Com o tema Novas tecnologias, eficiência e desburocratização:os caminhos para tornar a cadeia construtiva brasileira mais sustentável e inteligente, o congresso Construindo Conhecimento, voltado para profissionais da cadeia construtiva, reúne palestras exclusivas, convidados internacionais e muita troca de experiências.

Confira os destaques do primeiro dia!

Uso do Pavimento Urbano de Concreto cresce no Brasil e América do Sul 

O uso do Pavimento Urbano de Concreto (PUC) é uma alternativa ao pavimento flexível (asfáltico) que é vista como uma opção mais vantajosa para o uso em vias urbanas em cidades no Brasil e na América do Sul. O 2º Congresso Internacional de Pavimentos Urbanos de Concreto que aconteceu durante o congresso “Construindo o Conhecimento” apresentou casos do uso do PUC em projetos nas cidades de Campinas, Araçatuba, Bogotá e Barranquilla. 

Um dos casos abordados foi o projeto do empreendimento residencial Smart Urba Vila Profeta, localizado em Campinas (SP), que foi realizado sob o conceito de cidade inteligente pela Urba (empresa de desenvolvimento urbano da MRV), e utilizou o uso do pavimento de concreto nos 5,9 km de vias que interligam o condomínio.

“A escolha por esse tipo de pavimento para o empreendimento de conceito Smart começou pela questão da viabilidade econômica. Nossos estudos demonstraram uma economia de 10% no valor total de execução em relação ao pavimento flexível (asfáltico)”, afirmou o engenheiro Marcos Tonete, gestor executivo de Obras da Urba. Segundo ele, a previsão de entrega final do Smart Urba Vila Profeta é em dezembro de 2023.

Marcos destacou ainda que a opção pelo PUC também considerou o desenvolvimento urbano sustentável da cidade e a qualidade de vida para os moradores. “O pavimento de concreto proporciona a economia de energia, porque possibilita uma reflexão de luz até 30% maior melhor a luz. Também reduz em até 11 graus a temperatura superficial do pavimento e elimina o risco de aquaplanagem, uma vez que a texturização da via evita o acúmulo de lâminas d’água”, ressaltou o gestor executivo de Obras da Urba. 

Já o engenheiro colombiano Diego Jaramillo, diretor da Federación Iberoamericana del Hormigón Premezclado (FIHP), falou sobre o uso do PUC na capital da Colômbia, Bogotá, onde os 1.354 km de pista do sistema de ônibus BRT são do material e na cidade de Barranquilla, que possui mais de 80% da malha urbana feita com pavimento de concreto. 

Ele explicou que algumas características das cidades da Colômbia como a deficiências na gestão da água nas cidades, a exposição dos pavimentos a altas temperaturas e a alta no valor do asfalto que aumentou 100% nos últimos dois anos no país, comprovam que o uso do pavimento de concreto nestas condições é mais benéfico. “As vias de concreto são as preferidas na pavimentação comunitária. Barranquilla conta com o ‘Programa Barrios a la Obra’ que pavimentou com concreto 349 km de ruas em bairros da cidade em 15 anos”, comentou Jaramillo. 

Painel especial com as principais associações do setor

No primeiro dia do Concrete Show foi realizado um painel especial sobre a transformação no setor de construção civil, que contou com a participação da Íria Lícia Oliva Doniak, presidente executiva da Abcic (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), Julio Timerman, vice-presidente do Ibracon (Instituto Brasileiro do Concreto), Júlio Montardo, diretor da Anapre (Associação Nacional Pisos Revestimentos Alto Desempenho), Wagner Lopes, presidente da Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem). A mediação do painel ficou com o diretor do Núcleo de Energia e Infraestrutura da Informa Markets Latam, Hermano Pinto. 

O vice-presidente do Ibracon salientou que o Brasil sempre foi protagonista na cadeia produtiva de concreto com o desenvolvimento de estruturas que causam perplexidade na comunidade técnica internacional desde os anos 40. “Somos o único país no mundo com uma norma própria sobre o uso de concreto”, destacou Júlio. Ele, porém, explicou que a falta de incentivo de estudos e pesquisas sobre o uso racional de concreto provocou um atraso em um avanço maior nesta área.

