Nos últimos anos, a participação feminina na construção civil subiu expressivamente. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a existência de mulheres no setor cresceu 120% entre os anos de 2007 e 2018. Atualmente, o setor possui 239,2 mil mulheres trabalhando com carteira assinada, ainda segundo o IBGE. Os cargos são variados: arquiteta, engenheira, técnica em edificações, eletricistas e, claro, pedreiras.

Apesar de a presença feminina em cargos tradicionalmente masculinos estar se tornando cada vez mais comum, o panorama da construção civil para mulheres ainda é desafiador: no Brasil, apenas 239,2 mil profissionais mulheres estão trabalhando em obras.

Mulher pedreira: a importância da presença feminina na construção civil

A força física necessária à funções ligadas à execução de uma obra não é uma exclusividade masculina. Outros atributos, como organização, olhar analítico, boa comunicação e capacidade de foco, tampouco.

Fazer com que haja mais vagas ocupadas por mulheres na construção civil é uma forma de tornar esses ambientes mais democráticos e o trabalho em equipe mais harmonioso. Mulheres que optam por seguir carreira nesse ramo ainda precisam ter muito jogo de cintura para lidar com o dia a dia em um ambiente de trabalho predominantemente masculino, o que inclui também a busca pela capacitação profissional.

Pelo fato da  instrução dos homens para o trabalho de pedreiro ser um tanto quanto informal, muitas vezes transmitida de pai para filho, as mulheres chegam à disputa da vaga com um grande diferencial. “A mulher precisa estudar mais para entrar no mercado, o que a torna mais dedicada e preparada”, afirma Camila Alhadeff, líder da ONG Mulher Em Construção.

Felizmente, cada vez mais mulheres estão interessadas em ingressar na construção. O aumento de matrículas femininas em cursos de engenharia aumentou de forma significativa.

Entre os anos de 2003 e 2015, o número de matriculadas passou de 24.554 para 57.002, ou seja, a alta foi de 132,23%. No entanto, a taxa de pessoas que conquistaram espaço no mercado de trabalho atingiu apenas 26,9%.

Construção Civil: a origem dos desafios que as mulheres ainda enfrentam neste setor

Na construção civil, o perfil da mulher pedreira é constituído por pretas, periféricas e chefes de família. A maioria não possui carteira assinada e realiza bicos e pequenos serviços para conseguir o sustento de sua família. Um dos principais desafios para mulheres que querem ingressar nesse mercado ou que buscam melhores cargos e salários é o machismo estrutural. Existem muitas linhas de estudo que elucidam por que, até os dias atuais, as mulheres têm menos espaço no mercado de trabalho em comparação aos homens. A Teoria da reprodução social é uma delas.

A socióloga britânica Sylvia Walby, autora do livro “Theorizing patriarchy”, compreende a influência do patriarcado em duas esferas: na família e no âmbito público. Com a ascensão do capitalismo, as mulheres passaram a vender sua força de trabalho. Porém, as demandas domésticas – que permitem a elas e a seus familiares continuarem saudáveis e produtivos – continuaram sendo vistas como atribuições femininas.

A professora Tithi Bhattacharya, da Universidade de Purdue (EUA), comenta em um de seus artigos: “Se a força de trabalho produz valor, como então a força de trabalho produz a si mesma?”. Esse pensamento tem relação com a Teoria da divisão sexual do trabalho: desde a antiguidade, algumas tarefas são designadas para mulheres ou homens apenas com base no sexo biológico.

A produção foi sendo organizada de tal forma que, até a metade do século XX, a única ocupação das mulheres eram os afazeres domésticos. Essa é a origem da divergência salarial entre homens e mulheres. Independentemente da área de atuação, o IBGE aponta que as mulheres ganham, em média, 20,5% menos que os homens no Brasil.

Quanto às funções braçais, especificamente, estudos de gênero e trabalho demonstram como as normas de gênero influenciam a forma como as atividades de trabalho são valorizadas e como as mulheres muitas vezes enfrentam barreiras e estereótipos.“Sabemos que o mercado é majoritariamente masculino e machista, então temos toda uma trilha que aborda questões como assédio, racismo e a dinâmica cotidiana” ressalta Camila Alhadeff.

No Brasil, políticas públicas e iniciativas para alcançar a equidade

O Projeto de Lei 5358/20, que ainda tramita no congresso, propõe tornar obrigatório ao responsável pela contratação de funcionários para uma obra destinar 5% das vagas disponíveis para mulheres.

Em Salvador, o “Marias na Construção”, programa feito por meio da parceria da Secretaria Municipal de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ) com o Senai Bahia, tem como objetivo aperfeiçoar, qualificar e capacitar mulheres para ingressarem no setor da construção civil.

Recentemente, em março de 2023, foi lançada na Câmara dos Deputados, a Frente Parlamentar de Fomento à Qualificação, Inclusão e Subsistência das Mulheres na Construção Civil. A meta é impulsionar a contratação de mulheres nesse setor.

“[A iniciativa] não se destina só a mulheres em situação de vulnerabilidade social e de baixa renda, que seriam o perfil ideal para compor a construção civil, quando a gente fala na atuação na ponta. Temos o objetivo de trazer a discussão de mais mulheres em postos gerenciais”, disse a deputada federal Rogéria Santos, durante o lançamento.

Criada em 2006, a ONG Mulher Em Construção, por sua vez, teve a sua criação em 2006, em função da gaúcha Bia Kern. O projeto, que promove a capacitação e formação de mulheres, auxiliou mais de 6 mil pessoas na conquista de um emprego na área.

 * Mariana Monteiro, jornalista especialista em Link Building e Digital PR na Hedgehog Digital.