O mercado de construção civil tem acompanhado a crescente adoção de paredes de concreto autodensável, impulsionada pela busca por maior produtividade e redução de retrabalhos em obras de grande porte. 

No Nordeste, projetos recentes, como o desenvolvido em Caruaru (PE) pela Global Premier, mostrando os desafios e soluções relacionadas à escolha de materiais, dosagem e controle tecnológico, foram abordados por Carlos Amado Britez, pós-doutor em Engenharia Civil e sócio-diretor da Britez Consultoria no painel “Paredes de Concreto. Concepções de Dosagem, Boas Práticas e Estudo de Caso: Case Global Premier em Caruaru/PE” no palco da Arena 120 Ideias, durante o Concrete Show 2025

Desafios da areia local e necessidade de concreto autodensável 

Segundo Britez, o primeiro contato com Caruaru mostrou um grande desafio: a areia local apresentava torrões de argila que absorvem água, comprometendo a trabalhabilidade do concreto fluido tradicional. “Essa argila funciona como uma esponja. Se não ajustarmos a dosagem, o concreto trava e precisamos de retrabalho, que pode custar até cinco vezes mais que o próprio material”, explicou o especialista. 

A solução passou pela seleção de uma areia específica da região, adequada para o desenvolvimento de concreto autodensável, permitindo maior fluidez sem comprometer resistência e acabamento. 

Planejamento da obra e estudo de dosagem 

O projeto compreende 45 torres, sendo 30 no primeiro terreno e 15 em outro a cerca de 1 km de distância. Com 35.000 m² de área construída em um terreno de 40.000 m², a obra utiliza formas de origem chinesa, marcando a primeira experiência desse tipo no Brasil. 

Em março de 2025, a equipe realizou o estudo de dosagem em parceria com a SuperMix e aditivos da Admax, incluindo superplastificante e aditivos polifuncionais. “O protótipo é fundamental. Ele define o slump do concreto, o espalhamento e a quantidade ideal de aditivo, garantindo que a mistura chegue à obra com propriedades constantes”, destacou Britez. 

O traço candidato atingiu 71 cm de espalhamento, consumo de cimento de 360 kg/m³ e desempenho adequado mesmo após transporte de 16 km e 30 minutos, mantendo a fluidez esperada. 

Procedimentos de lançamento e controle tecnológico 

O lançamento do concreto segue protocolos rigorosos: velocidade reduzida, direção horizontal do mangote, placas que direcionam o fluxo e controle do aditivo no QG de recebimento. Cada caminhão leva cerca de 17 minutos do ponto de entrada até o lançamento, mantendo o slump entre 18 e 21 cm e o espalhamento entre 70 e 75 cm. 

A equipe da Global Premier trabalha com mão de obra mínima, apenas dois operadores diretamente envolvidos na concretagem, enquanto o restante acompanha o processo, garantindo produtividade elevada e redução de falhas. 

Protótipos e acabamento 

Antes da produção em série, foram realizados protótipos para testar a resistência da parede e a qualidade do acabamento. Para evitar bolhas e imperfeições, a equipe adotou técnicas como: 

  • Uso mínimo de desmoldante aplicado com rolo de lã de carneiro e esponja para absorver excesso; 
  • Mangotes direcionando o concreto horizontalmente; 
  • Acabamento texturizado tipo Knockdown, inspirado em práticas internacionais, que permite aplicação direta de pintura sem tratamento adicional. 

O resultado foi uma parede praticamente sem retrabalho, com bolhas mínimas e superfície pronta para pintura, evidenciando eficiência e cuidado na execução. 

Produtividade e resultados 

Em apenas quatro meses, foram construídos 20 prédios, uma média de cinco prédios por mês, considerando a complexidade de paredes de concreto. A execução demonstra que, com planejamento, estudos de dosagem e controle rigoroso, é possível elevar a produtividade e reduzir custos mesmo em condições desafiadoras de clima e matéria-prima. 

Para o especialista, o case de Caruaru é um exemplo da importância de adotar concreto autodensável, realizar protótipos e seguir protocolos de lançamento, minimizando retrabalhos e garantindo qualidade estética. “É fundamental usar normas, boas práticas e sempre realizar protótipos em qualquer situação”, reforçou Britez. 

Ainda dá tempo de acompanhar essa e outras discussões sobre o futuro da construção civil. O Concrete Show 2025 segue até o dia 21 de agosto, reunindo especialistas, empresas e tecnologias que estão moldando os próximos anos do setor. Para realizar seu credenciamento, clique aqui!