As certificações ambientais vêm se consolidando como um dos principais motores de transformação da construção civil.

Selos como LEED, EDGE e WELL estabelecem padrões internacionais que garantem eficiência, bem-estar e responsabilidade socioambiental, reforçando a importância da construção certificada.

Mais do que atestar qualidade técnica, essas certificações impulsionam a valorização imobiliária, tornando os empreendimentos mais atrativos para investidores, empresas e famílias que buscam diferenciais de sustentabilidade e inovação.

Para aprofundar esse debate e entender os impactos reais dessas práticas no mercado brasileiro, convidamos você a conferir entrevista com Olivia Argentini, diretora da Marco Casamonti / Archea Associati no Brasil, especialista no tema.

Acompanhe e veja como essas certificações podem ajudar suas obras e projetos!

Certificações ambientais: o que são e como funcionam

As certificações ambientais, segundo Olivia Argentini, são sistemas de avaliação que analisam o desempenho das edificações em termos de sustentabilidade, abrangendo diferentes fases do processo de projeto.

“Elas estabelecem critérios técnicos que permitem mensurar aspectos como eficiência energética, uso racional de recursos naturais, qualidade do ar interno, gestão de resíduos e impacto sobre a comunidade”, cita.

No Brasil destacam-se as certificações LEED, AQUA-HQE e o Selo Casa Azul da Caixa Econômica Federal e, no âmbito internacional, também o BREEAM e o WELL, este último tratando especificamente de saúde e bem-estar.

“Apesar das diferentes abordagens, todas as certificações têm em comum o fato de fornecerem parâmetros objetivos que orientam o mercado para práticas construtivas mais responsáveis”, explica a especialista.

Conforme Argentini, globalmente, o LEED se consolidou como referência, com mais de 197 mil projetos em 186 países e quase 30 bilhões de pés quadrados de área certificados.

“A avaliação ocorre por meio de auditorias independentes, realizadas por entidades acreditadas, que verificam se o edifício atende a requisitos pré-estabelecidos em cada categoria de análise”, conta.

Construção verde_ a expansão das certificações ambientais no Brasil

Segundo ela, a pontuação obtida define o nível de certificação. Prata, Ouro ou Platina no caso do LEED, por exemplo.

“Esse processo confere transparência e credibilidade, evitando que a sustentabilidade seja apenas um discurso de marketing e assegurando que cada projeto de fato incorpore soluções técnicas com impactos positivos para as pessoas e o meio ambiente”, observa.

Além disso, a evolução do sistema trouxe inovações importantes, na visão da entrevistada, como critérios mais robustos de descarbonização, sendo que metade de seus créditos agora está diretamente ligada à redução de emissões e ao alinhamento com metas globais até 2050.

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O impacto das certificações ambientais para a construção civil

Na opinião da entrevistada, o impacto das certificações ambientais é significativo, “porque as certificações ambientais transformam a lógica do setor, estimulando inovação tecnológica e incentivando práticas de gestão mais eficientes”. 

Incorporadoras, construtoras e arquitetos, segundo Olivia, passam a trabalhar de forma integrada para reduzir desperdícios, otimizar materiais e priorizar energias limpas. “Isso cria um círculo virtuoso, em que a construção civil deixa de ser apenas uma grande consumidora de recursos para se tornar protagonista na agenda climática e de desenvolvimento sustentável”, aponta.

“A certificação LEED, por exemplo, já demonstrou impacto direto na redução global de emissões de carbono, evidenciando como a construção sustentável contribui para as metas internacionais”, acrescenta.

Além disso, as certificações, conforme a convidada, ajudam a elevar o nível de exigência do mercado.

“Profissionais precisam estar atualizados, fornecedores desenvolvem novos produtos com melhor desempenho ambiental e o poder público se vê pressionado a alinhar regulamentações a padrões mais avançados”, afirma.

Esse movimento tende a ampliar a competitividade das empresas que investem em sustentabilidade, pois cria uma diferenciação no mercado e gera uma mudança cultural que fortalece todo o ecossistema da construção.

“No Brasil, esse impacto já é notável: o país ocupa a 5ª posição no ranking mundial de certificações LEED, com cerca de 70 milhões de m² em 350 cidades, mostrando que o setor está preparado para contribuir em escala global”, comemora.

