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A cultura de inovação em construtoras

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Como a filosofia LEAN tem possibilitado a digitalização e a implantação do BIM?

Convidamos Guilherme Odaguiri, Superintendente de Excelência Operacional, Planejamento e Projetos da Andrade Gutierrez para falar como a empresa tem colocado em prática a filosofia LEAN, como isso tem possibilitado a digitalização e a implantação do BIM e também sobre a importância de processos digitalizados, os ganhos da implantação do modelo e como isso deixou mais fácil e moderna a gestão de projetos em mais um episódio do Assuntos Concretos.

Concrete Show: Pode nos contar um pouco sobre como a empresa tem colocado em prática a filosofia Lean, e como isso tem possibilitado a digitalização e a implementação do BIM?

Guilherme Odaguiri: “Acho que um ótimo ponto para abordarmos neste início é que a Andrade vem investindo muito forte na parte de processos, aculturamento de pessoas, treinamentos, deixar o mais enxuto possível todos nossos processos não só de obra, mas também da parte corporativa.

Estamos investindo nisso há mais de dez anos. Começamos com projetos pilotos em 2010 e 2011 com a aplicação do Lean Construction como um pioneirismo no mercado, e isso foi ganhando forma. A gente começou a formar consultores internos que foram multiplicando isso para outros contratos, mas acho que a grande virada foi no final de 2014, onde implementamos um projeto grande chamado Projeto One com o objetivo de padronizar a empresa.

Por sermos uma general contractor, atuando em obras industriais e de infraestrutura, esse projeto tinha o objetivo de padronizar a gestão dos projetos e também toda a parte corporativa. Então pegamos as melhores práticas do mercado e trouxemos para a nossa realidade, adaptando. Essas práticas foram introduzidas na nossa gestão, e hoje temos uma grande padronização em nossos projetos.

Independente de ser uma obra de infraestrutura ou industrial, temos a mesma forma de gerir os projetos. Eu venho trabalhando com BIM desde setembro do ano passado, onde tive esse desafio de implementá-lo junto com a equipe, temos uma equipe de projeto dedicada a isso, e vimos o quão importante é termos processos padronizados para digitalizar. 

Porque muitas vezes só com a tecnologia ou só com alguns procedimentos você não consegue fazer acontecer, então quando você tem uma camada de padronização, seja ela de gestão ou de obra ou de gestão da parte corporativa, isso facilita muito a implementação do BIM.

Hoje na empresa temos um foco da implementação do BIM na gestão das nossas obras, então a maioria dos nossos projetos são projetos EPC, que envolvem engenharia, fornecimento e construção, e todo esse trabalho de base que estamos fazendo há mais de dez anos com a padronização, aplicação do Lean Construction, isso apoia muito nessa camada digital, e isso para a gente é um grande ganho.”

Concrete Show: Como foi o processo de implementação do BIM e da metodologia Lean na empresa?

Guilherme Odaguiri: “A iniciativa do BIM na empresa vem desde 2018. Isso se iniciou na Diretoria de Engenharia, o Fernando Laser que é o nosso Diretor de Engenharia de Proposta começou esse trabalho na empresa e foi ganhando forma, inicialmente com o objetivo de conhecer o tema, porque o BIM é uma realidade muito comum na parte imobiliária. 

Quando a gente fala de engenharia da construção, onde a gente atua, a gente ainda vê poucos cases. Vemos uma frente ou outra de obras sendo feita em BIM, mas quando falamos de gestão de obra em ponta a ponta você encontra poucos casos reais onde isso foi aplicado. 

Em 2018 tivemos o objetivo de entender a metodologia, capacitar um grupo de trabalho, e isso foi ganhando uma forma muito legal na empresa, foi criada uma equipe e um projeto, então avançamos muito na capacitação, em trazer profissionais de mercado que já haviam aplicado, e conseguimos aplicá-lo também em algumas frentes pilotos em nossos projetos.

No fim do ano passado tomamos a decisão, pois temos uma base sólida e temos aplicado o Lean Construction, e hoje temos uma equipe de consultoria dentro da empresa, que é responsável por manter e implementar nossos padrões, porque mesmo com dez anos de implementação ainda temos construtores que quando iniciam o projeto apoiam os diretores de contrato na implementação e também em processos de melhoria contínua dos contratos.

Então unimos essa grande equipe junto com a equipe especialista em BIM, e no fim do ano passado fizemos a união da consultoria, que é a parte de método, com o BIM, que são os especialistas de conhecimento técnico. Então apostamos muito na união da metodologia dos consultores com o conhecimento técnico dos especialistas, e obviamente com a liderança nos guiando.

