Os elementos de concreto pré-fabricado são de extrema utilidade para variadas construções, trazendo mais agilidade e otimizando processos. No entanto, por serem geralmente peças de grande dimensão, sua logística pode se converter em um desafio, em especial em grandes cidades e regiões urbanas de alto fluxo.
Por isso, ter um planejamento logístico adequado pode ser um diferencial na hora de transportar e receber os pré-fabricados em seu canteiro de obras, garantindo a segurança dos materiais e o bom andamento do projeto conforme planejado.
Para compreendermos como fazer este transporte de forma eficaz, conversamos com Íria Doniak, presidente executiva da Abcic – Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto. Veja a entrevista completa a seguir!
O impacto da logística no sucesso de projetos de construções com pré-fabricados
“A logística é uma etapa muito importante quando se trata da construção com elementos pré-fabricados de concreto. Por isso, é fundamental a realização do planejamento de montagem, que visa atender diversos requisitos como a segurança, cronograma, custos e integridade da estrutura”, diz Íria.
Ainda em suas palavras, “o transporte dos elementos é realizado de forma a cumprir todos os parâmetros determinados no planejamento de montagem, a fim de que as estruturas sejam transportadas conforme serão montadas no canteiro.”
Desafios logísticos na entrega e montagem de estruturas pré-fabricadas em grandes obra
Ressaltando que existem vários desafios quando se faz o transporte das estruturas pré-fabricadas de concreto, Íria dá mais informações sobre isso. Em sua visão:
“Podemos destacar a questão das linhas de transmissão elétrica, cuja ação é verificar com a concessionária local de energia, quais as recomendações com relação a distâncias mínimas de trabalho, o tamanho das ruas para a chegada até o canteiro, o que pode limitar, por exemplo, o tamanho das carretas.”
Ela complementa, lembrando também que “há ainda situações em que os veículos pesados podem transitar em horários delimitados.”
Estratégias para otimizar a logística e reduzir o tempo de execução de obras
“Em primeiro lugar, é feita uma visita técnica para, no caso do transporte, verificar eventuais zonas de restrição ao trânsito de veículos pesados, legislações existentes, como horários de silêncio, limitações naturais ou instalações fixas e possíveis caminhos da fábrica até o canteiro, condições de acesso para entrar no canteiro e possíveis caminhos da fábrica até o canteiro”, pontua a especialista.
A presidente executiva da Abcic continua: “É importante sempre observar as normas técnicas ou legislações vigentes nessa área. As cargas máximas por eixo obedecem a lei da balança do CONTRAN, variando conforme o tipo de veículo, quantidade e distância entre os eixos e quantidade e tipos de pneus por eixos. No caso de a carga ser amarrada com cintas, há a norma ABNT NBR 15883-1:2015.”
Continuando, ela também afirma que: “Na fábrica, as peças pré-fabricadas são agrupadas de maneira a otimizar o carregamento com melhor ocupação das carretas, observando a segurança do condutor e da carga. Esse agrupamento leva em conta questões de estabilidade da carga, correta amarração e fixação do carregamento, a fim de evitar movimentação da carga no deslocamento.”
Outro aspecto relatado por Íria está na correta catalogação da carga, permitindo assim um planejamento adequado de como o transporte dos materiais pré-fabricados será feito até o local da construção.
“As peças pré-fabricadas de concreto são transportadas por carreta comum, extensiva ou especial, de acordo com as características dos elementos que foram produzidos. É importante identificar as peças que irão compor cada carga, com nome, tipologia, dimensões e peso. Deve-se sempre verificar o posicionamento e a fixação da carga para prevenir acidentes durante o transporte.”
Ela aborda um material produzido pela entidade que preside como um bom guia para quem quer obter mais instruções e detalhes técnicos sobre essa logística.
