As fundações são o ponto de partida para qualquer edificação, responsáveis por transmitir as cargas da estrutura ao solo de forma segura, e algumas inovações em materiais e métodos construtivos estão transformando a resistência, durabilidade e confiabilidade das fundações em concreto.
Algumas dessas novas tecnologias e soluções foram apresentadas no painel “O pilar da segurança: a evolução tecnológica das fundações em concreto”, promovido pela Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem) durante o Concrete Show 2025.
Em um debate mediado pelo CEO da Elevatta Pré-Moldados de Concreto, Wallison Rabelo, foram discutidos os tipos de fundação mais utilizados no Brasil atualmente: as sapatas, adequadas para terrenos com boa capacidade de carga; as estacas, ideais para obras em solos frágeis ou prédios altos; e os barretes, recomendados para empreendimentos de grande porte que exigem mais resistência.
Segundo Luiz Aurélio Silva, conselheiro da Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (Abece), a escolha do melhor tipo para cada projeto é um dos aspectos mais críticos para o desempenho global da construção.
“Os softwares e equipamentos de fundação avançaram muito nos últimos 30 anos. Na verdade, alguns dos equipamentos mais modernos que utilizamos hoje foram lançados apenas dois anos atrás. Esse avanço tecnológico permite a incorporação em terrenos que eram improváveis anos atrás, evitando patologias estruturais. Mas quando falamos em soluções avançadas e assertividade em análise estrutural, é fundamental que o engenheiro tenha bom conhecimento em modelagem”, explicou o conselheiro da Abece.
Governança é segurança
Quem também participou do debate no Congresso Construindo Conhecimento foi o engenheiro Rodrigo Pasqual, da Protec Engenharia, que trouxe dados sobre os tipos de estacas mais utilizados no Brasil. Ele ressaltou que, apesar da versatilidade da estaca hélice contínua, hoje predominante no mercado, é preciso atenção para situações específicas em que esse tipo de fundação não entrega o melhor desempenho.
“As nossas pesquisas mostram que o tipo de estaca mais usada no Brasil nos últimos 10 anos foi a hélice contínua, com 62% de preferência. É um modelo flexível para vários tipos de terreno, mas que demanda um longo deslocamento de carga. Em terrenos com uma camada mole seguida de uma camada rígida, a hélice pode não trabalhar tão bem”, explicou Pasqual.
Outro ponto de vista foi trazido por Aline Guasti, sócia diretora da MConsult Engenharia, que relacionou a questão da segurança das fundações diretamente ao conceito de governança dentro do ESG. Para ela, a decisão sobre o tipo de fundação vai muito além da técnica e se reflete na responsabilidade do negócio e na relação com a sociedade.
“Quando falamos em segurança aplicada a fundações, entendemos que governança é segurança. Se aplicarmos o ESG desde o desenvolvimento do produto, essa segurança nasce na tomada de decisão da viabilidade do negócio, seja para uma obra pública ou privada. Isso traz para o dono do negócio e para a sociedade um resguardo. Temos a verificação de segurança dentro do item 9 da norma, mas nem todos os tipos de fundação são verificados”, alertou Aline.
Companheiro dela como sócio diretor da MConsult Engenharia, Marcio Fernandes Teixeira, reforçou que a metodologia de ensaio precisa ser tratada como parte fundamental do projeto estrutural. Segundo ele, a falta de detalhamento adequado ainda compromete a execução e pode gerar riscos às construções. “Realizar o que foi projetado na metodologia de ensaio é garantir a segurança da edificação. O que falta é que os projetistas determinem o plano de ensaios devidamente no projeto, porque normalmente isso vem apenas como nota de rodapé, sem detalhamento. Essa prática precisa mudar se quisermos dar mais confiabilidade às fundações”, concluiu Teixeira.