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Entendendo o processo para a obtenção das certificações

O processo para obtenção das certificações ambientais inicia-se já na concepção do projeto, quando são definidas estratégias de sustentabilidade que orientarão desde a escolha do terreno até a operação do edifício. 

Olivia Argentini explica: “É nesse momento que se decide, por exemplo, a implantação de sistemas de eficiência energética, reaproveitamento de água, seleção de materiais de baixo impacto ambiental e soluções para mobilidade sustentável”.

Esse planejamento inicial, segundo ela, é fundamental porque as certificações analisam o ciclo completo da obra, não apenas o produto final.

“Hoje, com a chegada do LEED v5, esse processo se tornou ainda mais estratégico, pois inclui a necessidade de elaborar roadmaps de descarbonização que projetam desempenho operacional até 2050”, ressalta.

Após a fase de projeto, a obra passa por monitoramento e auditorias em campo, com verificação de práticas como gestão de resíduos, qualidade da execução e cumprimento das diretrizes estabelecidas.

Quando o edifício é concluído, Argentini conta que ele é submetido a uma avaliação final, que resulta na certificação em determinado nível. “É um processo que exige disciplina, integração entre todos os agentes envolvidos e acompanhamento técnico constante, mas que, em contrapartida, agrega grande valor ao empreendimento”, diz.

Argentini exemplifica que, no caso do Brasil, protocolos como o Selo Casa e Condomínio seguem a mesma lógica técnica do LEED, mas adaptados às normas e particularidades nacionais, ampliando o alcance da sustentabilidade no setor residencial.

As certificações e a valorização imobiliária

A valorização ocorre porque um imóvel certificado oferece diferenciais claros para investidores, compradores e usuários.

“Além de garantir menor custo operacional ao longo do tempo, com contas de energia, água e manutenção reduzidas, a certificação transmite confiança sobre a qualidade do projeto”, resume a entrevistada.

No mercado corporativo, empresas multinacionais e fundos imobiliários já consideram a certificação como critério decisivo de locação, justamente porque ela assegura padrões internacionais de desempenho e bem-estar.

Esse diferencial, inclusive, é reforçado por dados globais: somente nos projetos LEED, o valor acumulado de materiais sustentáveis especificados ultrapassa US$ 100 bilhões, um indicativo claro de que a sustentabilidade agrega valor tangível ao ativo.

“No segmento residencial, a certificação funciona como um selo de prestígio, comunicando inovação, modernidade e responsabilidade socioambiental”, garante Olivia Argentini.

Essa questão impacta diretamente no valor de revenda e na liquidez do ativo, pois o imóvel se torna mais atrativo frente aos concorrentes. “Em outras palavras, o mercado já reconhece que sustentabilidade não é custo, mas sim investimento que gera retorno financeiro e reputacional a médio e longo prazo”, explica.

A especialista também completa contando que projetos no Brasil que aderiram ao Selo Casa e Condomínio, inspirado na estrutura do LEED e referendado por normas nacionais, vêm se destacando justamente por oferecerem essa combinação de desempenho técnico e diferencial competitivo, aumentando o valor de mercado e reduzindo riscos de crédito.

Principais benefícios das certificações para construtores e clientes

Para construtores, os benefícios estão associados à eficiência e à competitividade. 

“A gestão de obra torna-se mais organizada, com menos desperdício de materiais e prazos mais bem controlados, o que se traduz em economia real”, cita.

Além disso, de acordo com a entrevistada, a certificação funciona como ferramenta de marketing poderosa, posicionando a empresa como inovadora e alinhada às demandas globais por responsabilidade ambiental.

“Isso abre portas para parcerias internacionais e acesso a linhas de financiamento verdes, cada vez mais relevantes no setor”, afirma.

O próprio GBC Brasil reforça que certificação não é um fim em si mesmo, mas sim a consequência de um processo de projeto e obra de alta performance, que integra engenharia, arquitetura e inovação desde as fases iniciais.

“Já os clientes finais ganham em qualidade de vida e redução de custos operacionais. Ambientes mais saudáveis, com melhor ventilação, iluminação natural e controle térmico, impactam diretamente no bem-estar dos usuários”, garante. Ela finaliza explicando que, no caso das empresas, há ganhos em produtividade dos colaboradores e reputação corporativa; no caso das famílias, em conforto e valorização patrimonial.

As certificações ambientais mostram que sustentabilidade e inovação não são custos extras, mas sim investimentos que garantem valor, eficiência e futuro.