Diante da crescente demanda por práticas mais sustentáveis na construção civil, a indústria do cimento tem buscado alternativas ao uso exclusivo do clínquer.
Neste cenário, os Materiais Cimentícios Suplementares (SCMs) desempenham um papel essencial, ajudando a reduzir as emissões de CO₂ e a incorporar resíduos industriais ao ciclo produtivo.
O Concrete Show Digital conversou com Silvia Vieira, gerente geral de Pesquisa e Desenvolvimento de Produto da Votorantim Cimentos, que falou sobre os caminhos promissores que estão sendo explorados com os SCMs de próxima geração. Confira!
Materiais emergentes mais promissores
Além dos SCMs tradicionais, como cinza volante, escória de alto forno e sílica ativa, a pesquisa vem avançando em novas alternativas mais sustentáveis e de maior desempenho. Silvia Vieira cita alguns exemplos:
“Há as escórias ácidas provenientes de beneficiamento de minérios, como, por exemplo, de cobre, manganês e níquel, que são pozolanas já usadas pela Votorantim Cimentos”. A especialista também cita outros materiais possíveis a serem usados como adição. É o caso das cinzas de biomassa, como cinzas de casca de arroz, resíduos cerâmicos e resíduos de concreto.
Subprodutos industriais não convencionais com potencial significativo como SCMs
Entre os subprodutos que podem ser utilizados como SCMs, Vieira lembra, principalmente, das cinzas de biomassa, com destaque para as cascas de arroz.
“São potenciais cimentícios ainda não amplamente adotados principalmente em razão dos baixos volumes produzidos e dispersão dos locais de produção. Isso traz
desafios logísticos que ainda precisam ser equacionados”, observa.
Novas tecnologias de processamento na transformação de resíduos inadequados
A especialista ressalta que a disponibilidade de escórias de alto forno, já amplamente usadas como adição ao cimento, tenderá a diminuir. “Isso acontecerá em função das modificações necessárias no processo de produção do ferro gusa para reduzir suas emissões de carbono”, explica.
Estas modificações, segundo ela, também irão alterar as características das escórias, que precisarão ser tratadas para viabilizar seu uso em cimento. “Inclusive, processos de adequação destes novos tipos de escória (escória de arco elétrico) já estão sendo estudados e desenvolvidos”, adianta.
Da mesma forma, Vieira garante que a disponibilidade de cinzas volantes geradas pelas termelétricas a carvão irá diminuir, devido à substituição por fontes de energia limpa e renovável.
“Assim, uma opção é o uso de cinzas anteriormente descartadas e colocadas em aterros por causa de seu elevado teor de material incombusto, como o carvão incombusto, que não foi queimado no processo de combustão”, analisa.
A especialista afirma que diferentes métodos já estão sendo empregados para possibilitar este uso.
Principais desafios no controle de qualidade
A gerente geral afirma que o controle de qualidade é crucial para assegurar que o produto final tenha desempenho constante e de acordo com os requerimentos do mercado.
“O maior desafio em relação aos novos SCMs é sua eventual variabilidade, o que pode demandar processos de tratamento prévio ao seu uso como adição ao cimento”, detalha.
“Estes processos podem envolver secagem, mistura, peneiramento, entre outros”, cita.
Contribuição de novos materiais cimentícios suplementares para estratégias de economia circular
De acordo com Silvia Vieira, os cimentícios usados hoje são, em grande parte, resíduos industriais.
“A indústria cimenteira está sempre trabalhando em conjunto com outras indústrias, buscando valorizar seus resíduos como materiais que possam ser usados no cimento, reduzindo o teor de clínquer”, informa.
“Além destes subprodutos, os resíduos de concreto, de construção e de demolição são promissores para reduzir a pegada de CO2 do setor da construção e para a economia circular na indústria da construção”, finaliza Silvia Vieira.
Com a escassez dos SCMs tradicionais, o desenvolvimento e aproveitamento de materiais emergentes se tornam cada vez mais estratégicos. Logo, o futuro do cimento está diretamente ligado à valorização de resíduos e à economia circular.