Muito além das máquinas, concretos e tecnologias, o Concrete Show 2025 abriu espaço para um tema de alto impacto social: a inclusão feminina na construção civil. Bia Kern, presidente do Instituto Mulher em Construção (IMEC), compartilhou a trajetória da organização que há quase 20 anos transforma realidades pelo trabalho e pela capacitação, durante palestra na Arena 120 Ideias.
“Usamos a construção civil como ferramenta de transformação social”, resumiu Bia. Fundado em Porto Alegre, o instituto nasceu da percepção de um paradoxo: de um lado, milhares de mulheres desempregadas e em situação de vulnerabilidade; de outro, empresas enfrentando a escassez de mão de obra qualificada no setor. No evento, o projeto ainda contou com um estande exclusivo para receber visitantes e apresentar mais sobre essa iniciativa inspiradora.
Da exclusão à oportunidade
Ao lembrar os primeiros anos do projeto, Bia destacou quais foram os maiores obstáculos enfrentados: “Naquela época era muito complicado. Eu via muitas mulheres com necessidades e, ao mesmo tempo, construtoras buscando trabalhadores sem encontrar mão de obra qualificada”.
O preconceito de gênero também era evidente: “Sempre se dizia que mulher não podia pegar peso, que não era capaz de atuar em um canteiro. Mas a gente mostrou que isso era só estereótipo”.
Ela exemplifica o quanto a demanda por trabalho é alta: “Já tivemos 1.500 mulheres inscritas para apenas 20 vagas de trabalho em Porto Alegre. Isso mostra a sede de oportunidade que existe”, relatou.

Impacto social que vai além do emprego
O IMEC já capacitou mais de 7.500 mulheres em cursos que vão desde pedreira e pintora até assentadora de revestimento e instaladora hidráulica. De acordo com Bia, 40% das alunas recebem ofertas de trabalho antes mesmo de terminar o curso. Mas o impacto, segundo ela, não se resume a dados de empregabilidade.
“Quando a mulher conquista um ofício, ela resgata sua autoestima, garante independência e rompe ciclos de violência”, destacou. “A construção civil não transforma apenas a vida da trabalhadora, mas também a realidade da sua família e da comunidade”.
Esse efeito multiplicador, frisou Bia, é uma das maiores conquistas do projeto: “A cada casa reformada, a cada obra executada por uma mulher capacitada, estamos também construindo uma sociedade mais justa e igualitária”.
Reconhecimento internacional e legado
O trabalho do IMEC tem repercussão além das fronteiras brasileiras. O instituto já recebeu prêmios como o Women Changemakers – Womanity Foundation e o Empowering Women Award, além de participar do Clinton Global Initiative (CGI). A organização também foi convidada a compartilhar sua experiência em países como Estados Unidos e Espanha, mostrando que o modelo de inclusão pela construção civil pode ser replicado em diferentes contextos.
“Nós provamos que capacitação é a chave para quebrar desigualdades. Se o mercado precisa de trabalhadores e não há homens suficientes, por que não investir nas mulheres?”, questionou Bia.
Na visão da fundadora, cada mulher formada pelo instituto carrega consigo mais do que habilidades técnicas: carrega a possibilidade de escrever uma nova história. “Já tivemos alunas que começaram sem nenhuma perspectiva e hoje são chefes de equipe ou empreendedoras na construção. Isso mostra o quanto uma oportunidade pode mudar destinos”.
Ao encerrar sua participação na Concrete Show 2025, Bia deixou um convite ao setor: “As empresas precisam abrir espaço para essa mão de obra altamente preparada. Não é favor, é inteligência social e econômica”.
Como as empresas do setor podem apoiar?
“As empresas podem patrocinar projetos, contratar alunas ou, ainda, aderir ao Selo Rosa – um compromisso com a inclusão e o impacto social no setor da construção civil”, conclui Kern.
Acesse o site do Instituto Mulheres em Construção para saber mais sobre os projetos e como colaborar.
Para as mulheres que tem interesse em se inscrever nas oficinas, basta clicar aqui.