A universalização do saneamento no Brasil exige mais do que obras: pede inteligência, tecnologia e integração com as dinâmicas urbanas.

Com áreas urbanas cada vez mais densas e o desafio de expandir redes de água e esgoto com eficiência e sustentabilidade, soluções inovadoras estão saindo do papel e já fazem parte da rotina de grandes companhias do setor.

À frente de uma dessas transformações está Angel Luis Martinez Ibanez, diretor de Suprimentos para Obras e Serviços de Engenharia da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). 

Em entrevista exclusiva, ele, que estará presente no 16º Concrete Show, detalha as tecnologias emergentes que estão sendo adotadas pela companhia para modernizar redes, reduzir perdas, aumentar a eficiência energética e viabilizar uma infraestrutura mais conectada ao conceito de cidades inteligentes.

Do uso de inteligência artificial com imagens de satélite para localizar vazamentos até o desenvolvimento de programas de reconhecimento de boas práticas em obras de saneamento, Ibanez revela um cenário de modernização acelerada.

Neste artigo, você confere os destaques dessa conversa e entende por que o saneamento inteligente é peça-chave para o futuro das cidades. Acompanhe!

Tecnologias emergentes adotadas pela Sabesp para modernizar redes de água e esgoto

Angel Ibanez conta que a Sabesp tem adotado diferentes tecnologias emergentes para modernizar as redes de água e esgoto, especialmente em áreas de expansão urbana e de alta complexidade operacional. 

“As principais inovações em curso incluem um sistema que combina inteligência artificial com imagens de satélite para detectar vazamentos de água com até cinco vezes mais precisão do que os métodos tradicionais”, inicia a entrevista.

Segundo Ibanez, o sistema identifica a umidade no solo em até três metros de profundidade e analisa padrões térmicos e geográficos para localizar perdas.

Outros métodos não destrutivos para recuperação de redes deterioradas incluem o CIPP (revestimento interno com resina) e o monitoramento remoto para reduzir perdas e melhorar a eficiência operacional. 

Novas infraestruturas de saneamento eficientes e sustentáveis

Para garantir que as novas estruturas de saneamento sejam eficientes e sustentáveis, Ibanez conta que a Sabesp criou o Programa Parceiros para o Impacto.

Lançado em 2025, o programa visa elevar os padrões da construção civil em projetos de saneamento, com foco em sustentabilidade, inovação, compromisso social, gestão e transparência.

“As empresas contratadas devem participar de workshops bimestrais e alimentar uma plataforma online com indicadores mensais. As melhores práticas são reconhecidas com o selo ’Parceiro para o Impacto’ e prêmios anuais”, detalha. 

Os desafios logísticos e de suprimentos em projetos de expansão de redes de saneamento

Conforme Angel Ibanez, o acesso e mobilidade em áreas urbanas densas, a disponibilidade e padronização de materiais e a alta demanda da cadeia de suprimentos estão entre os maiores desafios da expansão das redes.

Além disso, a necessidade de medidas sustentáveis, a coordenação entre múltiplos stakeholders (prefeituras, companhias de trânsito, concessionárias, entre outros) e a falta de digitalização de projetos também fazem parte. 

Estratégias para reduzir perdas de água e melhorar a eficiência energética

A Sabesp já utiliza uma série de estratégias para minimizar as perdas de água e melhorar a eficiência energética.

Sobre as perdas reais, Ibanez explica que existe uma pesquisa ativa de vazamentos não visíveis onde mais de 32 mil quilômetros de rede foram analisados por ano, com cerca de 11,8 mil vazamentos identificados. 

“Fizemos a reabilitação de redes com a substituição de 554 quilômetros de tubulações por ano, a instalação de válvulas redutoras de pressão com mais de 1.500 unidades em operação, além da setorização para facilitar o monitoramento e reduzir rupturas e o controle de pressão”, cita.

Para abarcar as perdas aparentes, diferentes estratégias foram colocadas em prática. “Realizamos mais de um milhão de inspeções por ano, trocamos cerca de 680 mil unidades de hidrômetros preventivamente e implantamos macromedidores e dispositivos de medição e controle para melhorar a precisão do balanço hídrico”, divulga.

