Assim como em todas as áreas do mercado de trabalho, as mulheres estão reivindicando seus devidos espaços em cargos de liderança na construção civil, e um painel realizado durante a 14ª edição do Concrete Show trouxe grandes exemplos disso. O evento, que aconteceu entre os dias 8 a 10 de agosto no São Paulo Expo, na capital paulista, reuniu cinco CEOs de empresas importantes do setor rental para a mesa “Rompendo barreiras, construindo o futuro” do Seminário Alugar São Paulo.

A mediação ficou a cargo de Marot Gandolfi, assessora de imprensa da Associação Brasileira dos Locadores de Equipamentos e Bens Móveis (ALEC), que chegou a se emocionar com histórias como a de Maristela de Melo Machado Cardoso, da EPL Paulista. Mesmo sem experiência prévia e diante de uma situação difícil na vida pessoal, a executiva tirou a empresa do vermelho e passou a gerar lucro em apenas dois anos.

“A minha sucessão aconteceu num momento difícil da minha vida, em que meu marido e sócio fundador da empresa faleceu. Até então eu só sabia cuidar de casa e criança, eu administrava o lar. De repente me vi com uma empresa de 21 anos na mão e pensei, ‘não posso deixar a coisa terminar aqui, o meu marido deu o sangue por isso’. Então arregacei as mangas, fui para a empresa usando salto alto mesmo, toda arrumada, aliás como faço até hoje. Mesmo pegando em máquina e graxa, eu trago o toque de elegância que só as mulheres podem levar”, contou Maristela.

Adriana Tavares, que assumiu recentemente o controle da Haix Rental, lembrou outra característica feminina que acredita ser fundamental para uma boa administração. “A mulher tem menos apetite para o risco. Nós fomos criadas assim, é da nossa cultura que, antes de tomar uma decisão, a gente se cerque de certeza. Mulheres não podem errar, porque somos mais cobradas e porque não temos tempo para lidar com problemas devido à rotina de mãe e esposa, por exemplo. Por isso a nossa posição de decisão é mais fundamentada, as nossas ações à frente de uma empresa devem ser sempre pautadas por dados, fatos e números”, defendeu a executiva.

A importância do ESG e de mulheres na mecânica

Estima-se que 80% das empresas de construção civil no Brasil são familiares, percentual bem maior do que a média de outros setores da economia brasileira, e essa passagem de gestão de geração em geração proporciona pontos positivos como tradição e comprometimento. Mas isso também pode levar à desconfiança, como aconteceu com Natalia Cistofoletti, que hoje administra a Casa do Construtor. “Eu sempre gostei de trabalhar, desde os 11 anos. Aos 15 já entrei na empresa, fui pra loja em Araras (SP) aprender todas as funções, desde atendimento até dirigir caminhão, fiz curso de mecânica para conseguir o respeito dos funcionários, aprendi a descer e subir a betoneira para eu conseguir fazer sozinha. Exatamente porque eu sempre escutei dizerem, ‘mas você é filha, pra você é fácil’. Quis mostrar que entendo do negócio, porque infelizmente as mulheres têm que conquistar o respeito”, afirmou Natalia.

Thais Nunes, da Loc Rental, celebrou a quantidade de mulheres em cursos de mecânica atualmente, e até propôs às demais participantes da mesa no Concrete Show a iniciarem um curso para mulheres que estão começando no setor. “Fico muito feliz de saber que incentivamos mulheres a fazerem curso. Eu aprendi na mão porque os meus irmãos são mecânicos e eles me ensinaram. Especialmente em uma cidade pequena como Água Clara (MS), ninguém queria ser comandado por uma mulher. Mas eu sei trocar um retrátil, sei limpar um carburador, e quando dava problema eu podia ir lá resolver. Até convido as meninas aqui pra ensinarmos que a ergonomia de uma oficina mecânica deve incluir as mulheres”, propôs Thais.

Quem apontou outra necessidade urgente para o setor de locação na construção civil foi Pauline Menegotti, que assumiu o Grupo Menegotti há oito anos. Em seu período como CEO mais jovem da história da companhia, ela investiu no conjunto de práticas conhecido como ESG, que incentiva ações ambientais, sociais e de governança. “Quando assumi a empresa também enfrentei a desconfiança como dificuldade de governança, e não estou falando nem tanto na questão do gênero, mas também da minha idade. É muito difícil uma mulher jovem se provar, sempre com a humildade de reconhecer que não sabemos de tudo. Mas me vi na condução de um negócio que não tinha metas de ESG e de inovação bem definidas por ser líder no mercado de betoneiras, um produto que já existe há 50 anos, então as implantei ações de sustentabilidade e tecnologia que foram decisivas para o nosso desempenho”, explicou Pauline.