O conceito de cidades inteligentes smart cities, em inglês, tem como premissa melhorar a qualidade de vida e a convivência entre os cidadãos e o meio ambiente por meio do uso de tecnologias. O tema foi alvo de discussão no Assuntos Concretos – iniciativa do Concrete Show South America que vem trazendo uma série de entrevistas, lives e webinars com o objetivo de mostrar um panorama da cadeia produtiva do cimento, concreto e da construção civil no Brasil e colaborar para o desenvolvimento do setor.
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O encontro online reuniu o secretário municipal de Tecnologia e Inovação de São Paulo, Juan Quirós; o CEO da Prospecta Obras, Wanderson Leite e a doutora e consultora em Cidades Inteligentes (PUC-SP), Stella Hiroki. A moderação do webinar foi conduzida pelo diretor do Concrete Show, Hermano Pinto Júnior.
A organização de uma cidade inteligente leva em consideração o equilíbrio entre seis parâmetros: pessoas, economia, governo, moradia, mobilidade e meio ambiente. Entretanto, o ponto de atenção fundamental, segundo a doutora Stella Hiroki, é incentivar a participação da sociedade. “A cidade inteligente é uma combinação de sistemas tecnológicos aplicados de top down (de cima para baixo), ou seja, a partir do poder público e/ou da iniciativa privada e bottom-up (de baixo para cima), com iniciativas lideradas por indivíduos empoderados digitalmente”, destaca.
Um exemplo de projeto que utiliza os dados por meio da iniciativa de cidadãos citado por ela é o Good Vibrations do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos. Os pesquisadores do MIT descobriram um método para monitorar as vibrações em pontes urbanas usando dados coletados por meio de smartphones.
A ideia é coletar os dados captados durante o trajeto que é realizado pelas pessoas diariamente que circulam em veículos por essas pontes. Assim, seria possível uma avaliação mais eficaz e a tomada de decisão assertiva sobre as necessidades de manutenção da infraestrutura urbana.
Outro ponto levantado pela Stella é que a pandemia da Covid-19 foi responsável por acelerar o debate em alguns aspectos relacionados à cidades inteligentes, como a constatação que projetos tecnocráticos não se sustentam mais. O projeto Sidewalks Labs do Google, que propunha um bairro futurista em Toronto, no Canadá, utilizando tecnologias e dados digitais, foi abandonado devido à inviabilidade financeira em razão da pandemia.
As questões ligadas à mobilidade e saúde também ganham expressão entre os debates sobre a cidade inteligente. “Estamos observando tendências como a micromobilidade que são os transportes desenvolvidos para percorrer distâncias curtas, a pedestrianização das ruas, onde o pedestre é o protagonista nos deslocamentos nas ruas e a adoção de carros autônomos”, diz a doutora. Na saúde, percebem-se ações direcionadas à coleta e cruzamento de dados.
Um exemplo prático são estudos realizados, inclusive no Brasil, onde amostras dos esgotos de Florianópolis (SC) apontaram a presença do vírus Sars-Cov-2 em novembro de 2019, ou seja, antes do anúncio da pandemia mundial declarada pela Organização Mundial da Saúde em 11 de março de 2020.
O papel da construção nas cidades inteligentes
À medida que a transformação digital ocorre nas cidades é essencial que o setor da construção civil acompanhe esse movimento. Para o CEO da Prospecta Obras – big data que mapeia e acompanha obras em andamento e a iniciar em todo o Brasil – Wanderson Leite, no geral, a construção civil ainda caminha a passos lentos na revolução digital pretendida com a Construção 4.0.
“A construção civil ainda é muito artesanal no Brasil, nos segmentos do comércio e no canteiro de obras. A transformação digital é vista apenas na indústria que avançou muito nos últimos anos”, diz Leite. Para ele, o aspecto que falha na cadeia da construção em geral é a falta de uma coleta e estudo de dados a serem utilizados como base para o planejamento estratégico e a tomada de decisões nas empresas.
“O número de reformas em residências aumentou 37% em relação ao ano passado neste período de pandemia da Covid-19. Porém, essa análise não chega a tempo para que o pequeno comerciante possa se preparar para o aumento na demanda de material de construção”, afirma o CEO da Prospecta Obras, que acrescenta ainda: “a informação é a principal a ferramenta para tornar a construção civil mais eficiente”.
Outro fator ligado ao setor de construção é o smart living no conceito de cidade inteligentes. A premissa é a diminuição da pegada de carbono e as construções preocupadas com o meio ambiente, que contemplam a reutilização dos materiais e o descarte correto do entulho, por exemplo.
Digitalização em São Paulo
O secretário municipal de Tecnologia e Inovação de São Paulo, Juan Quirós, falou sobre digitalização dos serviços da prefeitura de São Paulo para atender a população, que foi acelerada devido à pandemia, e as ações a educação digital dos paulistanos.
Segundo Quirós, mais de 400 serviços prestados à população são realizados de forma digital. Um exemplo é o Portal SP156, no qual o munícipe solicita um serviço – poda de árvores, instalação de lixeiras, etc. – e pode acompanhar a solicitação online.
Para atingir a meta de tornar São Paulo uma cidade smart, o secretário diz que “é fundamental a conscientização das pessoas do benefício que é ter uma cidade inteligente e a promoção de inclusão digital”. A cidade possui 130 telecentros, unidades que disponibilizam acesso a computador para a população e agentes mediadores que auxiliam na navegação pela internet e se dedicam ao letramento digital.
Outros projetos neste sentido são o Wifi Livre, com a expansão da rede de conectividade na capital paulista com pontos de acesso livre e gratuito à internet, e os FabLabs, laboratórios criativos equipados para que os interessados desenvolvam ideias e projetos.
Para Quirós, “a complexidade de ter uma cidade inteligente demanda um projeto diário com um planejamento estratégico de médio a longo prazo”, finaliza.
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