Realizada recentemente em Glasgow, na Escócia, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2021, a COP26, reuniu representantes da maioria dos países globais para discutir mudanças que possam auxiliar no combate aos efeitos nocivos ao meio ambiente, em especial no clima.

Presente no evento, o Brasil se comprometeu, através de promessa do Governo Federal, a reduzir em 50% as emissões dos gases associados ao efeito estufa até 2030 e a neutralizar suas emissões de carbono até 2050.

A meta é importante e urgente, tendo em vista os índices relacionados às mudanças climáticas que vêm sendo apresentados por cientistas e estudiosos há décadas. Mas como esse compromisso afeta a construção civil brasileira?

Para entender mais do assunto, conversamos com Gonzalo Visedo, Head de Meio Ambiente e Sustentabilidade do SNIC, o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento. Vamos conferir o que o especialista na área nos falou?

Siga lendo e tire suas dúvidas sobre os compromissos firmados pelo Brasil na COP26 e o papel da construção em sua implementação!

Quais são as metas firmadas pelo Brasil na COP26 e como elas impactam o setor da construção civil?

Gonzalo Visedo: A COP21, realizada em 2015 em Paris, trouxe um pacto global, que ficou conhecido como Acordo de Paris, no qual todas as 195 nações signatárias se comprometeram com metas específicas de redução de CO2.

Nesta COP26, embora a agenda não tratasse especificamente da definição de novas metas, houve um chamado global para que os países aumentassem a ambição proposta em 2015. Assim, vários países revisaram voluntariamente suas metas de redução, incluindo o Brasil, que aumentou de 43% para 50% de redução de CO2 até 2030, e alcançar a neutralidade em carbono até 2050.

De toda forma, para a indústria do cimento, o compromisso com a agenda climática não é novo. O setor, por iniciativa própria e já se antecipando às demandas da sociedade, criou em escala global há mais de 20 anos o que é considerado hoje o maior banco de dados de CO2 de um único setor industrial no mundo. Este banco de dados é abastecido por quase 50 das maiores empresas produtoras de cimento no mundo, mapeando cerca de 850 unidades industriais ao redor do planeta. No Brasil, tem uma representatividade de cerca de 75%.

Este banco de dados, que retroage até 1990, mostra o Brasil ocupando a liderança global como o país com a menor intensidade de carbono na produção de cimento no mundo (564kgCO2/ton cimento).

Esta posição de destaque, fruto de esforços que o setor vem realizando há décadas, não é casual ou momentânea; A indústria do cimento brasileira esteve à frente desse indicador em mais de 20 dos últimos 30 anos.

Como resultado desses esforços, o setor conseguiu evitar a emissão de cerca de 125 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera neste período (1990-2020).

Não satisfeito, o setor investiu pesado na elaboração de um Roadmap que mostrasse caminhos para seguir avançando na redução de sua pegada de carbono, numa parceria com a Agência Internacional de Energia (IEA), o IFC do Banco Mundial, o WBCSD e um seleto grupo de renomados cientistas das principais universidades do país. 

Assim, a partir de um robusto plano de ação, pioneiro entre todos os setores industriais brasileiros, traçou uma série de alternativas capazes de reduzir a emissão do setor – já referência internacional – em mais 33% até 2050. Com isso, evitar 420 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera ao longo de todo o período (2014 a 2050).

Como realizar a descarbonização da construção civil, e quais soluções para o segmento? 

GV: O plano de ação proposto no Roadmap de Descarbonização do Cimento está apoiado em 4 principais pilares de atuação:

  1. Matérias-Primas Alternativas (conhecidas como Adições no setor), através da utilização de materiais ou subprodutos de outras atividades (como escórias siderúrgicas, cinzas de termelétricas, pó de calcário, entre outros).
  2. Combustíveis Alternativos (atividade conhecida como Coprocessamento no setor), a partir da substituição de combustíveis fósseis por outras fontes energéticas de menor emissão de CO2, como resíduos industriais (pneus, óleos, tintas, graxas, etc), resíduos urbanos (resíduos domésticos e comerciais) e biomassas ou resíduos agrícolas (palha de arroz, casca de babaçu, caroço de açaí, etc).
  3. Eficiência Energética, através de investimentos em melhoria de equipamentos e processos capazes de reduzir o consumo térmico e elétrico do setor.
  4. Inovações Tecnológicas, a partir de investimentos em P&D de novas tecnologias como a Captura de Carbono.

Os dois primeiros pilares (Adições e Combustíveis Alternativos) representam mais de 80% do potencial de redução de CO2 do setor, e estão plenamente alinhados com o conceito da economia circular, já que reaproveitam resíduos e subprodutos de outras atividades como matérias-primas ou combustíveis.

Quais são os principais desafios da descarbonização da construção civil?

GV: A próxima fronteira, o próximo grande desafio do setor, surge diante da necessidade de alcançar não somente a redução, mas a neutralidade em carbono do setor (Net Zero) num futuro de médio e longo prazo.

Diante desse desafio, a indústria do cimento global, através da Associação Global de Cimento e Concreto (GCCA) se antecipou mais uma vez ao lançar, às vésperas da COP26, um novo conceito de Roadmap visando a neutralidade em carbono, não somente para o Cimento, mas ampliando o alcance para o concreto e a construção.

Foi o primeiro segmento industrial no mundo a apresentar um plano de neutralidade climática  em escala global, em nível setorial.

Nesse novo Roadmap Global, a indústria do cimento nacional surge como um dos protagonistas desse processo, por apresentar um dos menores esforços de redução em virtude dos contundentes avanços já alcançados.

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