Um projeto bem-sucedido em engenharia civil começa muito antes do canteiro de obras: ele nasce na integração precisa entre áreas como arquitetura, estruturas, instalações e fundações.
Cada projeto contribui para garantir funcionalidade, viabilidade construtiva, segurança e sustentabilidade da edificação.
Neste artigo, Nelis Evangelista Luiz, doutor em Engenharia Mecânica e com ampla experiência em Engenharia de Materiais, com ênfase em Metalurgia Física, apresenta os principais pontos que devem ser considerados em cada projeto para alcançar eficiência, economia e qualidade na execução da obra.
Acompanhe mais sobre o assunto nos próximos parágrafos!
1. Projeto arquitetônico: pontos a serem considerados para garantir funcionalidade e viabilidade técnica
Nelis Evangelista Luiz explica que, para garantir funcionalidade e viabilidade técnica, é essencial que o projeto arquitetônico esteja integrado ao estrutural, respeitando a modulação de pilares, vigas e lajes, além de evitar interferências entre os elementos.
“A racionalização construtiva também é importante, buscando a repetição de elementos, formas simples e o alinhamento entre pavimentos, o que contribui para a economia e eficiência na execução da obra”, ressalta.
Segundo Luiz, o dimensionamento adequado dos espaços deve levar em conta a altura livre mínima, áreas técnicas para instalações e a conformidade com normas de acessibilidade e segurança.
“A viabilidade de execução deve ser considerada desde a concepção, com atenção à logística de obra e à facilidade na montagem das estruturas de concreto. Além disso, o projeto deve prever soluções que aumentem a durabilidade da edificação e facilitem sua manutenção ao longo do tempo”, complementa.
A sustentabilidade, na opinião do entrevistado, também desempenha um papel relevante, com o aproveitamento da iluminação e ventilação naturais, a utilização da inércia térmica do concreto e o uso racional de materiais.
“É indispensável, ainda, a compatibilização do projeto arquitetônico com os demais projetos complementares, garantindo que todos os sistemas coexistam de forma eficiente e sem conflitos durante a construção”, aponta.
2. Projeto Estrutural: uso de novas tecnologias como o Building Information Modeling (BIM)
De acordo com Luiz, o BIM permite a modelagem tridimensional e a integração de todas as disciplinas do projeto, o que melhora a visualização, a precisão e a coordenação entre os elementos estruturais e os demais sistemas da edificação.
“No caso do concreto armado, o BIM facilita o detalhamento de armaduras, o posicionamento de pilares, vigas e lajes, além de permitir análises mais rápidas de interferências com instalações elétricas e hidráulicas”, observa.
Já nas estruturas pré-moldadas, ele explica que o uso do BIM é ainda mais estratégico, pois “possibilita a modelagem precisa de peças padronizadas, o controle de encaixes, junções e tolerâncias, além de auxiliar no planejamento logístico da fabricação, transporte e montagem das peças em obra”.
3. Projeto Hidrossanitário: cuidados para garantir desempenho e durabilidade
Entre os principais cuidados, o especialista destaca o correto dimensionamento das redes de água, esgoto e drenagem, levando em conta a demanda prevista, pressões, vazões e desníveis, de forma a evitar entupimentos, refluxos ou falta de abastecimento.
“É importante a setorização dos sistemas, que facilita a manutenção e o controle de perdas, especialmente em edificações com múltiplos pavimentos”, detalha.
Essa questão, segundo Luiz, envolve prever caixas de inspeção e limpeza em locais acessíveis, além de garantir ventilação adequada das tubulações de esgoto, para evitar mau cheiro e pressão excessiva no sistema.
Ele ainda destaca a importância de escolher materiais resistentes à corrosão e adequados ao tipo de fluido transportado para aumentar a durabilidade, além, é claro, da compatibilização com os demais projetos para evitar interferências e retrabalhos.
4. Projeto Elétrico: desafios em compatibilizar com os demais sistemas da obra
Um dos principais desafios, na opinião de Nelis Evangelista Luiz, é integrar os eletrodutos e caixas de passagem à estrutura de concreto.
“Este trabalho exige planejamento preciso, já que após a concretagem esses elementos não podem ser alterados com facilidade. Isso demanda total alinhamento entre os projetos elétrico, arquitetônico e estrutural ainda na fase de projeto”, opina.
Outro desafio, conforme Luiz, é a definição correta dos pontos de energia, iluminação e tomadas, considerando a disposição dos ambientes e a interferência com pilares, vigas e lajes.
