Imagine apontar a câmera do celular para uma laje de concreto e, em segundos, visualizar onde cada parede será erguida, por onde passam as tubulações e até prever possíveis erros — tudo isso sem abrir um projeto no papel ou acessar arquivos complexos no computador. Parece ficção científica? Pois essa já é a realidade dos canteiros de obra mais inovadores do Brasil.
A Realidade Aumentada (RA) está deixando de ser um recurso futurista para se tornar uma ferramenta acessível e transformadora na construção civil. Felipe Toledo Lima, fundador e CEO da Inbuilt, é um dos principais nomes dessa revolução tecnológica no país. Em entrevista exclusiva, ele explica como concreto e RA estão caminhando lado a lado para garantir mais produtividade, precisão e economia nos projetos, além de destacar os desafios e o futuro dessa tecnologia no setor.
Realidade Aumentada aplicada na construção civil
Toledo inicia a conversa explicando exatamente o conceito de Realidade Aumentada (RA). Segundo o especialista, a RA consiste na inserção de elementos visuais no mundo real a partir de um ponto de referência.
“Podemos ter vários objetivos. Para a construção vejo duas grandes utilidades: visualizar o que será executado, como ferramenta de orientação; e para ver o que foi executado, como ferramenta de conferência”, observa.
Conforme Felipe Toledo, as locações de fundação são as mais procuradas e importantes no início da obra.
“Como as estruturas de concreto possuem uma precisão grande de locação, elas podem ser o ponto de referência para que, usando-as como ponto inicial, criar interações que mostre como o restante da obra se comporta em função dos pilares, fundações e vigas”, exemplifica.
Realidade Aumentada e seus principais benefícios
Na opinião do entrevistado, a Realidade Aumentada tem uma grande vantagem: ser democrática.
“Com praticamente qualquer celular, uma pessoa pode ter acesso às informações em Realidade Aumentada, em contraponto com a Realidade Virtual que pede o uso de um equipamento específico e caro”, compara.
Ele explica que é possível usar a Realidade Aumentada em um canteiro de obras para demonstrar o que deve ser feito. E o melhor: o próprio executor pode fazer essa conferência com o aparelho que possui.
“Nós estamos falando de redução na quantidade de possíveis erros, ou seja, menos retrabalho”, celebra.
Caso o erro persista, Toledo acrescenta que um vistoriador pode facilmente visualizá-lo e impedir que seja entregue ao cliente desta forma.
Ele lembra, inclusive, que revisar durante o período de obra é muito mais barato e rápido do que a detecção feita pós-obra.
Desafios para a adoção da RA na cadeia de construção no Brasil
A utilização da Realidade Aumentada ainda enfrenta alguns desafios na cadeia de construção brasileira. Questionado sobre o assunto, Toledo elenca os principais entraves:
“Entender que a Realidade Aumentada não é algo a mais. É uma tecnologia que está cada vez mais precisa e disponível para ser utilizada como uma ferramenta básica”, inicia.
“É preciso também compreender que a RA não é apenas uma tecnologia que facilita a obra, mas que leva entendimento, tecnologia e que adiciona valor ao produto entregue para o usuário ou morador”, acrescenta.
Outra problemática importante diz respeito à relação de construção versus entrega.
“Como o Brasil ainda está atrasado na industrialização dos processos construtivos, vemos muitas obras batendo cabeça em relação à execução que não acompanha os projetos”, explica Toledo.
“Isso pode ser detectado pela RA, mas dificulta muito a aplicação caso a inserção do sistema seja feita de última hora para o morador, pois os erros são detectados mas não podem ser reparados na obra.
A RA integrada a outras tecnologias, como BIM e gêmeos digitais
A RA, na opinião de Felipe Toledo, é uma grande parceira dos gêmeos digitais.
“Os gêmeos digitais são uma ferramenta incrível disponível no mercado. Porém, como um síndico de prédio irá abrir um arquivo de 30 GB para conferir alguma execução?”, questiona o especialista.
Com a RA isso é possível. E a Inbuilt trabalha para que esta experiência seja ainda melhor e mais fácil.
“A Inbuilt fragmenta experiências de RA ao longo da construção, geradas a partir do gêmeo digital, tornando possível o uso por qualquer pessoa, mesmo sem o computador Hi-end ou perfil técnico”, afirma.
“Os projetos em BIM se beneficiam disso há alguns anos, pois a conexão BIM e RA é direta, trazendo agilidade nas atualizações”, conclui.
Tags