A construção civil, setor fundamental para o desenvolvimento econômico, ainda enfrenta desafios na incorporação de tecnologias de gestão de projetos.
Enquanto outras indústrias, como o agronegócio, avançam rapidamente na digitalização e automação, os canteiros de obra seguem adotando, em grande parte, métodos tradicionais.
Para entender melhor essa realidade e como a tecnologia pode transformar a gestão na construção civil, conversamos com Manuel Toledo. Ele é CEO da empresa Obra Lean, especialista em soluções tecnológicas para o setor.
Veja mais do que ele falou a seguir!
Uma indústria com desafios de longa data
Para Toledo, a construção civil é um setor que há muito tempo enfrenta dificuldades na modernização da gestão de projetos.
“Nossa área ainda está muito atrasada em relação à tecnologia, isso é um fato. Usamos pouca tecnologia, não no sentido de material, nem nada disso, mas no sentido de usar mesmo o software dentro das obras”, afirma.
Segundo ele, essa defasagem afeta diretamente o desempenho dos engenheiros, que acabam dedicando mais tempo ao controle operacional do que ao desenvolvimento de soluções técnicas.
“Vim muito com essa cabeça de olhar para cronograma e planejamento de obra como sendo algo essencial para o dia a dia, para que a gente tire um pouco do peso e trabalhe mais sendo engenheiro. Eu falo que nós, às vezes, viramos um tocador de obra ao invés de trabalhar em engenharia”, ressalta Toledo.
A resistência à tecnologia no canteiro de obras
No entendimento de Toledo, uma das principais barreiras para a adoção de novas tecnologias na construção civil é a resistência cultural dos profissionais do setor.
“Boa parte do que a gente vive hoje de falta de implementação de tecnologia é um pouco da quebra da cultura que existe dentro dos canteiros de obra. Ainda existe um pouco do mito de: ‘Ah, minha equipe não vai conseguir preencher uma informação, não vai conseguir acompanhar'”, explica o CEO da Obra Lean.
No entanto, Toledo argumenta que essa resistência é infundada, pois os trabalhadores já utilizam tecnologia no dia a dia.
“Se você perguntar para um encarregado ou para qualquer mestre de obra se ele tem um banco digital, ele vai te responder que sim. Ele já usa WhatsApp, ele já usa e-mail, ele já usa qualquer tipo de tecnologia do mercado”, compara.
A diferença entre o agronegócio e a construção civil
Toledo aponta o agronegócio como um exemplo de setor que soube investir em tecnologia e colhe os frutos dessa modernização.
“O agro trouxe muito dessa perspectiva e investiu nisso. Eu acho que o principal é apostar também nisso. Está todo mundo um pouco aprendendo junto, implementando um software dentro de um canteiro de obra”, reflete.
Ele prossegue, observando que tal mudança de paradigma: “É uma quebra de cultura. Ainda teremos que vencer essa barreira, mas eu acredito que o agro apostou nisso, e hoje tem um setor mais avançado.”
Para ele, a indústria da construção civil no Brasil tem um papel econômico significativo e não pode ficar para trás nesse processo de digitalização. Ele explica:
“Se olharmos de qualquer perspectiva mundial, nosso aro está super à frente. E eu acredito que no Brasil nós temos essa mesma perspectiva na construção civil. A indústria é super factível quando falamos de PIB no mercado, então temos a prerrogativa de investir nisso também.”
A tecnologia como aliada na previsibilidade e eficiência
A implementação de tecnologia nos canteiros de obra deve priorizar a facilidade de uso para os trabalhadores da linha de frente.
“Nosso principal objetivo sempre foi que o colaborador da ponta tivesse facilidade de preencher. Como engenheiros nós podemos planejar e pensar todas as estruturas, mas, se o pessoal que está lá na ponta não estiver alinhado com o mesmo propósito, o que teremos na verdade é um planejamento de contrato que não vai ser executado”, alerta.
Toledo destaca um case de sucesso da Obra Lean em que, em apenas um dia, um software de gestão foi implementado no canteiro de obras, gerando impacto imediato na organização do projeto.
“A gente fez a implementação com o pessoal de campo. Em um dia conseguimos colocar isso para rodar. E no mesmo dia já fizemos o cronograma, já começamos os preenchimentos, os diários de obra, etc.”, conta o especialista.
Com a digitalização das informações, a próxima etapa é utilizar a Inteligência Artificial para aprimorar os processos executivos.
“A primeira construção é a inserção dos dados. Depois vamos trabalhar o algoritmo para que ele permeie e traga a possibilidade de processos executivos”, comenta Toledo.
O futuro da gestão de obras
A previsibilidade gerada pelo uso de tecnologia é um dos grandes avanços que a digitalização pode trazer para o setor.
“Se você consegue entender quanto tempo o seu fornecedor trabalha, quanto tempo você tem de estoque e por quanto tempo você pode acompanhar o seu projeto, você começa a ficar mais previsível. E a previsibilidade com tecnologia dentro de uma obra é fundamental”, enfatiza o CEO da Obra Lean.
Para Toledo, a adoção de tecnologia na gestão de obras tem impactos diretos nos custos e na satisfação do cliente.
“Seja no ganho de custo indireto ou na entrega final, a satisfação do cliente também aumenta por não ter nenhum atraso. E acho que esse é o principal ponto.”
O caminho para a digitalização da construção civil ainda enfrenta desafios, mas, segundo Toledo, é uma jornada sem volta.
“A tecnologia para obra não tem caminho de volta, essa é a minha opinião”, observa ele.
Uma prova de que a tecnologia veio para ficar é que oito em cada dez empresas de construção civil já usam IA para melhorar a eficiência. Saiba mais em nosso artigo que apresenta essa informação!