Conforme Ibanez, a modernização dos equipamentos também é uma preocupação constante do time da Sabesp.

“Realizamos a substituição de motores e bombas por modelos de alto rendimento (classe premium), com apoio da Enel e incentivamos projetos de eficiência energética em estações elevatórias com uma redução de consumo em até 14%”, comenta.

A geração própria de energia e o uso de gás natural são outras questões importantes para a Sabesp. 

“Colocamos mini-hidrelétricas em adutoras para aproveitamento de desníveis e pressão para gerar energia e construímos fazendas solares próprias, além da substituição de motores elétricos por motores a gás em estações elevatórias, com economia de 10% a 40% no consumo”, revela.

Parcerias com a iniciativa privada para acelerar a universalização do saneamento no Brasil

Na opinião de Angel Ibanez, as parcerias com a iniciativa privada estão desempenhando um papel fundamental na aceleração da universalização do saneamento no Brasil, especialmente após o novo Marco Legal do Saneamento.

O entrevistado elenca as principais medidas que estão sendo tomadas: 

“A desestatização da Sabesp tem como objetivo antecipar a universalização dos serviços de água e esgoto de 2033 para 2029”, inicia.

“Estão previstos R$ 260 bilhões em investimentos até 2060, com foco em áreas vulneráveis, rurais e núcleos urbanos informais; e a estruturação de PPPs”, continua.

Segundo ele, a participação da iniciativa privada no saneamento saltou de 5% em 2019 para 29% em 2025, com tendência de crescimento acelerado.

“Em 2025, estão previstos 23 leilões de concessões e PPPs, que podem adicionar R$ 72,4 bilhões em novos contratos”, divulga.

O especialista acrescenta que as empresas privadas trazem tecnologia, gestão moderna e foco em resultados, o que melhora a eficiência, reduz perdas e acelera obras.

Saneamento integrado a outros sistemas de cidades inteligentes

Ibanez explica que o saneamento inteligente se integra aos sistemas de cidades inteligentes. Essa participação ocorre por meio de tecnologias como IoT, análise de dados em tempo real, automação e inteligência artificial. 

“Os sensores instalados em redes de água e esgoto se conectam a plataformas de monitoramento urbano em tempo real, permitindo a detecção de vazamentos, ajustes de pressão e monitoramento da qualidade da água e efluentes”, exemplifica.

Ele também fala sobre eficiência energética e o uso de recursos:

“Sistemas de saneamento inteligente se conectam a redes de energia inteligente (smart grid) para otimizar o uso de bombas e motores em horários de menor demanda e  gerar energia com biogás”, ressalta.

Existe, ainda, um sistema de cidades inteligentes que foca na participação ativa dos cidadãos.

“Aplicativos e portais permitem que cidadãos reportem vazamentos ou problemas de esgoto, acompanhem o consumo de água em tempo real e ainda recebam alertas sobre qualidade da água ou interrupções no serviço”.

O impacto do novo Marco do Saneamento nos investimentos em tecnologia para o setor

Sobre o Novo Marco Legal do Saneamento, Angel Luis Martinez Ibanez explica que a questão tem gerado um impacto profundo nos investimentos em tecnologia no setor, especialmente a partir de 2023.

“Houve um aumento expressivo dos investimentos (valor investido e quantidade de leilões) e ainda trouxe muita tecnologia e inovação para o setor”, revela.

O entrevistado estará presente no painel “Saneamento Inteligente: tecnologias para a expansão da rede” durante o 16º Concrete Show. Sobre a participação, ele comenta: 

“Espero que o debate traga casos reais de aplicação de tecnologias inteligentes, que haja discussão sobre os principais desafios para a universalização, em São Paulo (que é a realidade da Sabesp) e demais estados do Brasil”.

Ele afirma que será bom entender como as diversas concessões estão se mobilizando para o Marco Legal, podendo entender o real impacto na cadeia de fornecedores, preparando-a para este grande desafio.

“Finalmente espero discutir práticas ESG, tão importantes para um setor que gera tanto impacto”, conclui.

Para ficar por dentro das inovações do setor e acompanhar de perto o painel com Angel Ibanez, faça sua inscrição para o Concrete Show e garanta a sua presença nesse grande encontro da construção civil!