brasileiro está mudando rapidamente. “O interesse vem crescendo, especialmente por parte de startups e grandes construtoras”, garante a especialista.
Desafios técnicos e logísticos para implementação em larga escala
Entre os principais obstáculos para a adoção do concreto 3D no Brasil, destacam-se:
- Falta de normatização específica;
- Alto custo inicial dos equipamentos;
- Necessidade de qualificação técnica;
- Desafios logísticos para transporte e mobilização dos equipamentos.
“Além disso, o transporte e a mobilização dos grandes equipamentos de impressão em diferentes canteiros ainda são um desafio logístico importante”, complementa Jéssica.
O impacto na mão de obra da construção civil
A impressão 3D em concreto tem a tendência de transformar a dinâmica da mão de obra na construção civil.
“Em vez de substituir completamente os trabalhadores, a tecnologia muda o perfil das funções: há uma redução da mão de obra braçal e um aumento da demanda por operadores técnicos, projetistas digitais e profissionais capacitados em controle de processos”, analisa Jéssica. No entanto, essa mudança pode trazer benefícios significativos, como:
- Maior segurança no trabalho;
- Aumento da produtividade;
- Qualificação da força de trabalho.
“Isso pode contribuir para maior segurança, produtividade e qualificação do setor”, finaliza.