A infraestrutura deficitária no Brasil é um desafio que precisa ser priorizado nas próximas décadas, uma vez que o setor é primordial para a competitividade da economia nacional e influencia diretamente o crescimento do país por estar relacionado às atividades econômicas, mas também à sociedade em geral. Segundo dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB), para vencer esse desafio, os investimentos em transportes e logística, energia elétrica, telecomunicações e saneamento deveriam chegar a R$ 285 bilhões na próxima década. Este montante representaria aproximadamente 4,3% do PIB.
Somada à questão dos investimentos, é importante ainda aplicar sistemas construtivos confiáveis, que atendam a critérios de desempenho e, ao mesmo tempo, à arquitetura contemporânea, além dos quesitos relacionados ao meio ambiente, acelerando a entrega, trazendo menor impacto no entorno do canteiro de obras, de forma que a população e os setores possam usufruir de uma infraestrutura eficiente, trazendo mais benefícios para a sociedade e para o desenvolvimento do país.
A pré-fabricação em concreto alia todos esses aspectos, e sua aplicação tem crescido significativamente na última década, especialmente na engenharia de transportes, que engloba a aplicação em pontes, viadutos, túneis, pavimentos, praças de pedágio, barreiras sonoras, dormentes para linhas ferroviárias, estações de metrô, BRT (Bus Rapid Transport), aeroportos, portos, estaleiros e energia.
Nas aplicações em engenharia de transportes, é importante considerar que as obras, usualmente, demandam superestruturas e são executadas com a interrupção parcial – ou sem a interrupção – da movimentação de pessoas e cargas, o que exige um planejamento bem elaborado para atender todas as atribuições de qualidade na execução da obra, como também aspectos relacionados à segurança dos envolvidos na operação e de quem trafega pelo local.
O fato de a indústria adotar novas tecnologias de materiais e equipamentos nos processos de produção e montagem, bem como buscar a atualização permanente da normalização e boas práticas aplicáveis ao setor, têm permitido o desenvolvimento de novas soluções e alternativas para o projeto. É fundamental destacar que o projeto deve ser desenvolvido por especialistas no sistema para otimizar os recursos. Ademais, os engenheiros e as indústrias especializadas do segmento não apenas farão um detalhamento do projeto, mas também utilizarão todas as ferramentas disponíveis, como o BIM (Building Information Modelling), e poderão desenvolver a melhor interface entre produção e montagem, em especial a segurança durante a montagem das estruturas pela observância das situações transitórias e da estabilidade global da estrutura.
Nos últimos 10 anos, no país, este sistema construtivo tem sido protagonista em grandes obras e estruturas. Em 2014 e 2016, além de contribuir de forma expressiva para o atendimento dos ousados cronogramas das arenas e equipamentos esportivos para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas (viabilizando a construção do palco destes grandes eventos), também esteve presente na mobilidade urbana, em especial na ampliação dos principais aeroportos como, por exemplo, Guarulhos, Viracopos, Brasília, Galeão, Espírito Santo e Curitiba.
Podemos citar ainda a ampliação e expansão de importantes rodovias no Estado de São Paulo, como a Carvalho Pinto (SP-070), Anhanguera (SP-330) e Eng. João Tosello (SP-147). Já no ambiente portuário, terminais e estaleiros de importantes portos, como o de Paranaguá e o de Suape, têm adotado também esta tecnologia, facilitando consideravelmente a logística das concretagens e atendendo todos os parâmetros de durabilidade em ambientes altamente agressivos.
O desenvolvimento tecnológico e a normalização atualizada têm sido agenda permanente do setor, razão pela qual estar presente na Concrete Show, trocando conhecimento e informações qualificadas, é fundamental para o avanço e a inovação em questões fundamentais, como a tecnologia do concreto e a logística de produção e montagem das estruturas, fachadas e fundações pré-fabricadas. Convido os leitores que quiserem se aprofundar no tema a acessar a revista “Industrializar em Concreto” (www.industrializaremconcreto.com.br) e navegar em nossas edições, especialmente, nos cases e artigos relacionados ao sistema.
*Íria Lícia Oliva Doniak é a presidente executiva da Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC). Durante a carreira, atuou em usina de concreto, na indústria cimenteira (Votorantim Cimentos) e foi consultora nas áreas de controle de qualidade e pesquisa e desenvolvimento na indústria de pré-fabricados. Foi também, ao mesmo tempo em que atuou com consultoria, auditora líder do BVQI (Bureau Veritas Quality International), tendo auditado empresas construtoras e canteiro de obras de edificações e infraestrutura em todo o Brasil. Engenheira Civil, graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná em 1988, atualmente cursando o MBA–FGV em economia com ênfase em Relações Governamentais.