Em um cenário cada vez mais pautado pela sustentabilidade, as certificações ambientais têm se tornado fundamentais para orientar e validar práticas responsáveis na construção civil.
Selos como LEED, EDGE, AQUA-HQE e Lixo Zero representam mais do que um reconhecimento formal: são indicadores de eficiência, respeito ao meio ambiente e compromisso com o futuro.
Com diferentes metodologias e focos de atuação, essas certificações vêm ganhando espaço em empreendimentos comerciais, logísticos e institucionais, tornando-se também um diferencial competitivo para investidores e incorporadoras.
Neste artigo, Susi Uhren, sócia-proprietária da Singular Ambiental; e Marcelo Menezes, CEO da Capital Concreto explicam como cada uma dessas certificações atuam, quais os impactos e por que adotá-las é cada vez mais uma exigência — e não apenas uma opção.
Acompanhe mais sobre o tema a seguir!
O panorama atual das certificações LEED, EDGE, AQUA-HQE e outras
Susi Uhren explica que a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é, atualmente, a mais conhecida e utilizada no Brasil.
“Ela reconhece práticas de construção verde e operações sustentáveis em edifícios, sendo uma ferramenta essencial para impulsionar a construção sustentável”, destaca a especialista, informando que o Brasil ocupa uma posição de destaque no número de edificações em processo de certificação.
Já a certificação EDGE, criada pela International Finance Corporation, do grupo Banco Mundial, foi desenvolvida especialmente para países em desenvolvimento. O diferencial está na simplicidade, rapidez e baixo custo para obtenção, o que a torna bastante acessível.
Outra certificação que vem recebendo bastante destaque é a AQUA-HQE, desenvolvida na França e adaptada ao Brasil pela Fundação Vanzolini. Ela avalia o desempenho ambiental em todas as fases do empreendimento: concepção, execução, uso e manutenção.
Susi Uhren destaca, ainda, o selo “Lixo Zero”, que representa a destinação de 0% dos resíduos para aterros sanitários.
“No país, já existe uma certificação para o Lixo Zero, fundamental para que os empreendimentos sejam reconhecidos pelos seus esforços em prol da sustentabilidade e da gestão ambiental eficiente”, comenta.
Crescimento nos setores comercial, logístico e institucional
Na opinião da especialista, é essencial que os empreendimentos que almejam a sustentabilidade ambiental e desejam conquistar certificações voltadas ao meio ambiente escolham parceiros que compartilhem dos mesmos valores.
“Para isso, é imprescindível que os condomínios desenvolvam sistemas de verificação e conformidade legal antes de contratar qualquer serviço ou fornecedor”, observa.
“Quando o assunto é gestão de resíduos, é importante lembrar que o gerador é responsável por todo o ciclo de vida dos resíduos produzidos. Mesmo que o material seja recolhido por uma transportadora, a responsabilidade permanece com o condomínio até que os resíduos tenham a destinação final adequada”, exemplifica.
Conforme Susi, as empresas e fornecedores estão cada vez mais se mobilizando para atender às exigências ambientais. Por isso, toda a cadeia — parceiros comerciais, logísticos ou institucionais — deve estar alinhada às metas ambientais do empreendimento.
“Cumprir as licenças e obrigações legais é o mínimo esperado, entretanto, é recomendável que os parceiros sigam os requisitos da norma NBR ISO 14001:2015 e, sempre que possível, possuam certificações ambientais que reforcem seu compromisso com a sustentabilidade”, orienta.
Os benefícios para investidores e incorporadoras
Para Marcelo Menezes, no atual cenário de mercado, a adoção de certificações ambientais em empreendimentos não é apenas uma boa prática, mas um diferencial competitivo crucial para investidores e incorporadoras.
“Do ponto de vista de negócios, projetos certificados garantem uma redução significativa nos custos operacionais a longo prazo, otimizando o consumo de recursos como água e energia”, observa.
“Isso se traduz em um benefício direto para os futuros ocupantes, impactando positivamente a valorização do imóvel”, complementa.
Segundo o entrevistado, o mercado financeiro está cada vez mais atento, oferecendo linhas de financiamento verdes com condições preferenciais, o que facilita o capital para esses empreendimentos.
“Um imóvel com selo verde não só se destaca, mas pode alcançar uma valorização entre 5% e 20% acima da média, atraindo um público de alto poder aquisitivo e com consciência ambiental”, ilustra.
Para incorporadoras, esta é uma estratégia poderosa de diferenciação de mercado e um vetor para um marketing mais assertivo, que ressoa com os valores atuais.
“Também abre portas para investidores institucionais alinhados aos critérios ESG. E para os investidores, significa maior previsibilidade de receita, menor vacância e uma blindagem contra riscos regulatórios e de imagem”, finaliza.
A consolidação das certificações ambientais no Brasil reflete uma transformação profunda no setor da construção civil — um caminho sem volta rumo a edificações mais eficientes, responsáveis e alinhadas com os desafios do presente e do futuro.
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