Mesmo diante de um cenário de juros elevados e custos em alta, a construção civil segue com expectativa positiva para 2025. Segundo dados apresentados pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a principal preocupação do setor neste ano é a taxa básica de juros (Selic), que alcançou 14,75% (maio/2025), o maior patamar em quase duas décadas.

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Durante coletiva de imprensa realizada em 7 de maio, a CBIC destacou que os custos da construção voltaram a subir acima da inflação oficial do país, puxados principalmente por mão de obra, materiais e equipamentos. Ainda assim, a projeção de crescimento de 2,3% para o setor foi mantida, com base no impacto positivo da nova faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida.

“A taxa de juros é hoje o maior entrave da construção. Ela pressiona os custos e limita o acesso ao crédito, afetando diretamente a demanda por novos imóveis”, avaliou Ieda Vasconcelos, economista-chefe da CBIC. O presidente da entidade, Renato Correia, reforçou a necessidade de cautela: “Temos pressão de custos e de juros, com uma possível estagnação na renda das famílias. Precisamos ficar atentos às oportunidades de crédito.”

Crédito imobiliário sob pressão

A captação líquida da poupança, principal fonte de financiamento do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), foi negativa em R$ 34,6 bilhões no primeiro trimestre de 2025, superando a perda de todo o ano anterior. Desde 2021, a saída de recursos já soma mais de R$ 244 bilhões.

Apesar disso, programas públicos devem ajudar a manter o fôlego do setor. O FGTS prevê a aplicação de R$ 127 bilhões, enquanto a nova faixa do Minha Casa, Minha Vida deve injetar mais R$ 30 bilhões na cadeia da construção. O desafio maior, segundo a CBIC, está nos imóveis acima de R$ 500 mil, cuja concessão de crédito tende a ser mais seletiva.

Custos sobem acima da inflação

O custo com mão de obra subiu 9,96% nos últimos 12 meses encerrados em março de 2025, refletindo acordos coletivos e reajustes regionais. Já materiais e equipamentos tiveram alta acumulada de 6,09% no período. Ambos os índices superam o IPCA e apontam para um descompasso entre os custos da construção e a inflação oficial.

Esse cenário pode pressionar novos investimentos e afetar o ritmo de lançamentos, com impacto direto no mercado de trabalho e nos preços finais dos imóveis.

Emprego formal e salários seguem em alta

Apesar dos desafios, o setor abriu mais de 100 mil vagas formais no primeiro trimestre, alcançando um total de 2,958 milhões de trabalhadores com carteira assinada — um crescimento de 3% em relação ao mesmo período de 2024.

Outro destaque foi o salário médio de admissão na construção civil, que atingiu R$ 2.420,97 em março, o maior entre todos os setores da economia e superior à média nacional de R$ 2.225,17. “Isso é reflexo do aumento da complexidade das obras e da qualificação dos profissionais”, afirmou Renato Correia.

Produção de insumos e vendas no varejo crescem

Os reflexos positivos dos lançamentos imobiliários de 2024 — que avançaram 18,6% — seguem impulsionando a cadeia produtiva. No primeiro bimestre de 2025, a produção de insumos típicos da construção cresceu 4,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o varejo de materiais de construção teve alta de 6,7%.

As vendas de cimento também cresceram: foram 15,6 milhões de toneladas comercializadas no primeiro trimestre, um aumento de 5,9% frente a 2024, segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC) analisados pela CBIC.

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* Os dados integram o projeto “Conhecimento, Segurança e Saúde no Trabalho na Indústria da Construção”, realizado pela CBIC em parceria com o SESI.

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