“A coexistência com os projetos hidráulico, de dados, automação, climatização e segurança exige organização e definição de rotas técnicas nos shafts e forros, com atenção a interferências físicas e limitações de espaço”, afirma.
5. Projeto de Fundação e Geotécnico: escolha de sistemas construtivos
Luiz lembra que os projetos de fundação estabelecem a base que suportará toda a carga da edificação.
“A partir da análise do solo e das cargas previstas, o projeto de fundação determina se serão utilizadas fundações superficiais (como sapatas) ou profundas (como estacas ou tubulões), o que impacta diretamente na concepção estrutural da obra”, explica.
O entrevistado salienta que, se o solo for resistente e permitir fundações superficiais, é possível adotar sistemas construtivos mais simples e econômicos.
Por outro lado, em solos fracos ou com alta compressibilidade, pode ser necessário usar fundações profundas, o que pode exigir estruturas mais robustas, como pilares mais espaçados ou reforçados, para distribuir adequadamente as cargas.
“Fundações bem projetadas evitam recalques diferenciais (afundamentos desiguais), que podem causar trincas e deformações na estrutura de concreto”, descreve.
“Assim, o projeto de fundação não apenas garante a estabilidade da obra, mas também condiciona decisões estruturais e construtivas, impactando na segurança, durabilidade e eficiência da edificação”.
6. Projeto de Prevenção e Combate a Incêndios (PPCI): integração com demais projetos
Luiz explica que a integração deve ocorrer desde as fases iniciais do projeto, principalmente com os projetos arquitetônico, estrutural, elétrico e hidrossanitário, para que todos os sistemas funcionem de forma coordenada e sem interferências.
“No projeto arquitetônico, o PPCI precisa estar alinhado com a definição das rotas de fuga, escadas de emergência, saídas acessíveis, compartimentações e acessos para o Corpo de Bombeiros”, lembra.
Já com o projeto estrutural, é preciso, de acordo com o especialista, garantir que a estrutura suporte adequadamente o desempenho ao fogo, com previsão de resistência ao calor e proteção de elementos críticos, como vigas e pilares em áreas de risco.
“Com o projeto elétrico, o PPCI deve se articular quanto à instalação de sistemas de alarme, iluminação de emergência, sinalização luminosa e acionadores manuais, garantindo alimentação adequada e funcionamento ininterrupto em caso de sinistro”.
No projeto hidrossanitário, Luiz comenta que o PPCI depende da correta integração de hidrantes, rede de sprinklers (quando exigida), reservatórios de incêndio e bombas de pressurização, respeitando o volume mínimo exigido e as pressões necessárias para combate ao fogo.
“O PPCI deve ser desenvolvido de forma interdisciplinar, com compatibilização contínua e revisão conjunta com os demais projetistas, para evitar conflitos, garantir eficiência dos sistemas de segurança contra incêndio e assegurar que a edificação atenda a todas as exigências legais e de desempenho”, afirma.
7. Projeto de Compatibilização: ferramentas ou metodologias eficazes
Conforme Luiz, atualmente, as ferramentas e metodologias mais eficazes para garantir uma boa compatibilização de projetos e evitar retrabalho em obras são aquelas que permitem integração multidisciplinar, detecção de conflitos antecipada e comunicação contínua entre os profissionais envolvidos.
Ele destaca o uso da modelagem BIM, de softwares de coordenação, da metodologia de coordenação por etapas, das plataformas colaborativas e CDE (Commom Data Environment), de checklists técnicos e de reuniões de compatibilização.
8. Projeto de Sustentabilidade: incorporação aos projetos de engenharia civil
Os princípios de sustentabilidade, conforme o especialista, têm sido incorporados nos projetos de engenharia civil por meio de estratégias que buscam reduzir o impacto ambiental, otimizar o uso de recursos naturais e melhorar a eficiência energética das edificações.
“A sustentabilidade é aplicada por meio de práticas como o aproveitamento da luz e ventilação naturais, uso de materiais recicláveis ou de baixo impacto ambiental e reaproveitamento de água da chuva”, ressalta.
“Também por meio da instalação de sistemas de energia solar, controle de resíduos na obra e adoção de tecnologias que aumentem a durabilidade e reduzam a manutenção da edificação”, conclui.
A integração entre os diferentes projetos é o que garante que a engenharia civil alcance seu verdadeiro propósito: construir com qualidade, segurança e inteligência.