O melhor clima para construir no Brasil é fora das chuvas. Ou seja, varia em cada região. No entanto, dados históricos da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) indicam que janeiro e fevereiro são os piores meses para a venda de cimento para construção, mesmo sem crises econômicas, políticas ou sanitárias.
E com a pandemia do novo coronavírus, como ficou o mercado? Há clima para construir? Falaremos mais sobre isso nneste artigo, que conta com a participação de Sandro Melo Chagas, professor dos cursos de Engenharia Civil e Segurança do Trabalho da Unicesumar EAD. Acompanhe!
Clima para construir: como era antes e como ficou depois da pandemia
A tendência é de que a melhor época para construir é logo após o período de chuvas na região norte ou o fim do verão em regiões de clima temperado. Cada caso precisa ser avaliado a partir de dados meteorológicos, mas existe uma forte correlação entre clima e construção que impacta diretamente nas vendas de cimento.
De acordo com o professor Chagas, as chuvas afetam as etapas de produção, comercialização e construção: “A produção é atingida pela dificuldade de extrair a matéria-prima que compõe o cimento, basicamente argila e calcário; e a comercialização e a construção são afetadas devido às atividades externas e em contato com o solo sofrerem paralisação”, explica.
Ele também lembra que o cenário econômico é um fator importante quando falamos em clima para construir. No entanto, não é uma exclusividade do setor de construção civil, pois várias áreas sofrem com uma baixa sazonalidade entre o final do ano e o carnaval.
“O ritmo de investimentos se reduz de uma forma geral no Brasil. A construção civil apresenta esse mesmo movimento. Nos outros meses não há um destaque especial, salvo as obras públicas, onde muitas vezes temos uma aceleração no ritmo de trabalho no fim do ano”, analisa Chagas.
Um levantamento da ABCP realizado antes da pandemia já havia demonstrado uma queda no setor de construção civil em janeiro e fevereiro de 2020, em comparação ao mesmo período de 2019. A razão para isso, à época, foi a grande quantidade de chuvas.
A expectativa, em contrapartida, era de que essa flutuação fosse compensada com a retomada da economia brasileira. A perspectiva de crescimento para o setor de construção civil era de 3%, com geração de 150 mil postos de trabalho, segundo levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil (CBIC).
Entretanto, todas essas projeções passam por revisões. O setor de cimentos esperava crescer 3,5%, de acordo com dados do SNIC – Sindicato Nacional da Indústria do Cimento, resultado este que não se confirmou.
Com a pandemia e a declaração do presidente do Banco Central (Bacen) de que o país deverá apresentar retração na economia este ano, o contexto mudou drasticamente. De fato, até o momento, as vendas de cimento caíram 6,9% no Brasil em relação ao mesmo período de 2019, também de acordo com o SNIC.
Por outro lado, o setor de construção civil projeta crescimento de 15% ainda em 2020, segundo levantamento da CBIC. A razão disso são as entradas em vigor de políticas habitacionais e de infraestrutura, especialmente o programa Minha Casa, Minha Vida, que deve trazer novo fôlego e clima para construir.
Clima para construir: como lidar com as oscilações e inovar no setor
O futuro do mercado cimenteiro ainda é uma incógnita. Os impactos do isolamento social sobre o setor ainda são absorvidos e avaliados, mas o SNIC aponta uma estimativa de queda de vendas em 30% de março até maio.
“A pandemia afetou diretamente o comércio em um primeiro momento, pois os revendedores de materiais foram fechados, e o cimento, por característica de forma de pagamento e de estoque, normalmente é armazenado em pequenas quantidades. Após o retorno das atividades gradativamente, tanto as obras quanto as lojas voltaram a trabalhar com restrições”, diz Chagas.
“Um consenso entre os empresários do setor é que em qualquer crise econômica de maior porte a construção civil é uma das primeiras a sentir o impacto e uma das últimas a se normalizar”, completa o especialista.
Conforme a CBIC, o setor vinha sofrendo uma recessão de cinco anos quando retomou seu crescimento, em 2019. Certamente, essa reação se deveu ao uso de tecnologias e à busca por inovação.
Entre as principais tendências estão o uso de Inteligência Artificial em smart cities, drones para inspeções e manutenções e braços mecânicos para tarefas repetitivas, como posicionamento de tijolos.
Outra grande tendência é a das construções verdes. Nesse caso, há vários selos de sustentabilidade em eficiência energética, hídrica e responsabilidade social para o prédio que desejar se qualificar.
A McKinsey & Company demonstrou que o setor de construção civil ainda tem baixa digitalização. Isso evidencia o grande potencial de melhoria e reorganização dos diferentes modelos de negócio ao longo da cadeia produtiva.
Portanto, um dos caminhos para a retomada e o crescimento — tanto da construção civil quanto da indústria cimenteira — é a transformação digital. Todas essas possibilidades melhoram o clima para construir no país.
Quanto ao clima para construir em termos meteorológicos, especificamente, é essencial que as construtoras invistam em mecanismos de planejamento e controle. Mediante um cronograma preciso, é possível comprar, armazenar e usar o cimento de maneira a potencializar o andamento das obras.
Segundo Chagas: “Podemos separar o cimento em dois grandes grupos de consumo: o usado para o concreto, nas estruturas, e o utilizado em alvenaria, pisos e rebocos. No uso para a produção do concreto, o clima, principalmente no verão, onde temos uma alta intensidade de chuvas, afeta um pouco o andamento das obras, especialmente em locais de difícil acesso, como sobsolos ou fundações”, explica.
Ele complementa: “Já o cimento usado na alvenaria e no reboco praticamente não sofre influência, pois é possível executar tarefas não afetadas pelas intempéries e voltar para as atividades externas e junto ao solo quando a chuva cessar”.
O professor também destaca estratégias que podem ser adotadas por fabricantes, comerciantes e construtoras para superar os períodos de baixa:
“Intensificar a exportação do produto a preços mais competitivos; optar por estruturas pré-moldadas em concreto, que podem ser fabricadas em barracões fechados e, após a cura, transportadas e utilizadas sem serem afetadas, mesmo em dias chuvosos; e até construir mesclando o concreto com as estruturas de aço, menos suscetíveis às variações climáticas durante a execução”.
Concluindo, o clima para construir impacta diretamente na comercialização de cimento. Se por um lado as inúmeras crises pelas quais o setor de construção civil passou trouxeram problemas, por outro evidenciaram várias oportunidades, em especial para a transformação digital e melhoria de processos.
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