Um dos pontos de atenção do setor, segundo ele, é a necessidade de redução na geração de resíduos. Um dos caminhos apontados pelo vice-diretor do Ibracon para atingir essa meta é o direcionamento de políticas públicas de habitação com o foco no desenvolvimento de projetos que utilizem sistemas construtivos industrializados. “Em 2022 foram consumidos no país cerca de 60 milhões de toneladas de cimento, sendo 70% deste total para obras de construção convencional e a autoconstrução, responsáveis por intensa geração de resíduos e desperdício de materiais”, afirmou Júlio. Neste sentido, o presidente da Abesc comentou sobre os benefícios do concreto dosado em central, levado para o canteiro de obras, que viabiliza separar a quantidade certa para aplicação, o que evita o desperdício do material.

Já o diretor da Anapre falou sobre a mais recente pesquisa realizada pela associação sobre o crescimento do uso de pisos de concreto no país. “São utilizados 43 milhões de m² de pisos de concreto por ano no Brasil, um crescimento que é consistente desde 2021. A perspectiva é seguir assim pelos próximos cinco anos”, comentou Montardo. 

Ele explicou que a evolução do piso de concreto está ligada diretamente às exigências e demandas do mercado consumidor deste material. “A automação e robotização nos centros de logística com o uso de novo sistemas digitais para a movimentação de cargas é um exemplo. O avanço neste mercado – um dos principais clientes de pisos de concreto – exige o desenvolvimento de pisos de maior qualidade”, disse o diretor da Anapre. 

Outra questão destacada neste painel foi a falta de mão de obra qualificada no Brasil. O presidente da Abesc comentou sobre a necessidade de renovação neste sentido. “Um estudo recente mostrou que a atual média de idade do trabalhador da construção civil é de 41 anos em São Paulo, em 2001 era 37 anos. A mão de obra do setor está envelhecendo, portanto, precisamos atrair a juventude para o nosso setor”, disse Lopes. 

A presidente da Abcic ressaltou o caminho percorrido pela associação desde 2009 para levar conhecimento ao poder público sobre os benefícios da construção industrializada com estruturas pré-fabricadas de concreto. Ela também pontuou as conquistas recentes do segmento, como o lançamento de um manual da construção industrializada e o programa Construa Brasil, baseado nos eixos de desburocratização, digitalização e a industrialização do setor da construção. O Construa Brasil foi lançado no ano passado e adotado pelo governo atual neste ano.

Energias renováveis para a indústria cimenteira

Um dos destaques deste ano da Concrete Show é a sustentabilidade, um tema de enorme relevância que vem ganhando cada vez mais espaço em pesquisas e soluções para a cadeia de concreto e construção do país. A aplicação da eficiência energética na construção civil foi um dos painéis de destaque do congresso ‘Construindo Conhecimento’ no primeiro dia do evento. 

“Muitos devem se perguntar qual a ligação que o tema energias renováveis tem com concreto, e eu digo que tem tudo a ver. O concreto e o aço lideram o ranking dos setores mais agressivos em relação à emissão de carbono, por isso, o tema é importante e precisa ser explorado”, explicou a moderadora do painel e diretora do Instituto E+ Energia, Rosana Santos. A diretora destacou a preocupação do Brasil na busca de soluções renováveis para a cadeia de construção, em especial a cimenteira. “O Brasil está à frente de muitos países, temos uma indústria cimenteira com baixa pegada de carbono. O nosso maior desafio é desenvolver mais projetos e levar essas tecnologias para o exterior”, ressalta.