Falando da liderança, a implementação do BIM vem muito em linha da nossa estratégia, na qual temos trabalhado desde 2015. Naquele ano a Andrade teve uma grande mudança na sua estratégia, onde éramos muito focados em clientes públicos e passamos a focar em clientes privados, e mudamos nossa disciplina de valor.

Nossa disciplina de valor desde 2015 vem focada na excelência operacional, e o BIM surgiu disso. É uma grande diretriz, quando falamos de digitalizar a cadeia de valor da engenharia com a implementação do BIM, isso está em linha com a nossa estratégia. 

Desde o fim do ano passado isso ganhou mais corpo com a união das nossas equipes, do trabalho que já vinha sendo feito desde 2018 e que foi potencializado com  a união dessas duas equipes, e hoje temos como meta para o fim deste ano que todos nossos contratos iniciados neste ano serem geridos pelo BIM e pelo planejamento 4D, que posso explicar um pouco mais à frente.”

Concrete Show: Um dos projetos que já conta com a aplicação do BIM é o Parque Solar do Ceará, que está quase finalizado. Quais vantagens o BIM trouxe desde a criação do projeto até a execução da obra?

Guilherme Odaguiri: “Esse foi nosso case piloto, então quando tomamos a decisão em setembro do ano passado de unir as duas equipes, nós selecionamos um projeto piloto para fazermos a gestão de ponta a ponta, e o escolhido foi esse projeto solar do Ceará. Hoje temos outros projetos solares, mas na época era o único, hoje a Andrade é o maior player dessa área na América Latina, e na ocasião selecionamos esse. 

Na época ele estava com uma execução de 40 a 50% de avanço físico, então selecionamos metade restante da obra para fazer toda em BIM. Fizemos toda a modelagem 3D e toda a parte do planejamento 4D, que é linkar esse modelo com nosso projeto de obra, e também a captura com pilotos onde o drone, que é uma tecnologia acelerada pela Vetor AG, que é nossa incubadora, então capturamos o modelo BIM para verificar o que havia sido feito no avanço da obra para integrar com o modelo.

E recentemente a gente fez uma ação de quais foram os ganhos disso, eu posso elencar e o primeiro foi a digitalização, então toda nossa gestão de obra que padronizamos foi digitalizada. Outros exemplos são ao invés de ver o cronograma em várias linhas, eu conseguia ver a evolução dele no modelo de forma visual.

Nós temos na nossa rotina semanalmente olhar as restrições das atividades programadas. Então ao invés de tê-las em um cronograma, que é muito mais difícil, nós conseguimos ver no modelo visual. Então eu consigo andar seis semanas para frente, saber onde vou precisar de guindastes, de interferências, e assim conseguimos identificar as restrições.

Hoje a gente utiliza a metodologia do Last Planner System para fazer a gestão dos projetos, e um dos maiores gargalos é programar atividades com restrição, porque eu não identifiquei ela. Então quando você usa o modelo visual linkado com o projeto é muito mais fácil do que olhar para um cronograma, então identificamos que essa digitalização da nossa forma de gerir ficou muito mais moderna para a gestão.

Então esse é um primeiro ganho que é um dos grandes objetivos do nosso projeto BIM, que é criar essa camada digital. Um segundo ponto muito interessante e que acho que foi um dos maiores ganhos foi que, durante a fase da execução do modelo da engenharia, o BIM tem uma função que chama clash detection, então ele identifica interferências no modelo, entre disciplinas civil e elétrica, então identificamos muitas restrições, mais de 1700, durante a elaboração do modelo.

Geralmente você não tem essa funcionalidade ou essa metodologia, você só identifica isso no campo. Então você leva sua equipe para a frente de trabalho e descobre na hora se há uma interferência, então isso é uma improdutividade. Ao invés de estar alocando equipe, colocando energia, na fase de engenharia eu já identifiquei um problema no meu projeto, o que é comum.

E um outro ganho tangível, um terceiro ponto é que tivemos uma mudança de metodologia executiva que vimos através desta sequência construtiva no tempo e no modelo, e que nos resultou em um ganho de mais de 80 mil reais. Então a mudança da sequência construtiva que vimos e pensamos ‘se fizermos dessa outra forma precisamos de menos gente e equipamento’.

Apuramos financeiramente e tivemos esse ganho, que pode parecer pouco ou muito, mas para nós pagou o investimento da implementação do BIM por exemplo. Então para nós se fosse só isso já estava muito bom.

Outro ponto também é a capacitação, pois não fazemos nada sem as pessoas. A Andrade é muito vanguardista e temos um DNA muito inovador, estamos sempre à frente das iniciativas, das aplicações de excelência operacional, de outras disciplinas como compliance, gestão, administração de contratos de risco, digitalizamos todo nosso processo também, a parte de suprimentos, então temos esse DNA inovador. 

