O setor construtivo brasileiro atravessa um dos momentos mais desafiadores de sua história. Margens operacionais apertadas, prazos cada vez mais curtos e a dificuldade crescente de encontrar mão de obra qualificada pressionam construtoras a repensarem seus modelos produtivos. Nesse cenário, a industrialização, que antes era vista como tendência de longo prazo, surge como uma resposta imediata.
Foi nesse contexto que a Arena Mega Demo do Concrete Show 2025 recebeu um painel dedicado ao tema, reunindo Victor Almeida, presidente do Conselho da Pacaembu Construtora, e José Stucki Júnior, diretor de Engenharia da empresa, para discutir os avanços tecnológicos e as consequências econômicas, tributárias e operacionais dessa transformação.
Dois catalisadores de mudança
Para Victor Almeida, a industrialização deixou de ser opção e passou a ser necessidade. O executivo destacou dois elementos que devem acelerar esse processo no Brasil:
“A escassez estrutural de mão de obra especializada está forçando uma reavaliação dos métodos construtivos tradicionais. Esse não é um problema conjuntural, mas uma tendência de longo prazo”, afirmou.
O segundo catalisador apontado foi a reforma tributária. Segundo Almeida, a equalização fiscal deve eliminar distorções que historicamente privilegiaram processos artesanais em detrimento de soluções industrializadas. “Com a reforma, será a eficiência técnica — e não a carga fiscal — que determinará a escolha do método construtivo.”

O canteiro como linha de produção
A Pacaembu Construtora já aplica a lógica industrial em seus empreendimentos, mas sem abandonar o canteiro de obras. José Stucki Júnior explicou como a empresa implementa um modelo de industrialização in-site:
“Transformamos o canteiro em uma linha de produção onde o produto permanece estático enquanto os trabalhadores se movimentam sequencialmente. Cada profissional executa exclusivamente sua especialidade, de forma repetitiva e padronizada, antes de passar para outro empreendimento.”
Esse sistema, que lembra uma fábrica a céu aberto, busca ganhos de produtividade, redução de desperdícios e consistência na qualidade final.
Produtividade além do custo unitário
O debate também trouxe um ponto importante: o custo. Materiais industrializados podem parecer mais caros em um primeiro olhar, mas a análise holística mostra outra realidade.
“Quando avaliamos o ciclo completo — tempo de execução, desperdício reduzido e qualidade consistente — frequentemente identificamos economia global significativa”, destacou Almeida.
Demonstração prática
Durante o evento, uma casa construída em apenas três dias com paredes de concreto foi apresentada na Arena Mega Demo. A Casa Modelo Pacaembu, de 43,85m² de área construída, é composta por dois quartos, sala, cozinha e banheiro. O projeto atende a todos os requisitos do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), reforçando o potencial da construção industrializada para atender à demanda habitacional do país de forma rápida e eficiente.

A experiência mostrou, na prática, como a industrialização, quando aliada a planejamento e sequenciamento rigorosos, pode encurtar prazos sem comprometer a qualidade.
Olhando para o futuro
A perspectiva dos especialistas aponta que a combinação entre necessidade técnica (escassez de mão de obra) e ajustes regulatórios (reforma tributária) deve acelerar a adoção de soluções industrializadas, tanto on-site quanto off-site, nos próximos anos.
O desafio, no entanto, vai além da tecnologia. A capacitação profissional será determinante para sustentar a mudança.
“O treinamento prático em canteiro é mais eficaz do que formações teóricas distantes da realidade. Sem mão de obra preparada, a industrialização não se concretiza”, reforçou Almeida.
Assim, a mensagem do painel foi direta: quem quiser permanecer competitivo precisará abrir espaço para novos métodos, repensar a relação com fornecedores e investir em capacitação. O futuro da construção civil brasileira, afirmaram os especialistas, será inevitavelmente industrial.
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