“No Manual de Montagem das Estruturas Pré-Moldadas de Concreto da Abcic há algumas recomendações tanto para o responsável pelo carregamento como para os motoristas, incluindo a verificação de cabos de aço, correntes ou cintas, se são suficientes, estejam em boas condições e que as resistências deles sejam conhecidas; a verificação de que a quantidade de amarras e fixações é suficiente; a verificação da carga sempre que houver uma manobra ou freada bruscas; o conhecimento de que a carga pode se deslocar durante a viagem e as amarras podem ficar bambas e necessitarem de reaperto, sendo que o reaperto é obrigatório a cada 50 quilômetros ou a cada hora de viagem, entre outros”, reforça.
Logística sustentável na redução da pegada de carbono com pré-fabricados
Na opinião de Íria Doniak, “as práticas de logística sustentáveis podem contribuir para a redução da pegada de carbono no setor ao otimizar o transporte dos elementos pré-fabricados de concreto.”
Conforme ela nos esclarece, “isso ocorre durante o planejamento da montagem, no qual se prevê o melhor tipo de veículo, as rotas utilizadas e os horários em que serão transportadas as estruturas.”
“Outro aspecto importante é que no caso de elementos pré-fabricados de concreto o impacto no entorno da obra considerando poluição (resíduos, sonora, etc.) é muito menor do que os processos convencionais, além de evitar resíduos de concreto fresco ao longo do trajeto até a obra, uma vez que as peças chegam prontas ao canteiro de obras”, completa a presidente executiva da Abcic.
Exemplos de como a logística pode fazer a diferença em uma construção pré-fabricada
Por fim, pedimos à Íria que nos indicasse alguns exemplos de processos logísticos bem feitos no transporte de pré-fabricados. Ela citou alguns casos com enriquecedoras informações:
“A montagem das estrutura pré-fabricadas de um viaduto construído no quilômetro 91 da Rodovia Anhanguera, em Campinas, interior de São Paulo enfrentou como desafios o grande fluxo de veículos, com predomínio do tráfego de caminhões, algumas vias marginais, redes de gás, de fibra ótica, drenagem e a linha de transmissão de energia de alta tensão que atende a rede industrial de Campina e do Aeroporto de Viracopos, que poderia ficar desligada somente por seis horas, no período noturno”, comenta.
“Diante desse cenário, foi decidido que vigas e todas as peças menores fossem pré-fabricadas e transportadas para a obra apenas no dia da montagem, uma vez que não havia espaço para estacionar as carretas a não ser com o fechamento das vias marginais”, relata a especialista.
Ela segue, destacando que, para isso: “Foi utilizado um guindaste de esteiras, com lança telescópica, que no momento mais crítico chegou a operar a menos de 3 metros da rede de alta tensão. Dois outros guindastes operaram simultaneamente em cada uma das marginais da rodovia para, em duas madrugadas seguidas, finalizar o trabalho mais pesado.”
Ainda segundo ela: “Para a montagem das vigas longarinas sobre as vias expressas, com 40,15m de comprimento e 78t de peso, o trânsito precisou ser modificado, com fechamento das vias expressas e deslocamento dos veículos para a via marginal.”
Íria relembra que as vigas de 78 toneladas foram transportadas ao local de montagem com o uso de três conjuntos de transportadores de linha de eixo que deslocavam até a via expressa cruzando para a via marginal após a paralisação da via pela Polícia Rodoviária. Como ela relata, “após o cruzamento da via, as carretas tinham de ir até o local da montagem de ré, numa operação cuidadosa e lenta.”
Por fim, Íria diz que é importante considerar que, “no caso de vias em operação devido ao planejamento e rapidez de execução, a forma mais segura, inclusive adotada por autoridades de rodovias norte-americanas, é a pré-fabricação.”
Ela também ressalta a importância dos cuidados “com a integridade das pessoas envolvidas na operação e dos usuários da rodovia, e o menor impacto ambiental no entorno com menos resíduos e ruído, além do tempo significativamente menor de execução com menos colaboradores envolvidos no processo.”
“Ainda no aspecto sustentabilidade, as concessionárias de rodovias têm adotado a pré-fabricação em concreto como forma de reduzir custos de manutenção”, finaliza a entrevistada.
Se você quer saber mais sobre este assunto, veja agora o conteúdo que produzimos sobre pré-fabricados de concreto: a evolução no jeito de construir!