Os edifícios com múltiplos pavimentos possuem desafios estruturais e arquitetônicos que podem ser superados com as estruturas e elementos pré-fabricados de concreto. O sistema construtivo é ideal para atender as exigências técnicas, estéticas e ambientais, assim como para garantir a segurança, a qualidade e a produtividade do bem construído. Ademais, a industrialização em concreto ainda possibilidade uma otimização de recursos e está plenamente em conformidade com o ciclo de vida de um empreendimento.

A comprovação de todos os benefícios e do potencial da construção industrializada de concreto para os projetos de edifícios de múltiplos pavimentos está no recente boletim, publicado, em dezembro do ano passado, pela fib (Federação Internacional de Concreto), a principal entidade da área no mundo, com a participação de especialistas de 44 países. O boletim, intitulado Precast Concrete in Tall Building, foi elaborado por profissionais da Comissão 6 de Pré-Fabricados, que reúne experts de todo o mundo nesse segmento, incluindo os do Brasil.

A publicação apresenta quinze estudos de caso mundiais de edifícios altos com a aplicação integral ou parcial das estruturas pré-fabricadas de concreto. Pelo Brasil, o exemplo trazido é subsolo do shopping torre A (Gleba A) do Parque da Cidade, empreendimento multiuso, situado em São Paulo. Posteriormente a mesma solução do subsolo foi aplicada para as torres da Gleba B que também adotaram as soluções pré-fabricadas no corpo dos edifícios. Este exemplo de solução para subsolo pode ser adotado mesmo quando o corpo do edifício tenha outra solução construtiva. Além dos projetos apresentados, o boletim ainda conta com informações sobre os elementos e concepções estruturais.

A versatilidade da pré-fabricação de concreto possibilita seu uso em diferentes composições, incluindo, estruturas híbridas, que combinam os elementos industrializados de concreto com elementos industrializados de aço ou com concreto moldado no local. No caso das estruturas feitas integralmente no sistema construtivo, pode-se ter sistemas em esqueleto, estrutura aporticada, soluções em painéis portantes (Modular 2D) e em células (modular 3D). As soluções em painéis portantes são encontradas usualmente no continente europeu, especificamente nos países nórdicos, Holanda e Bélgica.

Um aspecto importante de um edifício com estruturas pré-fabricadas de concreto é a garantia da estabilidade global nas fases transitórias de montagem, além do modelo final executado. A montagem e as etapas de enrijecimento da estrutura devem ser avaliadas e planejadas para que essa estabilidade seja assegurada à estrutura em todas as fases da obra.

O Edifício Varanda Botânico, construído em 2019, em Ribeirão Preto (SP), conta com 250 apartamentos, distribuídos em 25 pavimentos e 82 metros de altura. A estrutura foi concebida com pilares-parede nas extremidades e núcleo de rigidez na área dos elevadores. Esses elementos verticais foram moldados no local, com formas mistas de madeira e metal. Já a estrutura do estacionamento e da área de lazer (piscinas), situada fora da projeção da torre principal, também foi executada com pilares, vigas e painéis alveolares pré-fabricados.

O uso do pré-fabricado de concreto trouxe benefícios como o cronograma reduzido, com importante redução de custos indiretos, o ganho de flexibilidade na arquitetura dos pavimentos, uma vez que o teto é plano e todas as instalações são externas à estrutura, abrigadas por forro. A obra ainda não sofreu retrabalhos ou incompatibilidades entre as diversas disciplinas, pois houve a definição prévia de todos os subsistemas em fase de projeto, como é feito nas obras industrializadas.

Certamente, a industrialização em concreto consegue viabilizar uma diversidade de projetos de edifícios altos, destinados ao uso residencial, comercial ou multiuso. São diversas possibilidades, que poderão ser exploradas a depender, principalmente, de uma definição pelo sistema construtivo logo na fase de projeto, o que permitirá explorar todo seu potencial e obter todos os benefícios da industrialização.

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* Por Íria Lícia Oliva Doniak, Presidente Executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC)