*Por Íria Lícia Oliva Doniak
O aumento da produtividade é um tema debatido constantemente na área da construção. No âmbito institucional, são diversas iniciativas promovidas pelas entidades para fomentar a disseminação deste assunto na cadeia de produção, em todos os níveis empresariais, a fim de proporcionar reais ganhos econômicos para as construtoras, indústrias e fornecedores de serviços e produtos, além de benefícios sociais para os profissionais, suas famílias e a comunidade local. É um objetivo comum para que o setor se desenvolva ainda mais.
Ao melhorar a produtividade, é possível obter ainda outras vantagens, como a diminuição de custos e o aumento da rentabilidade, resultando em empresas mais competitivas e mais eficientes. Mas, para alcançar esses ganhos, é necessário enxergar as tecnologias e a transformação digital como aliados nesse processo, pois possibilitam uma melhor gestão corporativa, ao realizar uma integração completa entre os dados, os projetos, os processos e as diferentes áreas da companhia, oferecendo uma visão ampla do negócio.
Outro fator imprescindível é a adoção crescente de processos industrializados, com a mudança do canteiro de obras para um canteiro de montagem, a fim de aproveitar todos os benefícios da produção em um ambiente controlado, como são as indústrias: qualidade, sustentabilidade, produtividade, eficiência, redução de tempo, diminuição de custos, melhor aproveitamento dos recursos materiais e humanos levando a menores índices de retrabalho e desperdício.
Entre os sistemas construtivos considerados industrializados estão: a pré-fabricação em concreto, a construção metálica (também pré-fabricada), o drywall, o steel frame, o light steel frame e o wood frame, que podem ser utilizados de forma isolada ou combinados entre si, e que, para determinadas aplicações, podem maximizar o potencial da industrialização. Mais recentemente, tem-se falado bastante no mundo e, também no Brasil, sobre a construção modular.
Nesse contexto, o relatório “Modular Construction: From Projects to Products”, da McKinsey, estima que a construção modular pode alcançar até US$ 130 bilhões em novos empreendimentos imobiliários nos mercados europeu e americano, gerando uma economia de US$ 22 bilhões. O potencial do setor está ligado à adoção, pela indústria, de novos materiais, mais leves, bem como tecnologias digitais que aumentam a capacidade e a variabilidade do projeto, melhoram a precisão e a produtividade na fabricação e facilitam a logística. Ressaltando que este conceito está atrelado à construção “off-site” – produção na indústria e montagem em canteiro. Por isso, há uma nova onda de investimentos na área.
Quando se conceitua construção modular, é bom lembrar que o módulo pronto é a construção modular 3D, mas o conceito também é aplicável em 2D quando, por exemplo, são montados os módulos com painéis. O módulo pronto 3D foi muito utilizado em São Paulo nos anos 2000, no setor hoteleiro, para imprimir velocidade e garantir um rápido retorno do investimento. Atualmente, a construção modular tem crescido rapidamente na Ásia. Em Singapura, por exemplo, foi erguido recentemente o mais alto empreendimento de construção modular em concreto do mundo: o Clement Canopy é um projeto habitacional de duas torres com 40 andares e 140 metros de altura.
A industrialização pode aliar outra questão fundamental à produtividade, que é a preservação do meio ambiente. Ao fabricar na indústria, o uso de recursos naturais, de matérias-primas e de energia é menor, assim como há uma redução das emissões de gases de efeito estufa que são os principais responsáveis pelo aquecimento global, que derivou das mudanças climáticas. Além disso, há a possibilidade do reuso, tanto de materiais como de água. Com isso, o empreendimento ganha ainda mais valor agregado. Esta prática, já evidenciada no ambiente industrial, está alinhada com os preceitos da economia circular.
Entretanto, é preciso ressaltar a necessidade da quebra de paradigmas para implementar um alto nível de industrialização na construção. A começar pela mão de obra. Há um estigma de que o setor não precisa de mão de obra qualificada, quando, na verdade, quanto melhor a qualificação dos profissionais, melhores chances de trabalho e de renda. O segundo paradigma é a falta de cultura pela industrialização, que se inicia no ensino das universidades e chega até a formatação dos processos de licitação, que induzem, invariavelmente, a construção por sistemas convencionais. Por fim, há a questão tributária, com a incidência especialmente do ICMS sobre os elementos pré-fabricados, diferentemente do que ocorre em outros países, o que limita o maior uso do pré-fabricado industrial.
Contudo, se o Brasil quer aumentar a produtividade, ter melhor gestão, comprovar que está em busca de ser um setor que diminui o impacto ambiental de suas atividades alinhado às metas globais propostas para os próximos anos, a industrialização da construção é o caminho.
*Íria Lícia Oliva Doniak é a presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (Abcic). Durante a carreira, atuou em usina de concreto, na indústria cimenteira (Votorantim Cimentos) e foi consultora nas áreas de controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento na indústria de pré-fabricados. Foi também, ao mesmo tempo em que atuou com consultoria, auditora líder do BVQI (Bureau Veritas Quality International), tendo auditado empresas construtoras e canteiro de obras de edificações e infraestrutura em todo o Brasil. Engenheira Civil, graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1988, atualmente cursando o MBA–FGV em economia com ênfase em Relações Governamentais.