O painel “Energia sustentável no concreto: do canteiro à indústria, desafios e oportunidades no Mercado Livre” realizado durante o Congresso Construindo Conhecimento reuniu especialistas para discutir como a transição energética está transformando o setor da construção civil, especialmente na indústria do concreto, conhecida pelo alto consumo energético e impacto ambiental.
O painel contou com a participação de Philipe Jesus, Gerente de Suprimentos na Cetenco Engenharia; José Luiz Fonseca, Gerente Executivo de sustentabilidade e relações institucionais na MRV; Ana Carla Petti, diretora de assuntos regulatórios na Comerc; Guilherme Susteras, conselheiro na Absolar; e, Miriam Diniz, diretora comercial UCB Power.
Mercado Livre de Energia: uma realidade em expansão
Ana Carla Petti explicou que o Mercado Livre de energia, embora exista há cerca de 20 anos no Brasil, só recentemente começou a se tornar mais acessível. “Desde o ano passado, todas as empresas, independente do porte, desde que estejam conectadas à média ou alta tensão, conseguem acessar o Mercado Livre”, destacou.
A diretora da Comerc ressaltou que o processo de migração para este ambiente envolve:
- Denúncia do contrato atual com a distribuidora
- Apresentação de documentos à Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)
- Gestão contratual específica para o novo ambiente
Philipe Jesus compartilhou a experiência da Cetenco Engenharia, que enxergou na energia uma categoria estratégica a ser desenvolvida. “O compromisso da companhia foi reduzir em 30% os custos com energia”, afirmou. Ele destacou que a empresa possui diversos projetos espalhados pelo Brasil, incluindo usinas de asfalto e concreto com demanda elevada de energia.
Geração distribuída: a experiência da MRV
José Luiz Fonseca apresentou o caso da MRV, que apostou na geração distribuída como alternativa energética. A empresa começou com a instalação de microusinas solares em seus empreendimentos, atingindo entre 50% e 70% de economia de energia.
“Nós entregamos soluções de energias renováveis para o nosso cliente”, explicou Fonseca. A empresa evoluiu para oferecer energia renovável através de geração distribuída, instalando sistemas durante a obra, entregando para o condomínio e ofertando para o cliente final.
Um dos desafios mencionados foi a educação do consumidor sobre os benefícios da energia renovável: “Quando você explica para o cliente sobre essa solução e pergunta se ele quer aderir, eles costumam perguntar se é uma pegadinha”, relatou.
O potencial da Energia Solar no Brasil
Guilherme Susteras, da Absolar, destacou que a energia solar já é a segunda principal fonte de energia do Brasil, ficando atrás apenas das hidrelétricas. “A energia solar fotovoltaica deixou de ser energia do futuro para ser energia do presente”, afirmou.
Ele explicou que a tecnologia solar oferece grande flexibilidade, podendo atender desde grandes empreendimentos até canteiros de obras e empreendimentos finalizados. Além disso, destacou que hoje é “a fonte de energia mais competitiva do Brasil”.
Susteras também mencionou o potencial das fazendas solares como forma democrática de acesso à energia: “Você mora num apartamento, pode ter energia solar sem que o painel solar esteja no seu prédio”. Segundo ele, cerca de 75% das instalações de energia solar são em telhados, enquanto 25% são de geração remota, indicando grande potencial de crescimento neste segmento.
O Futuro da Energia na Construção Civil
Os especialistas apontaram tendências importantes para o setor:
- Armazenamento de energia: Susteras destacou que “a próxima tendência é o armazenamento, que vai mudar o jogo completamente”. Ele prevê que em breve não será possível pensar em prédios de médio ou alto padrão sem sistemas de armazenamento de energia.
- Eletrificação das frotas: “Se vocês ainda não tiveram uma briga de condomínio sobre carregamento de carro elétrico, preparem-se”, alertou Susteras, indicando a necessidade de infraestrutura elétrica para suportar esta demanda crescente.
- Segurança energética: Em grandes centros como São Paulo, onde “choveu, apagou”, a garantia de fornecimento de energia sem geradores a diesel será um diferencial competitivo.
- Abertura total do Mercado Livre: Ana Carla Petti mencionou que o setor aguarda ansiosamente a abertura completa do Mercado Livre, com simplificação do processo de migração.
Desafios da Transição Energética
Os palestrantes identificaram alguns obstáculos importantes:
- Educação do consumidor: José Luiz Fonseca mencionou a dificuldade em “letrar o cliente, educar ele nas vantagens dessa energia”, citando a desconfiança inicial sobre os benefícios oferecidos.
- Complexidade regulatória: Ana Carla Petti destacou que ainda existem “algumas etapas a serem vencidas” no processo de migração para o Mercado Livre.
- Customização para diferentes perfis: Philipe Jesus ressaltou a necessidade de adaptar soluções energéticas para diferentes tipos de empreendimentos e demandas específicas.
- Variação de preços: Foi mencionada a dificuldade em explicar aos consumidores a variação do preço da energia como commodity, o que pode afetar os descontos prometidos.
José Luiz Fonseca resumiu o sentimento geral ao afirmar que a transição para energias renováveis “é um caminho sem volta”. Ele destacou que, apesar das resistências iniciais, ficou demonstrado que “quando você olha para a sustentabilidade, gera valor em todos os sentidos”.
Guilherme Susteras complementou que a energia solar “não é uma coisa alternativa maluca, ela é uma opção claramente racional do ponto de vista econômico e também social”.
O painel evidenciou que a revolução energética na construção civil brasileira já está em curso, com empresas pioneiras colhendo os benefícios econômicos e ambientais da transição para fontes renováveis, seja através do Mercado Livre de Energia ou da geração distribuída.
Ainda dá tempo de participar do Congresso Construindo Conhecimento. Até o dia 21 de agosto, o Concrete Show é palco do encontro entre os maiores especialistas da cadeia construtiva do concreto. Para garantir seus ingressos do congresso, clique aqui!
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