Presente no encontro, o gerente técnico do Laboratório de Materiais para Produtos de Construção do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Fabiano Chotoli, apresentou alguns cases e soluções da qual o órgão vem trabalhando em cooperação com empresas, indústrias e organizações internacionais, especialmente sobre o hidrogênio verde. “Temos pesquisas muito avançadas sobre esse tema e é preciso destacar que o hidrogênio verde já é uma realidade na indústria cimenteira. Esse setor há anos se preocupa em mitigar as emissões de CO2 por diferentes vertentes”. Chotoli falou também sobre projetos exitosos do instituto, como a transformação química de escórias siderúrgicas para a fabricação de cimento.

Empreendimentos residenciais renováveis 

É sabido que o mundo corporativo vem investindo massivamente em pesquisa e aplicação de recursos renováveis em seus projetos, porém, as construtoras e incorporadoras focadas no mercado residencial também avançam nesse cenário. Durante o painel, o gerente de Meio Ambiente, Qualidade e Inovação da construtora EZTEC, Samuel Gosch, apresentou ao público exemplos de empreendimentos corporativos e residenciais feitos a partir de iniciativas verdes. 

A construtora foi a responsável pelo projeto EZ Towers, que está entre os prédios mais sustentáveis da América Latina e, recentemente, investiu no Residencial Parque das Cidades, focado também em eficiência energética. 

“Esse último empreendimento é para uso residencial e foi baseado totalmente em diretrizes sustentáveis. Um dos destaques é a coleta de lixo a vácuo, um modelo europeu que compacta os resíduos, ajudando assim na diminuição de CO2 e no volume de descarte. O prédio conta também com um sistema de irrigação inteligente, feito a partir da água de reuso. O uso de energia limpa e renovável é um conceito que avança agora também para o mercado residencial, inclusive apoiado e incentivado em algumas normativas elaboradas pelo governo, o que é muito positivo”. 

Senai participa do Concrete Show

Parceiro de longa data do Concrete Show, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) marcou presença na edição de 2023 do congresso “Construindo Conhecimento” para abordar a aplicação de tecnologias na construção civil e oportunidades de negócios para empresas de diferentes portes. 

O engenheiro e especialista em tecnologia do SENAI-SP, Vinícius Santiago, apresentou o painel “Grandes negócios por intermédio de pequenas empresas na construção civil”, no qual destacou a importância da cadeia de fornecedores e de pequenos negócios dentro dos grandes empreendimentos nacionais. 

“Em 2022, oito em cada dez empregos foram gerados em pequenas empresas e a construção liderou esse ranking. É importante nos atentarmos a isso, pois as grandes obras são feitas a partir da junção de várias empresas que prestam diferentes serviços dentro do projeto, como empreiteiras, especialistas em elétrica, hidráulica, designer e diversas outras áreas”, explicou aos congressistas. 

Santiago listou ainda recentes obras de destaque executadas no Brasil e suas tecnologias empregadas, como a Arena MRV, o Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein e o edifício Yacht House, que, em sua maioria, utilizaram recursos como Building Information Modeling (BIM) em sua execução. 

Conforme o painelista, a construção civil é um dos setores menos digitais da atualidade. “Temos hoje a capacidade de aumentar nossa produtividade no segmento em até 50%, desde que implementadas as tecnologias necessárias. É uma questão cultural que precisa ser debatida e ampliada”, explica. 

Tendências mundiais – O SENAI monitora e avalia as principais atualizações e tendências tecnológicas no mundo. Segundo a entidade, conectividade, integração, uso de drones, adoção de óculos de realidade virtual, rastreabilidade, construção modular, BIM 360 e operação de equipamentos de forma remota são algumas das novidades que estão ganhando cada vez mais espaço no mercado e favorecendo a implantação de canteiros de obras inteligentes. 

Para acelerar esse processo de evolução, a especialista em tecnologia do SENAI-SP, Ludy Milla, apresentou os detalhes do projeto Jornada de Transformação Digital na Construção Civil, uma iniciativa dedicada a fornecer assessoria técnica para pequenas e médias empresas ligadas à cadeia. O Senai participa todos os dias do Concrete Show 2023. As empresas interessadas podem procurar pelo estande da entidade no evento.