Durante o Congresso Construindo Conhecimento do Concrete Show 2025, especialistas reuniram-se para discutir o panorama atual e as perspectivas futuras da tecnologia de impressão 3D em concreto no Brasil. O painel contou com a participação de profissionais de diferentes setores, incluindo academia, indústria e mercado.
O evento contou com a participação de Renata Monte, Professora Doutora da USP; Juliana Martinelli, Fundadora e CEO da InovaHouse3D; Fernando Ozéias, Coordenador de Vendas da Sika; Adriano Scheuer, Senior Account Manager da Faro Technologies; e, Jessica Dantas, Coordenadora de Qualidade e Desenvolvimento Tecnológico da Cyrela.
Principais desafios para implementação no Brasil
O debate identificou três fatores críticos para a aceleração da adoção da impressão 3D de concreto no mercado brasileiro:
- Regulamentação e normalização: A ausência de normas específicas dificulta o financiamento de obras que utilizam essa tecnologia, especialmente no segmento habitacional.
- Investimento em pesquisa e desenvolvimento: Os palestrantes destacaram a escassez de recursos para pesquisas nacionais, o que limita o desenvolvimento de soluções adaptadas à realidade brasileira.
- Adaptação de materiais: As condições climáticas brasileiras exigem formulações específicas de concreto para impressão 3D, diferentes das utilizadas em outros países.
Segundo a professora Renata Monte da USP, a normalização é fundamental para o avanço da tecnologia no país. Ela explicou que sem especialistas envolvidos no desenvolvimento de normas específicas, torna-se difícil estabelecer parâmetros para ensaios e avaliações estruturais de elementos impressos em 3D.
Projetos pioneiros no Brasil
A CEO da InovaHouse3D, Juliana Martinelli, compartilhou experiências sobre os projetos pioneiros de impressão 3D em concreto no Brasil:
- Casa em Natal (RN): Primeiro projeto habitacional completo construído com tecnologia de impressão 3D no Brasil, viabilizado por um investidor privado.
- Casa em Caxias do Sul (RS): Projeto desenvolvido com material da Sika, adaptado às condições climáticas locais.
- Projetos experimentais: Diversos protótipos e testes em escala reduzida realizados em ambiente acadêmico e empresarial para validação da tecnologia.
Martinelli destacou que, apesar do interesse crescente, a falta de financiamento para obras que utilizam essa tecnologia limita sua aplicação em larga escala, especialmente no programa Minha Casa Minha Vida.
Adaptação de materiais e tecnologia
Fernando Ozéias, da Sika, explicou o processo de adaptação dos materiais para a realidade brasileira. Segundo ele, não é possível simplesmente importar formulações estrangeiras devido às diferenças climáticas. A empresa realizou estudos específicos para desenvolver composições adequadas ao clima tropical, considerando fatores como:
- Temperatura e umidade
- Velocidade de impressão
- Características das máquinas disponíveis no mercado brasileiro
- Requisitos estruturais específicos
Adriano Scheuer, da Faro Technologies, complementou abordando a importância das tecnologias de medição e controle de qualidade. Ele explicou que sistemas de medição de precisão milimétrica são essenciais para monitorar possíveis desvios durante e após a construção, garantindo a segurança e durabilidade das estruturas.
Perspectivas futuras
Quando questionados sobre o tempo necessário para que a tecnologia alcance um cenário ideal no Brasil, os especialistas foram cautelosos.
Juliana Martinelli estimou um período de aproximadamente 10 anos para que se estabeleça um ambiente propício ao crescimento da impressão 3D no setor construtivo brasileiro. E a professora Renata Monte concordou com a estimativa, ressaltando que o desenvolvimento de normas e a realização de ensaios em escala real demandam tempo e investimento.
Jessica Dantas, da Cyrela, enfatizou a necessidade de união entre academia, indústria e mercado para acelerar esse processo. Ela comparou o potencial desenvolvimento da impressão 3D com a evolução da tecnologia de paredes de concreto, que levou cerca de três anos para ser normatizada e amplamente adotada no país.
Vantagens competitivas da tecnologia
Os especialistas apontaram diversas vantagens da impressão 3D em concreto que justificam o investimento na tecnologia:
- Versatilidade de formas: Possibilidade de criar geometrias complexas sem necessidade de fôrmas especiais
- Redução de desperdício de material: Aplicação precisa do concreto apenas onde necessário
- Diminuição da dependência de mão de obra: Automatização do processo construtivo
- Velocidade de execução: Potencial para reduzir significativamente o tempo de construção
- Personalização: Capacidade de criar projetos exclusivos sem aumento proporcional de custo
O painel evidenciou que, apesar dos desafios atuais, a impressão 3D em concreto representa uma oportunidade significativa para a inovação na construção civil brasileira. Os especialistas concordaram que o investimento em tecnologia nacional é fundamental para que o Brasil não fique dependente de soluções estrangeiras que nem sempre se adaptam à realidade local.
Como destacou Juliana Martinelli, “precisamos acreditar no que está sendo feito aqui e fomentar esse ecossistema”, aproveitando o talento e a capacidade de inovação dos profissionais brasileiros para desenvolver soluções adequadas às necessidades específicas do país.
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