E não fazemos nada sem as pessoas, por isso tivemos um trabalho muito grande de capacitar esses profissionais. Então a partir do momento em que eu trabalho essa base das pessoas, eu vejo um avanço do skill dos profissionais que passaram por essa implementação, então eles tem essa visão da gestão do projeto, e eu vejo um ganho muito grande nessa capacitação. Eles estão muito mais adequados, avançaram muito em skills de engenharia e planejamento com essa passagem.

Eu sou engenheiro de formação, e vejo que é muito interessante esse ganho que pode parecer intangível da formação das pessoas.”

Concrete Show: E sobre a formação das startups, como se dá esse intercâmbio?

Guilherme Odaguiri: “Nós temos aqui a Vetor AG, que foi a primeira construtech do país, nós incubamos startups focadas em desafios da engenharia e construção, estamos indo para o quinto ciclo agora, e explicando de forma mais simples, o BIM é como se fosse uma coluna vertebral. 

Estamos digitalizando nossa cadeia de engenharia. Como nosso foco é a obra, temos toda essa parte de engenharia, fornecimento e construção, e trabalhos acoplando iniciativas da Vetor que façam sentido. Na parte de captura da realidade nós pegamos uma iniciativa que é a Mapli e que usa a tecnologia do drone para fazer o georeferenciamento, e acoplamos em nosso modelo que é o BIM.

Tivemos outra iniciativa que é o SGP+, que também é captura da Realidade e Realidade Aumentada, então a gente utiliza essas iniciativas da Vetor para complementar na implementação do BIM.”

Concrete Show: O que podemos esperar da Andrade Gutierrez orientados à inovação e excelência operacional para os próximos anos?

Guilherme Odaguiri: “Temos um grande trabalho hoje e falamos que a grande inovação do ciclo que estamos passando é a digitalização da nossa cadeia de valor. Então quando eu falo da implementação do BIM, que são três letrinhas, mas ele é muita coisa. 

Então a gente hoje está trabalhando com a parte de modelagem 3D, então nossos contratos hoje tem não uma maquete, mas modelos inteligentes, que contém informações relevantes para a gestão do projeto, como quantitativo, essa parte de restrições, mas não só a parte visual. 

A gente está trabalhando muito forte também na parte de gestão de materiais, então estamos desde a criação de catálogos corporativos padronizados para os materiais de engenharia e essa gestão do material até o almoxarifado, então temos grandes ganhos em relação a isso, desde ter um balanceamento e controle dos quantitativos, o que você comprou, o que está aplicando.

Quando às vezes uma disciplina ela revisa uma requisição, a outra vai precisar, ao invés de você comprar duplicado você faz esse balanceamento, então tem ganhos inestimáveis com essa aplicação. 

Toda a parte também do planejamento 4D e da gestão do planejamento, então estamos investindo também em ferramentas que façam a gestão das programações das atividades do campo, do avanço e da produtividade, e da captura da realidade. 

Então o plano da Andrade para os próximos anos é muito mais do que aplicar o BIM, que são três letrinhas, mas sim fazer essa gestão do EPC como um todo de forma digital. 

E algo que estou percebendo muito e que está linkado com a pergunta é que temos processos padronizados, mas não posso falar que todos nossos processos estão arrumados, temos melhorias a fazer em diversos pontos desde a fase de negociação do contrato até a gestão do projeto, então eu percebo que a digitalização também corrige alguns processos.

A utilização de ferramentas e algumas políticas pode travar para você não ter a flexibilidade de fazer de forma diferente, então um plano de fundo da Andrade é gerirmos nossos projetos através do BIM, mas não através de uma frente específica, como já não fazemos mais.

Temos um know how muito grande em projetos solares, estamos gerindo projetos solares através disso. Iniciamos também um gasoduto e estamos fazendo todas essas utilizações do BIM lá. Vamos iniciar uma termoelétrica utilizando também o BIM, e falando de obras de infraestrutura temos barragem, saneamento também, então o que vocês podem esperar da Andrade Gutierrez nos próximos anos é realmente implementar o BIM no mercado brasileiro. 

Eu converso com minha equipe de pegarmos referências sobre aplicação de ponta a ponta, e a gente não acha, então queremos ser essa referência para o mercado brasileiro. E temos outra linha em paralelo que vale ressaltar, que é o fato de que queremos ser líderes nessa parte de engenharia 4.0. 

Então o que a gente acredita na empresa é que essa junção da excelência operacional com o BIM e com a Vetor AG, a gente realmente tem um produto diferenciado para o mercado. A gente tem uma base muito sólida na gestão dos nossos projetos, cria essa camada de digitalização dos processos, e usa a Vetor como um catalisador de iniciativas para acoplarmos essa coluna vertebral. 

Então acreditamos muito nesse frame de unir essas três dimensões e cada vez mais acelerar outras iniciativas na Vetor.

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